"Temos esta Esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus que nos precedeu, entrou em nosso lugar..." (Hebreus 6.19,20a)
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sexta-feira, 6 de outubro de 2023

TESTEMUNHE DAS BOAS NOTÍCIAS SOBRE JESUS


E disse-lhes: “Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas."

Jesus em Marcos 16.15

Pouco antes de Jesus deixar a terra e subir aos céus, Ele ajuntou Seus discípulos que estiveram com Ele nos últimos três anos. Enquanto estavam sentados em volta de uma mesa partilhando o pão, Jesus os comissionou a continuar o trabalho que Ele havia começado (Lucas 24.35-53).

Jesus havia passado todo o Seu ministério proclamando e mostrando com grande poder a chegada do Reino de Deus. A resposta correta a este santo anúncio seria que as pessoas abandonassem seus velhos caminhos e cressem em Jesus como o Senhor das suas vidas, do mundo natural e também do espiritual. Jesus é Criador junto com o Pai, e Deus o fez Senhor absoluto de tudo que há - do que vemos e do que não vemos.

As primeiras palavras de Jesus no Evangelho de Marcos estão no capítulo 1:15, e elas anunciam a chegada do Reino de Deus: "ARREPENDAM-SE E CREIAM NO EVANGELHO!" E também suas últimas palavras para os Seus discípulos, começando em Marcos 16:15, reforçam Seu primeiro anúncio, mas agora nos dão a razão e o propósito da Igreja: Sua missão é fazer discípulos de Jesus que fazem discípulos de Jesus...

O chamado que Jesus nos deixou foi para continuar a contar aos outros as boas novas do Evangelho, vivendo sob o Seu senhorio, e mostrando com a nossa vida o que significa padecer pelo Evangelho para ganharmos a Vida abundante que Ele nos prometeu. Ele disse que rios de águas-vivas fluiriam dos que viessem a Ele com sede de Deus (João capítulos 7 e 8).

Estas boas novas são que embora o nosso pecado tenha nos separado de Deus, uns dos outros, de nós mesmos (do nosso verdadeiro eu, que sempre esteve em Cristo), e do mundo criado -
Jesus encarna (deixa a Sua habitação celestial e se torna homem), vive por 30 anos como gente do seu tempo (mas sem pecado algum), e logo após seu batismo nas águas do rio Jordão inaugura o Reino de Deus entre nós. E através da Sua morte e da Sua ressurreição prova definitivamente que é o Filho de Deus, o Ungido prometido!

Deus deu Seu único Filho para que tivéssemos diante de nós um novo e vivo caminho que só Ele abriu. Rasgando o véu de cima abaixo, Deus nos deu a oportunidade de uma nova vida nEle. 
Essa nova vida é obra do Espírito Santo de Deus!

Essa missão de evangelizar, ou falar de Jesus para os outros, é o que Ele ensinou aos Seus primeiros discípulos (mais tarde os chamou de 'amigos'- João 15.5). Pouco antes de Jesus voltar ao Pai, Ele ordenou que Seus seguidores continuassem o Seu trabalho de proclamar o Evangelho, testemunhando (martírios) com suas vidas o que viram e ouviram. As suas experiências reais com o Deus vivo - Cristo Jesus, e tudo que Ele fez, dando-lhes também AUTORIDADE pra continuar fazendo: destruir as obras de satanás, fazendo o bem por onde for! 

Viver com Jesus, fazendo a Vontade do Pai e cumprindo a Sua missão, me lembrou daquele hino/Oração antiga que a tradição atribui a Francisco de Assis (Giovanni seu nome de batismo, João em português):

"Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz."

Contar aos outros sobre o que Jesus fez para redimir e salvar a humanidade é uma das coisas mais importantes que podemos fazer com o nosso tempo. Para Gente como você e eu foi nos dada a maior dádiva de todas: uma vida eterna com Deus que começa aqui e agora - e será plena quando Jesus vier em Glória novamente.

Esse dom que recebemos gratuitamente está disponível graciosamente para o restante do mundo também - vide João 3.16 - para tantos quantos Deus quiser chamar. Porém Ele não usa anjos para proclamar as boas novas de Jesus, e sim pessoas que foram transformadas pelo Poder do Evangelho!

Então tire um tempo hoje para orar por aqueles em sua vida que não conhecem a esperança e salvação que Jesus provê. Agradeça por sua salvação, mas também ore por oportunidades para compartilhar sua fé com eles. O amor de Deus demonstrado em Jesus é tremendo, e tem um poder de transformar o mais vil dos pecadores em um filho amado de Deus. 

Falar de Jesus para os outros não significa só ter que ficar numa esquina gritando, ou chamá-los para um culto, mas significa que você deve buscar conversas intencionais e atenciosas com as pessoas, desenvolvendo verdadeiras amizades para sermos benção de Deus, o sal e a luz de Cristo na vida de todos. E quando contamos a elas sobre a nova vida e o novo Reino disponível, damos continuidade a obra que Jesus nos confiou a fazer.

Lembre-se o que Jesus disse e prometeu:

"Jesus lhes disse: "Vão ao mundo inteiro e anunciem as boas-novas a todos. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem se recusar a crer será condenado" (Marcos 16:15‭-‬16).

E em Mateus Jesus fala da Sua total autoridade, nossa missão, e Sua promessa de Companhia em cada passo nosso, enquanto estivermos no propósito de levar Seu doce Nome por onde formos:

"Jesus se aproximou deles e disse: “Toda a autoridade no céu e na terra me foi dada. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinem esses novos discípulos a obedecerem a todas as ordens que eu lhes dei. E lembrem-se disto: estou sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mateus 28.18‭-‬20).

Devocional YouVersion adaptado por BM
...

Sobre o mesmo tema, com outra perspectiva:

domingo, 28 de janeiro de 2018

NOSSA ESQUIVA por A W Tozer

NOSSA ESQUIVA- DIA A DIA com Tozer
"Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros."
Jesus em João 13.14


O senhorio de Jesus nao está completamente esquecido entre os cristãos, porém, foi relegado aos nossos hinários, onde toda a responsabilidade relacionada a Ele pode ser confortavelmente descarregada no calor de uma emoção religiosa. 


A ideia de que o homem Cristo Jesus tem autoridade plena e final sobre todos os membros de Sua Igreja, em cada detalhe de suas vidas, simplesmente não é aceita como verdadeira pelos cristãos evangélicos comuns.

Para evitar a necessidade de obedecer ou rejeitar as claras instruções de Senhor no Novo Testamento, nós nos refugiamos em uma interpretação liberal dessas instruções. Encontramos maneiras de evitar o tenaz confronto da obediência, de consolar a carnalidade e tornar as palavras de Cristo ineficazes.E a essência de tudo é que "Cristo simplesmente não quis dizer o que disse". 

Ousaremos admitir que Seus ensinos são aceitos, ainda assim teoricamente, apenas após serem enfraquecidos pela "interpretação"? 

Ousaremos confessar que, mesmo em nossa adoração pública, a influência do Senhor é muito pequena? Cantamos sobre Ele e pregamos sobre Ele, mas Ele não deve interferir!

Amado Senhor, precisco admitir que houve momentos em que ignorei convenientemente as claras instruções de Tua Palavra. Ajuda-me a andar na Tua Vontade hoje!

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

AS FERIDAS LEAIS DE UM AMIGO por Ricardo Barbosa


Alguns meses atrás, marquei com um amigo para passarmos um tempo juntos, conversando e orando. Durante nossa conversa, abri meu coração, compartilhei com ele minhas frustrações, cansaço, desânimo e tristeza. Depois de me ouvir com atenção, voltou-se para mim e disse que o meu problema não eram os outros, nem meus planos que não deram certo, mas eu mesmo. Disse quanto eu era orgulhoso e que minhas frustrações refletiam a decepção que eu nutria para comigo mesmo. A conversa foi dura e longa.

Depois da decepção por não ter ouvido o que eu gostaria de ouvir, agradeci a Deus por aquele irmão ter tido a coragem de me alertar para o abismo no qual eu estava entrando. Sua honestidade e amor deram-lhe a coragem moral de não hesitar em me ferir. Pude perceber que minhas frustrações, fruto do meu orgulho, prejudicavam não só a mim, mas todos à minha volta. O sábio de Provérbios diz: “Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos” (Pv 27.6). Todos nós precisamos de amigos leais que tenham a coragem de nos ferir, porém, numa cultura politicamente correta e hipersensível a críticas, abandonamos as palavras sinceras e verdadeiras e as trocamos por bajulações vazias e falsos elogios.

Uma das marcas da amizade de Jesus com seus discípulos foram suas “palavras duras” dirigidas a eles. Ele não caminhou com seus discípulos proferindo apenas palavras suaves, doces e afirmativas. Jesus foi capaz de dizer “arreda de mim Satanás…” a Pedro, um dos seus discípulos mais próximos. Recomendou ao jovem rico que doasse todos os seus bens aos pobres. Àqueles que queriam segui-lo, disse que deveriam abandonar pai, mãe, mulher, filhos irmãos e a própria vida. Jesus encorajou seus seguidores com palavras consoladoras, porém nunca abandonou as palavras duras e jamais hesitou em ferir seus discípulos, para o bem deles. Por isso mesmo Jesus os chamou de “amigos”.

Quando pensamos em amizade, pensamos em pessoas por quem naturalmente temos grande empatia, que gostam das mesmas coisas que gostamos e pensam do mesmo jeito que pensamos. Procuramos pessoas que nos confortem em tempos difíceis, encorajem nos momentos de dúvida e nos apoiem em nossos planos e projetos. No entanto, sabemos que amizade é mais do que isso.

Sabemos que poucas pessoas se importam, de verdade, com nossa alma. Poucos têm a coragem de colocar em risco sua imagem pessoal ferindo nosso orgulho pelo bem da verdade e da eternidade. Muitos beijos e abraços são enganosos e têm o potencial de nos fazer acreditar naquilo que não somos; mesmo aqueles que são sinceros podem nos afastar de Deus e da salvação. Amigos que fazem as perguntas difíceis, que se importam com nossa vida, com o risco de nos perdermos em nossos pecados e enganos, que preferem nos ferir a nos ver perdidos e confusos, são os verdadeiros amigos.

Encontramos nos Evangelhos um exemplo real de amizade. Jesus via seus discípulos como pessoas que lhe haviam sido confiadas por Deus. Por isso ele os repreendeu, exortou, foi firme e duro e, ao mesmo tempo, compassivo e misericordioso. Jamais abriu mão de sua lealdade e buscou, em todo tempo, conduzir seus amigos ao conhecimento de Deus e à vida eterna.

Sou grato a Deus pelos amigos que me ferem, pelas perguntas difíceis e reveladoras. Sou grato a Deus por aqueles que preferem mais ser leais a ser simpáticos, que se importam mais comigo do que com sua imagem, que zelam pela minha eternidade e não por um breve e frágil momento de descontração.

• Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de, entre outros, A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja e Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas. http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/363/as-feridas-leais-de-um-amigo

quinta-feira, 17 de julho de 2014

ONDE ESTÁ O AMOR, DEUS TAMBÉM ESTÁ por Liev Tolstói

Havia numa cidadezinha um sapateiro chamado Mikail Avdeievitch. Morava num porão cuja única janela dava para a rua, na altura do chão. Embora visse apenas os pés de quem passava pela rua, Mikail conhecia todas as pessoas pelos sapatos que usavam. Como já era velho e competente em seu trabalho, era raro um par de botas que não houvesse passado por suas mãos, fosse para um remendo, uma meia-sola ou para colocar um novo cano. Assim, era comum ver passar pela janela uma obra sua.

Mikail estava sempre muito ocupado, pois trabalhava com perfeição, usava material de boa qualidade, não cobrava caro e entregava no prazo prometido. Por isso todos o estimavam e nunca lhe faltava serviço.


Sempre fora um homem bom mas, ao envelhecer, começou a se preocupar com sua alma e queria se aproximar de Deus. Sua mulher tinha morrido quando ele ainda era aprendiz, deixando um filho de três anos. Haviam tido outros filhos antes, mas todos tinham morrido. Ao se ver só com o menino pensou em mandá-lo para a casa de um tio, na aldeia, mas ponderou: “Será muito triste para o pequeno Karp viver longe de mim. É melhor ficar mesmo comigo”.

Pouco tempo depois, despediu-se do patrão e abriu sua própria oficina. Deus, porém, não velava muito por seus filhos. Quando o que lhe restara se tornou rapaz e começou a ajudá-lo, adoeceu e morreu em uma semana.

Mikail enterrou o filho. A perda feriu-lhe de tal modo o coração que chegou a murmurar contra a justiça divina. Sentia-se tão infeliz que implorava a Deus que lhe tirasse também a vida. Censurava o Senhor por não levar a ele, que já era velho, em lugar do filho único tão querido, e deixou de ir à igreja.

Um dia, na época da Páscoa, chegou à casa do sapateiro um conterrâneo seu que há oito anos percorria o mundo como peregrino. Conversaram muito tempo e Mikail se queixou amargamente da sua desgraça.

- Perdi o desejo de viver, agora só espero a morte. Peço a Deus que me leve, pois não tenho mais ilusões na vida.

- Não fale assim, Mikail. Os homens não devem julgar a vontade do Senhor, pois suas razões estão acima do nosso entendimento. Se Ele decidiu que seu filho morresse e você vivesse, tem que ser assim. Você se desespera porque só quer viver para sua própria felicidade.

- E para que viver, se não para isso? - perguntou o sapateiro.

- É preciso viver para Deus. É ele quem dá a vida e para ele devemos viver. Quando entender isso, seu sofrimento terminará e você suportará tudo com paciência e resignação.

Mikail ficou calado por um momento, e disse:

- E como se vive para Deus?

- Como Cristo ensinou. Você sabe ler? Pode aprender nos Evangelhos. Na Sagrada Escritura você encontrará resposta para todas as perguntas.

Essas palavras calaram fundo no coração de Mikail. No mesmo dia comprou um exemplar do Novo Testamento, impresso em letras bem grandes, e começou a ler.

Pretendia pegá-lo somente nos dias de folga, mas o texto lhe trazia tal consolo à alma que foi adquirindo o hábito de ler algumas páginas todos os dias. Às vezes se entretinha de tal modo que só deixava o livro quando o óleo da lâmpada terminava.

Lia todas as noites. À medida que progredia na leitura, ia compreendendo com maior clareza o que Deus exigia, como viver para Deus, e a alegria penetrava docemente em sua alma.

Acostumado a ir se deitar gemendo e suspirando com a lembrança dos filhos, agora dizia:

- Glória a Deus, glória ao Senhor, pois essa foi a sua vontade.

A vida do sapateiro transformou-se completamente. Antes, nos dias de festa, ia para a taberna tomar chá e, por vezes, um gole de vodca com os amigos. Nessas ocasiões saía da taberna não propriamente embriagado, mas um tanto eufórico, e dizia bobagens, chegava a insultar quem encontrava no caminho.

Agora tudo mudara. Sua vida transcorria em harmonia e paz. Punha-se a trabalhar ao amanhecer e, terminado o dia, colocava a lâmpada sobre a mesa, tirava o livro da prateleira e sentava-se para ler. Quanto mais lia, melhor compreendia e uma suave serenidade envolvia-lhe a alma.

Uma noite estendeu a leitura até bem tarde e, chegando ao capítulo VI do Evangelho de São Lucas, encontrou os seguintes versículos:

“Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. Ao que te tirar o manto, não o impeças de levar também a túnica. Dá a todo aquele que te pede; e ao que leva o que é teu, não lhe tornes a pedir. O que quereis que vos façam os homens, fazei-o também a eles”.

A seguir, leu que o Senhor disse:

“Por que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos digo? Todo aquele que vem a mim, que ouve minhas palavras e as põe em prática, eu vos mostrarei a quem ele é semelhante. É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou profundamente e pôs os alicerces sobre a rocha. Vindo uma inundação, investiu a torrente contra aquela casa e não pôde movê-la, porque estava bem edificada. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou a sua casa sobre a terra, sem fundamentos. Investiu a torrente contra ela e logo caiu, e foi grande a ruína daquela casa.”

Ao ler essas palavras, seu coração se inundou de alegria. Deixou os óculos sobre o livro e apoiou os cotovelos na mesa, imerso em reflexão. Comparou seus próprios atos a essas palavras, e disse:

- Minha casa está fundada sobre rocha ou sobre areia? Seria bom se estivesse apoiada na rocha. A felicidade nos domina quando estamos em paz com a consciência, procedendo como Deus quer. Quando nos esquecemos de Deus podemos cair outra vez em pecado. Continuarei como estou, pois sinto que é bom. Que Deus me proteja!

Mergulhado nesses pensamentos, resolveu ir se deitar. Mas relutava em largar o livro e começou o sétimo capítulo. Leu a história do centurião, a do filho da viúva e a resposta de Jesus aos discípulos de São João. Chegou ao trecho em que o rico fariseu convidou Jesus para ir à sua casa, onde a pecadora ungiu-lhe os pés e os lavou com suas lágrimas e Ele perdoou-lhe os pecados, e leu ainda:

“E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, não me deste água para os pés; ela, com as suas lágrimas me banhou os pés, e enxugou-os com os cabelos. Não me deste o ósculo da paz; porém ela, desde que entrou, não cessou de beijar os meus pés. Não ungiste minha cabeça com bálsamo, porém esta ungiu com bálsamo os meus pés.”

Ao ler esse versículo, Mikail pensou: “Não lhe deu água para os pés, não o beijou, não ungiu a cabeça dele com bálsamo...” Tornou a tirar os óculos, colocou-os sobre o livro e voltou às reflexões. “Aquele fariseu deve ter sido como eu. Ele também só pensava em si mesmo - tomar o seu chá, estar agasalhado, confortável, nem um pensamento para o hóspede. Cuidava de sua vida e nem pensava no conforto do convidado. E quem era esse convidado? O próprio Deus! Se Ele viesse me visitar, eu faria a mesma coisa?”

Mikail apoiou a cabeça nos braços cruzados sobre a mesa e, sem se dar conta, adormeceu.

- Mikail! - disse uma voz de repente, sussurrando em seu ouvido. Despertou assustado. - Quem é? - perguntou.

Olhou em volta, olhou para a porta, não viu ninguém. A voz tornou a chamar, desta vez com mais clareza.

- Mikail, Mikail! Olha para a rua amanhã, pois eu virei.

Mikail levantou-se da cadeira, esfregando os olhos, sem saber se ouvira as palavras num sonho ou acordado. Apagou a lâmpada e foi dormir.

No dia seguinte levantou-se antes do amanhecer, fez suas orações e acendeu o fogo para preparar a sopa de repolho e o mingau. Mantendo acesa a chama do samovar, vestiu o avental e sentou-se junto à janela para trabalhar.

Não conseguia afastar o pensamento do que acontecera na véspera, sem saber se fora uma alucinação ou se alguém falara realmente.

- São coisas que acontecem na vida - disse a si mesmo.

Continuava a trabalhar, espiando de vez em quando pela janela e, quando passavam botas desconhecidas, levantava-se para ver o rosto da pessoa.

Passou um carregador calçando botas novas de camurça, passou um velho soldado do tempo de Nicolau, com botas de cano alto tão velhas e remendadas quanto ele próprio. Esse soldado chamava-se Stepanovitch. Morava na casa de um comerciante da vizinhança, que o acolhia por caridade. Para dar-lhe uma ocupação condizente com a idade avançada, encarregara-o de ajudar o porteiro.

Stepanovitch parou em frente à janela e, com uma pá, começou a tirar a neve da rua. Mikail olhou para ele e continuou a trabalhar.

- Sou mesmo um tolo - disse ele, rindo de si mesmo. - Stepanovitch está limpando a neve e imagino que Cristo vem me visitar. Estou delirando. Estou louco.

Mal tinha dado dez pontos, porém, voltou a olhar pela janela e viu a pá encostada à parede e o velho soldado tentando se aquecer. “Esse infeliz está muito velho - pensou Mikail. - Já não tem forças para tirar a neve. Uma xícara de chá lhe faria bem. E o samovar está fervendo.”

Cravou a sovela no tamborete, levantou-se, pôs o samovar na mesa, colocou mais água e deu uma pancadinha na janela. Stepanovitch virou-se. Mikail fez-lhe um sinal e foi abrir a porta.

- Entre. Venha se aquecer, você deve estar com frio.

- Valha-me Deus! Muito frio! Os ossos chegam a doer - disse o velho.

Sacudiu a neve dos pés, para não sujar o chão e quase caiu ao entrar, tão trôpego estava.

- Não se preocupe com a neve nos pés. Vou ter mesmo que varrer o chão; não faz mal sujá-lo. Venha, vamos tomar um chá.

Mikail serviu duas xícaras de chá escaldante e deu uma ao hóspede. Derramou um pouco no pires e soprou para esfriá-lo.

Ao terminar, o soldado colocou a xícara emborcada no pires e, em cima dela, o resto do tablete de açúcar. Agradeceu ao sapateiro, mas estava claro que tomaria de bom grado mais uma xícara do chá quente.

- Tome mais - disse Mikail, enchendo de novo as duas xícaras. A cada gole, olhava pela janela.

- Está esperando alguém? - perguntou o convidado.

- Se estou esperando alguém? Tenho vergonha de dizer a quem espero. Nem sei se tenho razão para esperar ou não, mas ontem à noite ouvi uma coisa que não me sai da cabeça. Se foi verdade ou fantasia, não sei. Sabe, meu amigo, ontem à noite eu estava lendo o Evangelho... Jesus sofreu muito entre os homens! Já ouviu falar nisso, não?

- Sem dúvida, já ouvi falar, mas sou ignorante, não sei ler...

- Pois eu estava lendo a história de Jesus na Terra e cheguei à parte em que ele foi à casa de um fariseu que não o recebeu bem... Depois fiquei pensando como seria possível não receber bem Jesus Cristo. Se acontecesse a mim, nem sei o que faria em sua honra! Mas o fariseu não o tratou bem. Enquanto pensava nessas coisas, adormeci. De repente, ouvi alguém dizer meu nome. Acordei, e parecia que alguém sussurrava: “Espere, que eu virei amanhã.” Disse duas vezes seguidas. E por incrível que pareça, apesar de ter vergonha de acreditar nisso, estou esperando a visita do Senhor!

O soldado balançou a cabeça sem nada dizer, terminou de beber o chá e emborcou a xícara, mas Mikail tornou a enchê-la.

- Tome mais, o chá faz bem. Acho que o Senhor nunca rejeitou ninguém, quando andava pelo mundo. Andava com os humildes, visitava os pobres. Os discípulos eram gente simples como nós, pescadores, artesãos. “O que se exalta será humilhado e o que se humilha será exaltado... Chamais-me Senhor e eu vos lavo os pés; aquele que quiser ser o primeiro deve ser o servidor dos demais. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.”

Stepanovitch tinha esquecido sua xícara de chá. Era um velho sensível. Ouvindo as palavras de Mikail, as lágrimas corriam pelo seu rosto.

- Vamos, tome mais - disse o sapateiro.

O soldado fez o sinal da cruz, agradeceu e, afastando a xícara, se pôs de pé.

- Agradeço muito, Mikail por me receber tão bem, satisfazendo ao mesmo tempo meu corpo e minha alma.

- Estou sempre ao seu dispor. Venha sempre que quiser, tenho prazer em recebê-lo.

- Quando Stepanovitch saiu, Mikail terminou seu chá e voltou a se sentar junto à janela para trabalhar.

Enquanto costurava, espiava pela janela pensando em tudo o que tinha lido, em tudo o que Jesus dissera.

Passaram dois soldados; um calçava botas do Governo e o outro botas dele mesmo. Depois passou um nobre de galochas e, em seguida, um padeiro carregando um cesto.

Apareceu uma mulher em meias de lã e sapatos de camponesa. Passou em frente à janela e encostou-se à parede. Através da vidraça, Mikail olhou para aquela desconhecida com uma criança nos braços, de costas para o vento. Em vão procurava abrigar a criança, pois não tinha com que envolvê-la. Apesar do frio, a mulher usava roupas de verão, velhas e gastas.

Junto à janela, Mikail ouvia o choro do bebê e via os inúteis esforços da mãe para consolá-la. Levantou-se, abriu a porta e, indo até a rua, gritou:

- Ei, ei, você! Está ouvindo?

A mulher voltou-se para ele.

- Não fique aí nesse frio com a criança. Entre aqui. Pode aquecê-lo melhor aqui dentro. Entre...

A mulher olhou, surpresa, aquele velho de avental e óculos na ponta do nariz que lhe fazia sinais para entrar, mas aceitou.

Desceram os degraus até o pequeno cômodo.

- Venha, sente-se aqui, junto ao fogão. Venha se aquecer para dar de mamar ao menino.

- Não tenho mais leite. Não como nada desde a manhã - disse a mulher, dando mesmo assim o peito à criança.

O sapateiro olhou para o outro lado. Pegou na mesa um pedaço de pão e uma tigela, foi ao fogão e encheu a tigela de sopa. Vendo que o mingau ainda não estava bem cozido, cobriu a mesa com uma toalha, pôs os talheres e serviu só a sopa e o pão.

- Sente-se, venha comer. Eu cuido do menino. Também já tive filhos, sei lidar com crianças.

A mulher fez o sinal-da-cruz, sentou-se à mesa e começou a comer. Mikail deitou o menino na cama e sentou-se ao lado. O menino chorava e Mikail fingiu ameaçá-lo, levando o dedo ao rostinho, mas sem tocá-lo, porque sua mão estava suja de alcatrão. Atento ao movimento do dedo, o bebê parou de chorar e começou a rir.

Enquanto comia, a mulher contou de onde vinha.

- Meu marido é soldado, mas faz oito meses que o levaram e não tenho notícias dele. Trabalhei como cozinheira, mas depois que o bebê nasceu não me quiseram mais. Não trabalho há três meses; já gastei tudo o que tinha. Tentei ser ama-de-leite, mas dizem que estou muito magra e não me aceitam. Fui à casa de uma mulher, onde minha filha trabalha, e me prometeram trabalho, mas só daqui a uma semana... Ela mora muito longe. Fiquei muito cansada e o bebê também. Minha patroa teve pena de mim e nos deixa dormir na casa dela, graças a Deus. Senão, não sei o que seria de nós.

- Não tem uma roupa mais quente? - perguntou o sapateiro.

- Não. Empenhei meu último xale de lã ontem, por vinte copeques.

A mulher foi até a cama pegar a criança. Mikail procurou entre as roupas penduradas na parede e encontrou um velho manto de lã.

- Tome. Está bem usado, mas serve para aquecer.

A mulher olhou para o agasalho, olhou para o sapateiro e, pegando o presente, desatou a chorar. Comovido, Mikail abaixou-se e pegou um bauzinho que estava sob a cama. Remexeu no baú e sentou-se diante da mulher.

- Deus lhe pague - ela disse. - Foi Ele quem me trouxe à sua janela. Não estava tão frio quando saí, mas agora meu filho estava quase congelando. Foi Deus que fez você olhar pela janela e ter compaixão de nós.

Mikail sorriu.

- Sim, foi Deus. Não olhei por acaso - e Mikail contou à mulher que ouvira a voz dizer que Jesus viria à sua casa.

- Tudo pode acontecer - disse ela, levantando-se.

Pegou o manto, enrolou o menino e agradeceu, inclinando-se diante do sapateiro.

- Tome isso, em nome de Deus - ele disse, passando à mão dela uma moeda de vinte copeques. - É para resgatar seu xale.

A mulher fez o sinal-da-cruz. Mikail imitou o gesto e acompanhou-a até a porta.

Depois da sopa, Mikail voltou ao trabalho. Enquanto manejava a sovela, espiava a rua. A cada vulto que se aproximava, levantava os olhos para ver quem era. Alguns eram conhecidos, outros não.

A certa altura, uma velha vendedora de maçãs parou em frente à janela. Restavam poucas maçãs na cesta; certamente já vendera a maior parte. Ela carregava nas costas um saco de gravetos que devia ter apanhado perto de alguma carvoaria e agora levava para casa. Parecia que o ombro lhe doía ao peso do saco e queria trocá-lo de lado. Deixou a cesta no vão da janela e pôs o saco no chão. Enquanto se ocupava em ajeitar os gravetos dentro do saco, apareceu um garoto e roubou uma das maçãs. Antes que conseguisse fugir, a velha agarrou-o pela manga. Ele se debatia, tentando escapar, mas a velha arrancou-lhe o gorro e puxou seus cabelos. O garoto gritava e a velha estava furiosa.

Sem perder tempo em fincar a sovela, Mikail largou-a no chão e correu para a porta. Subiu os degraus aos tropeções, seus óculos caíram na correria e ele chegou à rua. A mulher batia no menino e puxava seus cabelos, ameaçando entregá-lo à polícia. O garoto continuava a se debater, negando o furto da maçã.

- Não tirei nada! Por que está me batendo? Me solte!

- Mikail separou os dois, segurou a mão do menino e disse:

- Solte-o. Perdoe o menino.

- Perdoar? Ele nunca vai se esquecer de mim. Vou levá-lo à polícia agora mesmo! Ladrão!

- Por favor, solte o menino. Ele não vai mais fazer isso. Deixe-o, em nome de Cristo.

A velha soltou o garoto. Antes que ele saísse correndo, Mikail segurou-o.

- Peça perdão e nunca mais faça isso. Eu vi você pegando a maçã.

O menino começou a chorar e pediu perdão, soluçando.

- Não chore. Tome, eu dou essa maçã para você - disse Mikail, tirando uma maçã da cesta e entregando-a ao menino.

- Está mimando demais esse ladrãozinho - disse a velha. - Seria melhor dar-lhe uma surra para ele se lembrar a semana inteira.

- Nós pensamos assim, mas Deus não nos julga assim. Se é certo surrar esse menino por causa de uma maçã, o que Deus terá que fazer conosco por causa de nossos pecados?

A velha ficou calada. Então Mikail contou-lhe a parábola do Senhor que perdoou a dívida do servo e o mesmo servo quis esganar um devedor. A velha e o menino ouviam, quietos.

- Deus nos ensina a perdoar - disse Mikail - para sermos perdoados. Perdoar a todos, e mais ainda a um garoto sem juízo.

A velha concordou com um aceno de cabeça e suspirou.

- É verdade - ela disse - mas eles estão muito mal-educados.

- Então nós, mais velhos, devemos educá-los melhor.

- Eu sempre achei - ela concordou. - Eu tive sete filhos, e só resta uma filha - e a velha contou que morava com a filha e os netos. - Já estou velha e fraca, mas trabalho muito para cuidar dos meus netos. São crianças lindas! Tão carinhosos comigo! Aksiutka, então, só quer ficar comigo. É só “vovozinha, vovozinhaquerida” - enquanto falava ia ficando comovida.

- Claro que foi só criancice - ela disse, referindo-se ao garoto. - Vai com Deus, meu filho.

Estava prestes a pôr o saco no ombro quando o menino disse:

- Deixe-me levar o saco para a senhora. Também vou para esse lado.

A velha aceitou e se foram. Ela nem se lembrou de cobrar a maçã a Mikail. O sapateiro ficou olhando os dois se afastarem, conversando. Entrou em casa, encontrou os óculos caídos na escada, inteiros, pegou a sovela e voltou a trabalhar. Logo não havia mais luz suficiente para costurar e Mikail viu passar na rua o acendedor de lampiões. “Preciso acender a lâmpada”, pensou. Encheu de óleo o candeeiro, pendurou-0 e continuou o serviço. Terminou uma bota, examinou-a e aprovou o trabalho. Guardou as ferramentas, arrumou os cordões e sovelas, varreu os retalhos e colocou a lâmpada na mesa. Pegou o Evangelho na prateleira. Pretendia continuar onde tinha parado na véspera, mas o livro se abriu em outra página. O sonho voltou-lhe à mente e julgou ouvir passos no canto mais escuro, mas não distinguia bem quem eram. Uma voz sussurrou em seu ouvido:

- Mikail, Mikail, não me conhece?

- Quem é você? - ele murmurou.

- Sou eu - disse a voz. - Sou eu mesmo.
E Stepanovitch saiu sorrindo do canto escuro e desapareceu, desfazendo-se numa nuvem.

- Sou eu - disse a voz.
E da penumbra saiu sorrindo a mulher carregando a criança, que também sorria, e desapareceram.

- Sou eu - disse a voz.
E Surgiram a velha e o garoto com uma maçã na mão e desapareceram sorrindo.

O sapateiro sentiu uma intensa alegria no coração. Fez o sinal-da-cruz, pôs os óculos e começou a ler o Evangelho na página aberta.

“Tive fome e deste-me de comer; tive sede e deste-me de beber; eu era estrangeiro e me acolheste.” Mt 25.25

No final da página, estava escrito:

“O que tiverdes feito pelo menor dos meus irmãos, é a mim que fizestes.” Mt 25.40


Mikail compreendeu então que seu sonho fora verdadeiro. O Salvador viera à sua casa naquele dia e ele o havia acolhido. 


Liev Tolstói

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

JESUS, O DEUS MENINO por Ed René Kivitz

"Todo menino quer ser homem.

Todo homem quer ser rei.


Todo rei quer ser Deus.

Só Deus quis ser menino".


Essas palavras de Leonardo Boff ganharam meu coração nesse Natal. Imediatamente lembrei o que a Bíblia diz sobre Jesus menino:

"Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz". Isaías 9.6

"O lobo viverá com o cordeiro, o leopardo se deitará com o bode, o bezerro, o leão e o novilho gordo pastarão juntos; e uma criança os guiará". Isaías 11.6

"Mas quando os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei viram as coisas maravilhosas que Jesus fazia e as crianças gritando no templo: "Hosana ao Filho de Davi", ficaram indignados, e lhe perguntaram: "Não estás ouvindo o que estas crianças estão dizendo? " Respondeu Jesus: "Sim, vocês nunca leram: ‘dos lábios das crianças e dos recém-nascidos suscitaste louvor'?" Mateus 21.15,16, citando o Salmo 8.2

"Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: "Quem é o maior no Reino dos céus? " Chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: "Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus". Mateus 18.1-4

"O povo também estava trazendo criancinhas para que Jesus tocasse nelas. Ao verem isto, os discípulos repreendiam os que as tinham trazido. Mas Jesus chamou a si as crianças e disse: "Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele". Lucas 18.15-17

Ouvi  Jesus  convidando: “Torne-se menino. Eu fui menino”.

Perguntei: Por que a criança é o paradigma daquele que enxerga, discerne, experimenta e participa do reino de Deus?

Os estudiosos da Bíblia sugerem duas possibilidades. A primeira é que as crianças representam as virtudes que Deus espera ver nos adultos, como pureza, simplicidade, ingenuidade. Mas não é menos verdadeiro que essas são mais propriamente características que devem ser deixadas para trás do que virtudes que devem ser desenvolvidas. Paulo, apóstolo, diz que “não devemos ser como meninos imaturos” (Efésios 4.11-16), e que a vida adulta exige o desapego das coisas de menino (I Coríntios 13.11). Jesus também ensinou que ingênuos não sobrevivem no meio de lobos, e por isso devemos ser “simples como a pomba e prudentes como a serpente” (Mateus 10.16). Quanto à pureza das crianças, convenhamos, todas elas sabem ser egocêntricas e são naturalmente manipuladoras e agressivas quando se trata de fazer valer suas vontades. Você pode dizer que aprendem com os adultos, mas aprendem rápido, de modo que atribuir grandeza moral às crianças é sim ingenuidade. Virtude exige maturidade, disciplina, esforço, sofrimento – crescemos porque padecemos.

Outra possibilidade de interpretação para o fato de ser a criança o modelo para quem deseja viver no reino de Deus é que ela simboliza os pequeninos. “Deixai vir a mim os pequeninos” significaria “não impeçam que os que sofrem se acheguem a mim”. Jesus ensinou que os que têm fome, sede, estão doentes e injustamente encarcerados são os pequeninos a quem servimos sem saber que agimos em favor do próprio Cristo (Mateus 25.40). Mas também é verdade que Jesus não foi menino no sentido de ser vítima das circunstâncias e das contingências. Jesus padeceu voluntariamente, com lucidez, ciente do propósito de seu sofrimento, que enfrentou com singular coragem e grandeza de espírito.

O contraste entre homem, rei, Deus e menino perdurou no meu coração e minhas perguntas não foram respondidas pelos estudiosos da Bíblia. Mergulhei no silêncio e esperei que a Palavra viva encontrasse o caminho do meu coração e respondesse minhas perguntas: Por que devo ser menino? o que significa se fazer menino? de que maneira Deus foi menino?

Duas verdades explodiram dentro de mim. A primeira, a respeito da condição da criança. A segunda, a respeito da qualidade de relação própria da criança.

Imaginei uma conversa entre as Pessoas da Santíssima Trindade ocorrida na eternidade. Jesus olha para o Pai e diz: “Eu me esvazio, abro mão das minhas prerrogativas divinas, e mergulho na mais vulnerável condição humana. Vou ao ventre de uma mulher. Vou ao colo e ao seio de Maria. Aceito me fazer menino”.

O ato voluntário de Jesus implica a disposição de colocar-se sob o cuidado alheio. Uma criança, ou recebe cuidado, ou morre. Dos recém nascidos, o ser humano é o que exige maiores e complexos cuidados, e por mais tempo. Ser criança é ser vulnerável. Ser menino é ser dependente do pai, da mãe e tantos outros cuidadores. O ato de Jesus implica dizer ao Pai: “Eu me entrego absolutamente aos teus cuidados. Abandono-me em tuas mãos. Fico à tua disposição. Inteiramente dependente do teu amor. Completamente à mercê do teu caráter justo e bom”.

Lembrei de quantas vezes ao longo desse ano me percebi como criança encolhida em posição fetal, acolhida na palma da mão de Deus, minha manjedoura. Não me acovardei, não fugi da vida, não abri mão das minhas responsabilidades, não deixei de encarar o ônus que o sagrado direito de viver impõe. Apenas admiti minha finitude, minha impotência, minha incapacidade e meus limites diante das cruéis e sublimes dimensões da existência. As injustiças das sociedades humanas marcadas pela destruição e ganância, e a maravilha do universo em expansão me mostraram meu real tamanho, e me fizeram orar suplicante. O peso da maldade contra mim, a vergonha do mal que me habita, a inconstância dos meus pensamentos e sentimentos, a perplexidade em momentos de confusão e conflitos, a impotência diante dos paradoxos da vida, as demandas dos que me buscam clamando por socorro, me fizeram muitas e muitas vezes correr para as mãos de Deus e me entregar em absoluta dependência, como um menino que se derrama no colo do pai, despido de qualquer vergonha por ser ainda menino.

Sei que sou homem. Sei que sou rei. Sei que o Espírito de Deus habita em mim. Mas sei que sou menino. Não me ofendo quando ouço meu Pai dizer que não sou capaz de sustentar a existência com minhas próprias forças, encarar o mundo com minha própria sabedoria, resolver a vida com minha pretensa onipotência. O estado de criatura, e o sentimento de dependência não me causam revolta. A consciência de ser “homem insuficiente” me coloca de joelhos. Na verdade, me faz correr repetidas vezes para o refúgio seguro dos cuidados do meu Pai Celestial.

Essas imagens trouxeram para mim a lembrança de que assim Jesus nos ensinou a orar: Abba, Abba Pai. Oração é palavra do afeto. Abba é o balbuciar da criança que ainda não aprendeu a falar. Abba é a expressão da criança que sabe quem é seu pai, mas não sabe nada a respeito dele. Abba é a palavra da intimidade supra racional e anterior a qualquer elaboração de raciocínio e valoração. Abba é o impulso da criança que, diante de tantos braços estendidos e faces convidativas, sabe exatamente o colo ao qual deve se entregar. Esse é o meu pai, aqui estou seguro, aqui é o meu lugar, diz a criança que sabe do seu Abba.

Carrego comigo mais perguntas do que respostas, sou como Riobaldo, “quase de nada não sei, mas desconfio de muita coisa”. Mas nada me impede de crer. Sei dos argumentos contra a fé, enxergo as mazelas da religião, conheço cada canto do labirinto da dúvida. Mas nada disso me impede de crer. Minha relação com o Abba prescinde da lógica, pois repousa no afeto. Há muita que desconheço. Mas sei que tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada não me separam do afeto do Abba. Sei que "nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação é capaz de me separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, meu Senhor".

Ouvi Jesus convidando: “Seja menino. Eu fui menino”. E então compreendi o que ele me dizia: “Entregue-se completamente aos cuidados do Abba, e nunca, nunca, nunca, em tempo algum, e por qualquer razão, duvide enquanto Ele sussurra ao seu ouvido: Você é meu filho amado, em quem eu tenho prazer”.

Então respondi em oração.

Eis-me aqui, Abba, disposto a crescer e ser homem à imagem de teu filho Jesus.
Eis-me aqui, Abba, disposto a ser rei, para que tua vontade seja feita na terra como no céu.
Eis-me aqui, Abba, ansioso para participar de tua natureza divina.
Mas, verdadeiramente, eis-me aqui, Abba, menino, completamente entregue ao teu cuidado, vivendo no teu amor.
Eis-me aqui, Abba, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim. Acalmei e tranqüilizei a minha alma. Sou como menino recém-amamentado por sua mãe. A minha alma é como essa criança. Somente em Ti está a minha esperança, desde agora e para sempre!

Ed René Kivitz


https://www.facebook.com/edrenekivitz/posts/770162363000925

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

OFICINA DE VIDAS - Uma reflexão sobre discipulado por Carlos Moreira

"Os onze discípulos foram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes indicara. Quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os ema nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos". Mateus 28.16-20

Excelente reflexão sobre (para mim) a principal omissão e pecado da Igreja de Cristo, O DISCIPULADO.

Aproveitando e a reflexão, eu gostaria de obter algumas respostas acerca deste tema, é uma especie de pesquisa que me serviria para corroborar uma futura reflexão minha:

1- Você já foi discipulado por alguém, isto é acompanhado dia-a-dia por um mentor espiritual, em algum período da sua vida? (alguém que não somente lhe "evangelizou", mas levou com você a sua carga, lhe mostrou com sua vida, a Vida de Jesus).

2- Se foi, "quanto" da sua "herança espirtual" você credita a este relacionamento? Se não, você acha que isto lhe faz falta?

Eu, por exemplo, me lembro que aos meus treze anos de idade fui discipulado (somente por uma semana) no acampamento Palavra da Vida, pelo "conselheiro" Maninho. Vejo hoje, mais do que nunca, quanto aqueles dias foram importantes para minha formação espiritual.

Aos 14 e 15 anos de idade tive um professor de adolescentes na igreja que participava chamado Paulo "broa" (por causa de suas faces, um pouco redondas) que foi referência para mim, mas não foi um discipulador mas sim professor.

Aos 28, tive no meu dirigente de Decúria do Cursilho uma espécie de discipulador, mas muito mais pela sua boa vontade e dedicação. Éramos muito mais irmãos que compartilhavam, do que mentor e mentoreado.

Hoje, sabendo a importância deste tipo de relacionamento, procuro desenvolver amizades onde o discipulado ocorra; ora recebendo, ora sendo canal da Graça.

Infelizmente o discipulado é uma temática que não é levada a sério, penso ser esta a maior realização que uma pessoa pode fazer; primeiro ser discípulo de Cristo, depois, formar discípulos dEle.
BM
...
Oficina de Vidas - Uma Reflexão sobre Discipulado

INTRODUÇÃO
Quem me conhece sabe o quanto eu gosto de carro. Oficina, então, nem se fala! Vá entender... Gosto de quase tudo que tem quatro rodas, mas o Jipe sempre foi o meu "xodó". Quando comprei o primeiro, passava horas com ele no mecânico. A coisa chegou a um estado tal, que Fabiana uma vez me disse que eu estava ficando mais tempo na oficina do que com ela em casa.

Sempre gostei de cuidar de carros e acabei desenvolvendo outra paixão na vida: cuidar de gente, mas é fato que se trata de coisas totalmente antagônicas. Carro se machuca, arranha, amassa, quebra uma peça, mas sempre tem jeito! Com grana e uma boa oficina pode-se até, num curto espaço de tempo, transformar uma velharia num hot rodes. Mas com gente é diferente. Gente quando "arranha", "amassa", ou "quebra" dá um trabalho enorme para "recuperar" e, não raras vezes, o problema é tão grave que a "perda é total".

Você já pensou numa oficina que cuidasse de vidas? Imagine o cliente chegando e sendo recebido pelo "mecânico" da alma que diria: "é patrão, vamos ter de arriar todo esse egoísmo, que já rodou bastante, e colocar no lugar dele dois litros de generosidade. Também vou ter de substituir essa mentira aqui, que como se pode ver já está bastante gasta, por aquela verdade ali, novinha em folha".

Que bom seria se fosse assim! Mas não é. Gente dá trabalho. Gente tem insegurança, insensatez, implicância, intemperança, intolerância, indolência, e tanta coisa ruim que agente só acredita que gente tem jeito porque agente é gente. E dá trabalho cuidar de gente; e como dá... Mas não há, nessa terra, tarefa que seja mais inspiradora e, no meu entender, que seja tão prioritária.

UMA "PAIXÃO" DENTRO DA PAIXÃO

Quando olho para Jesus, vejo essa verdade expressa em cada gesto e em cada palavra, pois, de fato, o Mestre gostava de gente. Gente doída, gente perdida, gente caída, gente excluída, gente que não se achava gente, gente que perdeu a referência do que era ser gente, gente que ignorava outra gente, gente de todo tipo e gente de toda gente.

Jesus vivia rodeado de pessoas. Com elas celebrou a vida e, por causa delas, a própria vida doou. Mas também experimentou nas suas relações a tristeza, a decepção e a dor. Para mim, a encarnação nada mais é do que Deus se deixando traduzir. Deus, agora, não é mais somente Deus, mas também é homem, bem próximo a nós. Podemos vê-Lo na esquina, entre uns e outros. Ele vai à casa do publicano e senta-se na roda dos pecadores. Conversa com a prostituta e come na mesa do coletor de impostos. Num momento está numa festa e, no outro, partilhando da dor solitária de um aleijado esquecido. Alegra-se no casamento, e chora no enterro do amigo, acolhe carinhosamente as crianças e expulsa o demônio que atormenta o endemoninhado. Verdadeiramente, a paixão daquele Galileu, era gente...

A vida de Jesus foi "gasta" com pessoas, sobretudo, os três últimos anos. Ele investiu todo o tempo de que dispunha na tarefa de fazer discípulos e, mesmo não tendo inventado o discipulado, discerniu-O como algo eficaz e aplicou-O como estratégia no ministério. No fundo, Ele criou uma oficina de vidas, pois, no que diz respeito à "consertar" gente, nunca houve ou haverá alguém melhor do que Jesus.

QUEBRANDO PARADIGMAS

Mais o que é mesmo discipulado? Ora, para tentar refletir um pouco sobre o tema, vou primeiro lhe dizer, o que eu acho que não é.

- Discipulado não é uma reunião de pessoas, mas a união de pessoas que se reúnem;
- Discipulado não é apenas abrir a casa para uma reunião, mas abrir a vida para a comunhão;
- Discipulado não é algo que acontece num dia da semana, mas, numa semana, todos os dias;
- Discipulado não termina quando a reunião acaba, pelo contrário, começa;
- Discipular não é passar a vida ensinando a bíblia, mas, no ensino da bíblia, passar a vida;
- Discipular não é apenas ensinar o que se aprende, mas viver o que se ensina;
- Discípulo não é alguém que quer apenas fazer discípulos, mas, antes de tudo, ser discípulo;
- Discípulo não é alguém que freqüenta a sua casa, mas aquele que partilha com você a sua vida;
- Discipulador não é aquele que apenas aceita o chamado do pastor, mas que compreende a comissão do Senhor;
- Discipulador não é um cargo que se assume na Igreja, mas um encargo que se assume na vida.

Tenho trabalhado com discipulado há mais de 20 anos. Neste período, no nosso país, observei, pelo menos, 4 "tipos" dele sendo implementados nas Igrejas.

1- DISCIPULADO COMO UM SISTEMA DE MANIPULAÇÃO
É um tipo de discipulado onde o discipulador exerce forte influência na vida de "seus" discípulos sendo que, em muitos casos, a relação torna-se, perigosamente, passional. O que à primeira vista poderia ser um fator positivo acaba tornando-se, num curto espaço de tempo, em algo extremamente nocivo. É que a dita "influência" vai muito além do que deveria ir, revelando-se, assim, uma invasão de privacidade. As pessoas têm de fazer a vontade do líder, sempre sob o suposto respaldo das Escrituras que, não raras vezes, são utilizadas totalmente fora de contexto.

Outra característica deste tipo de discipulado é ser um "sistema" fechado em si mesmo, com regras e rigores a respeito da vida e da conduta. O produto gerado a partir deste "caldo existencial" são vidas que existem sob o signo do medo, uma vez que, num ambiente como esse, torna-se quase impossível desenvolver de forma sadia a consciência na graça.

Conteúdos e verdades podem e devem ser repassados, primordialmente, através da vida, com respeito e amor, sempre olhando de forma reverente os "espaços" do outro, nunca perdendo a referência de que cada pessoa fará o seu próprio caminho na terra com Deus, pois será a partir dele que colherá a paz e o bem de cada dia.

2- DISCIPULADO COMO UMA ESTRATÉGIA DE MASSIFICAÇÃO
Muito do que acontece hoje, no mundo corporativo, achará guarida, em alguns anos, no mundo eclesiástico. Foi isto o que aconteceu na última década, com vários conceitos e processos empresariais sendo adicionados ao dia a dia das Igrejas.

Dentro desta perspectiva, os métodos voltados para o crescimento da membresia, mais especificamente através da estratégia de pequenos grupos, são os mais utilizados. A "visão" inicial, que chegou ao Brasil em meados dos anos 90, tinha como modelo a Igreja em Células da Colômbia que, num curto espaço de tempo, experimentou, através do discipulado, um crescimento numérico de milhares de pessoas.

Na versão tupiniquim, entretanto, o método sofreu o aditamento de programas e estratégias de planejamento e marketing com vistas a gerar melhores "resultados". O saldo, todavia, na maioria dos casos, tem sido desastroso, e não há como ser diferente, pois algo tão frio e impessoal, que visa apenas metas quantitativas, só pode gerar um adoecimento emocional e espiritual nas pessoas. Muitos são os casos dos que se queixam de estarem sendo submetidos a forte pressão para que metas de "multiplicação de membros" sejam alcançadas, como se a Igreja agora fosse uma empresa.

Jesus não nos mandou oprimir as pessoas, mas instou-nos a servi-las e amá-las. Nossa tarefa é encher o céu, e não a Igreja. Encher Igreja, sobretudo com gente vazia, é algo fácil. Com meia dúzia de "teologias da terra" o objetivo será alcançado. Mas, povoar o céu, com gente transformada, que compreende a graça e que viva de forma pacificada com Deus e com seus semelhantes, é tarefa apenas para quem quer ver o Reino de Deus crescer, e não o seu reino pessoal.


3- DISCIPULADO COMO UM PROGRAMA DE MANUTENÇÃO

Toda rotina gera fadiga, até mesmo nas coisas boas. Tenho observado que muitas comunidades se encantam com a possibilidade de começar um "programa" de discipulado. Analisam livros, escolhem métodos, criam uma "estrutura" e comissionam pessoas para a "execução da tarefa". Todavia, cedo-cedo, e, inevitavelmente, acabam se deparando com questões prementes tais como: o que é ser discípulo? O que se deve ensinar a eles? De que forma eles serão influenciados? Qual o objetivo deles estarem nas reuniões? A maneira de lidar com estas e outras questões, ao longo do tempo, definirá se a "coisa", como um todo, irá ou não rumar na direção de um "programa de manutenção".

O que é isto? É quando o discipulado, após alguns anos de funcionamento, torna-se apenas mais um "programa" da Igreja e, por isto, tem de ser mantido em funcionamento. Chega-se facilmente a esta situação quando a rotina se estabelece e o método se torna mais importante que a vida. Mesmo algo bom, como uma reunião caseira, com cânticos, orações, estudo e compartilhar, pode tornar-se algo extremamente "viciante", sem desdobramentos maiores, sem que as pessoas sejam de fato transformadas nos valores, conteúdos e caráter. Numa perspectiva mais ampla, o "programa" ou tenderá a se acabar, ou virará algo sem conseqüências práticas para a vida. Existirá sim, porém, cada vez mais, menos pessoas se interessarão por ele.

Jesus fez justamente o contrário, ou seja, transformou o método em algo prático e aplicável à vida. Jesus não chamou os discípulos para uma reunião na sua casa, nem para participarem de um estudo bíblico na sinagoga, nem mesmo para um grupo de comunhão aos sábados, dia reservado ao "sagrado". O convite foi para que pudessem experimentar o hoje, com todas as cores e intensidade de cada momento, na singularidade incomparável que há em cada dia. O chamado dizia respeito a se "provar" as dinâmicas da existência e, a partir delas, experimentar a verdadeira vida que deve ser sempre vivida em abundância.

4- DISCIPULADO COMO UM TEMA PARA MEDITAÇÃO
Quem já passou por um curso de pós-graduação sabe que um dos itens mais importantes para a formulação de uma tese é o arcabouço teórico, ou seja, o acréscimo ao texto principal do pensamento de diversos autores. Mas, uma boa tese, dificilmente se sustentará sem um "trabalho de campo", ou seja, sem as observações práticas que respaldem a teoria proposta. Pois bem, a mesma coisa pode ocorrer com o discipulado quando ele se transforma num tema para meditação, quase sempre contido nos objetivos de ensino da Igreja.

Com data de início e fim já demarcados - em alguns casos estabelece-se o tempo de três anos - o grupo passa a reunir-se com o objetivo de estudar um vasto cabedal de temas bíblicos e de autores diversos. Assim, o que deveria ser um estilo de vida a ser adotado, com pressupostos mais excelentes, acaba se transformando, apenas, num conjunto de conteúdos a ser "dissecado". Ao final do período proposto, cumpridas as "exigências", o membro do grupo torna-se um "discípulo graduado", ou seja, alguém que cumpriu uma espécie de jornada acadêmica, mas que, talvez, não tenha incorporado nenhuma prática à vida. Tiago nos adverte sobre o risco que há nesse proceder, quando nos diz: "tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos".Tg. 1:22.

Jesus não iniciou com seus discípulos um programa acadêmico fechado, mas, pelo contrário, criou uma grande escola da vida, aberta às pessoas, com sala de aula móvel, variando entre um lugar e outro, com conteúdos ensinados a partir das manifestações próprias da existência humana, sempre buscando harmonizar as pessoas ao mundo que as cercava e a Deus o Pai e Criador.

Mais afinal, então, o que é discipulado?

DISCIPULADO É A ESSÊNCIA DA MISSÃO.

Não há como entender algo sobre discipulado cristão se não olharmos para Jesus. Ele é a chave hermenêutica para todas as coisas e, a partir dEle, tudo pode ser discernido, até o próprio coração do Pai. É certo que as Escrituras Sagradas nos revelam alguns modelos de discipulado - Moisés e Josué, Elias e Eliseu, Paulo e Timóteo - mas a referência maior está no discipulado de Cristo.

Discipulado não é apenas um programa, apesar de ter etapas, nem um método, apesar de ter estratégias, nem mesmo um sistema, apesar de ter processos, mas é, antes de tudo, um estilo de viver para ser incorporado à vida. O ponto focal de tudo está no relacionamento. Jesus não chamou pessoas para manipular, nem criou estratégias para alcançar as massas e multiplicar "o bolo". Ele não estabeleceu uma rotina reciclável de entretenimento e nem fundou uma classe de estudos sistematizados. Tudo que aconteceu, aconteceu a partir da vida, nas relações travadas no dia a dia e nas oportunidades que foram surgindo a partir dos encontros humanos. Foi algo simples, mas extremamente poderoso.

Os vínculos e laços gerados, durante aqueles três anos de convivência com Cristo, foram tão profundos e marcantes que a vida daqueles que com Ele estavam nunca mais foi a mesma. Jesus ressuscitou, subiu aos céus, mas antes de sentar-se, definitivamente, à direita do Pai, esteve com Seus discípulos uma última vez, às margens do mar da Galileia. Na derradeira palavra do Senhor aos seus amigos, disse: "ide e fazei discípulos". E, de fato, eles foram...

Quando penso em tudo isto e olho para a grande comissão meu coração se enche de esperança e alegria. Sim, porque mesmo sem cursos, apostilas ou livros, mesmo sem recursos de fita K7, CD ou DVD, sem elaboração de estratégias, programas ou campanhas, os discípulos saíram pelo mundo anunciando as boas novas da salvação. De nada se fizeram acompanhar que não fosse vida. Sim, tudo se resumiu apenas a vida vivida com o Galileu, naqueles dias empoeirados na Palestina, onde a luz resplandeceu nas trevas de seus corações.


CONCLUSÃO

Discipulado é uma oficina de vidas! É uma tarefa árdua e que exige persistência. Muitas pessoas estão à nossa volta, todos os dias, precisando ser discipuladas. Algumas estão em nossa casa, outras no trabalho, ou na faculdade, e outras estão dentro da Igreja. Muitas delas acham que não precisam se submeter a isso, e outras, até que precisam, mas poucas serão as que tomarão uma decisão de ir além. Existe uma grande diferença entre precisar e querer e, isto, você verá por si mesmo...


O discipulador é um escultor do caráter de Cristo no caráter das pessoas. Ele é
alguém que entendeu que precisa ser uma referência na vida de outros a partir da vida que pulsa na sua própria vida. E isto leva tempo... E dá trabalho... Por isso, não espere moleza se quiser ser e fazer discípulos.

Jesus discipulou, de forma mais próxima, 12 pessoas. A Bíblia também fala dos 70, dos 120 e Paulo menciona os 500. Não sei quantos dá para formar numa vida, mas tenho a impressão de que, talvez, não sejam muitos. Se, todavia, nos empenharmos nesta tarefa, poderemos ver, ainda nessa geração, uma Igreja formada, em sua maioria, por discípulos do Senhor. Isso, posso lhe garantir, fará muita diferença...

Sola Gratia!

Carlos Moreira - www.carlosmoreira.com

sábado, 23 de março de 2013

CONVERSÃO em 03 (três) ATOS com O MILAD/ÁGUA VIVA

ATO 1 - CAIR EM SI
(Olhos no Espelho)




ATO 2 - RETORNO AO CAMINHO
(Água Viva)




ATO 3 - A MORTE DO EGO, VIVER PRA CRISTO
(Que Estou Fazendo se Sou Cristão)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

UM PRESENTE - Meu aniversário de 40 anos


Conheci pessoalmente no final de 2010 o Lugar da Criança, este é um projeto social que funciona como uma creche numa das áreas mais carentes da nossa cidade (o Coque). Foi através da comunidade de fé que participo, que já apoiava este trabalho, mas eu só ficava naquela de apoiar sem conhecer in loco para não me envolver de fato. 

Acontece que no final de 2010 nossa comunidade foi lá fazer um dia de ação social com o anúncio do Evangelho e eu fui. Fiquei primeiramente bastante impressionado com a estrutura física - muito bem feita para um trabalho onde o serviço oferecido era gratuito. Em segunda lugar me impressionou o fato do projeto ser mantido quase na sua totalidade com somente US$ 5000,00 mensais que vinham de doação dos EUA. Em terceiro a falta de apoio da cidade (governo municipal, estado e federação), das igrejas e da sociedade. Eles faziam um trabalho importantíssimo com pouquíssima ajuda! 

A partir dai nasceu no meu coração um amor por aquele trabalho e uma dor/culpa por fazer tão pouco. Como eu poderia participar deste intento, trazer para mais de 100 crianças um futuro digno e esperançoso?
Bom, no segundo semestre de 2011 o Novo Jeito (www.novojeito.com e http://www.novojeito.com/2012/acoes/), o qual eu faço parte, estava procurando fazer uma campanha de Natal que saísse da mesmice, isto é, deixar de lado um ação assistencialista que mata a fome de alguns por muito pouco tempo e não transforma a realidade de ninguém, e que de fato só aplacava a nossa dor de consciência. Por isso queríamos uma ação que durasse o ano inteiro, onde além de recursos nos envolveríamos com nosso tempo, trabalho, e dedicação e amor.

Após conhecermos vários projetos que trabalhavam com idosos, profissionalização, jovens e adolescentes, escolhemos realizar a nossa ação no Lugar da Criança e lançamos a campanha NATAL 365 DIAS. Durante todo o ano de 2012 conseguimos levar esporte, música e informática para as crianças que não tinham acesso. Além disso pudemos mostrar à cidade que existe um trabalho sério e que crianças estavam sendo cuidadas, alimentadas no corpo e na alma sendo apresentadas ao Evangelho, e agora com a nossa parceria poderiam voltar a sonhar com um emprego digno, ou em ser um atleta, músico ou muito mais, ao invés de estarem nas ruas correndo toda sorte de riscos.

Se eu for falar de tudo que está acontecendo vou acabar deixando este texto ainda mais cansativo... o que eu quero pedir a você é que você se dê a oportunidade de conhecer este projeto que chamamos de LUGAR DOS SONHOS, e que conhecendo faça parte desta corrente do bem. As CRIANÇAS do Lugar da Criança precisam de padrinhos que doem pelo menos R$ 25,00 mensais e muito mais do que o dinheiro, também interajam com elas por carta, relatórios de atividades e andamento, e pessoalmente com carinho, afeto e palavras de incentivo. Paula, minha esposa, adotou duas crianças e eu sei que ela recebeu sem querer infinitivamente mais do que deu, o amor destas crianças nos constrangem.

Se você anda mais perto de mim e pensa em me presentear, faça isso: Conheça esse projeto e deixe Deus dizer a você se é vontade dEle ou não que você faça parte.
"Se a cada dia que passa eu não me tornar uma pessoa mais amorosa, que cuida do outro, que busca o bem e o interesse do próximo mais próximo (a partir dos meus), é vã a fé e a vida que ela gerou. Quem anda com Deus ama de fato e a sua vida gera mais vida e graça por onde passa". BM
Um grande abraço!