"Temos esta Esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus que nos precedeu, entrou em nosso lugar..." (Hebreus 6.19,20a)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

RELIGIÃO DO CAMINHO por Josias Bezerra da Silva

Jesus disse: "Eu sou o caminho”. Ele não se apresentou como refúgio, nem como oásis, nem como estação de chegada, mas como lugar existencial e espiritual de movimento, de trânsito.

Quem busca em Jesus um oásis, se vê obrigado a fabricar ídolos para manter seu território, seu status quo. Ai nascem os dogmas, a intolerância, o exclusivismo, os jogos de poder, as guerra tribais.

O caminhante nada leva além de sua mochila. "Tomem sobre vocês o meu fardo, porque o meu fardo é leve..." Quem toma sobre os ombros um fardo, mesmo sendo o de Jesus, não se assenta permanentemente em um oásis. Está no caminho e faz da caminhada sua profissão, sua vocação.
Quando tem de parar, considera que está apenas numa estação de revisão... Um breve descanso. Sua inquietação natural, sua inconformação com estruturas prontas e imutáveis, não o deixa quieto. Ele prefere ser "essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo."
Então, ele retoma o caminho... Ali, caminhando, ele sente a presença de seu mestre invisível.

E quando tem de passar pelo inevitável "vale da sobra da morte", não recua, porque sua mente já foi suficientemente preparada pela afirmação do ser diante da possibilidade do não-ser: "Não temerei mal algum..."

Caminhante e caminho se misturam, se afetam reciprocamente e se tornam inseparáveis.Essa mútua afetação é a religião verdadeira que se abre às profundezas insondáveis do Eterno e ao "eterno agora”. Por isso, ele não se cronifica no luto, nem antecipa as dores do amanhã: "Basta a cada dia o seu mal."
O caminhante é um louco, dizem. Porque ele renuncia a aparente segurança dos altares. Um altar tem uma estrutura imutável. Representa uma experiência, é verdade, mas não pode ser elevado à categoria de absoluto. Isso é idolatria. Quem gravita em torno de altares, adora sempre um Deus morto.

"Deus está morto! Os Homens o mataram!" Gritava o caminhante louco Nietzcheano. E estava certo.

O caminhante recusa-se a ser idolatra. Prefere a incerteza de como será a próxima face de Deus a caminhar com a imagem divina que algum santo do passado fabricou.

O caminhante sabe que cada encontro com Deus produz uma experiência nova e diferente.

Ausência e presença de Deus são duas faces desse encontro. O desespero da ausência produz a alegria da presença.
Em trânsito, o caminhante se transforma. Ele não se conforma. Conformar-se é entrar numa fôrma e adquirir uma forma. Transformar-se é abrir-se à uma multiplicidade de formas, pela constante renovação da mente (Rm. 12:2).

O caminhante tem pavor de cânones. Ele sabe que a vida se fossiliza e os homens se digladiam nesse ring.

O caminhante não carrega bandeiras. Ele sabe que as cores competem, estimulam as disputas, produzem exércitos rivais e anulam a solidariedade.

O caminhante não aceita ser juiz. Ele não critica uniformes diferentes. Não reserva tempo para discussões sobre "quem é o maior no reino dos céus”.
O caminhante não tem uma religião. Ele sabe que a verdadeira religião não é uma propriedade, mas uma vivência: "O reino de Deus está dentro de vocês" (Lc. 17:21).

O caminhante não admira templos. Ele sabe que é um templo ambulante. Os templos de tijolos e areia se tornaram covas escuras de excusas intenções.

Finalmente, o caminhante sonha em encontrar e ajudar a nutrir uma comunidade de caminhantes: a igreja do caminho.






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O $HOW TEM QUE PARAR!

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