"Temos esta Esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus que nos precedeu, entrou em nosso lugar..." (Hebreus 6.19,20a)

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O DIA DA REFORMA E O SACERDÓCIO DE TODOS OS CRENTES por René Padilla


Para muitos estudiosos da Reforma Protestante do século XVI, as ênfases centrais desse movimento foram cinco: só Cristo (solus Christus), só a Bíblia (sola Scriptura), só a graça (sola gratia), só a fé (sola fide) e só a glória de Deus (soli Deo gloria). Todavia, há boa base para afirmar que, além dessas ênfases fundamentais, os reformadores também reservaram um lugar de destaque para uma doutrina que (por razões que daremos mais adiante) poderia ser considerada a Cinderela tanto da Reforma clássica como do movimento evangélico no tempo presente. Refiro-me à doutrina do sacerdócio de todos os crentes, também chamado de sacerdócio universal ou comum.

Quando Martinho Lutero lançou seu desafio de reforma da Igreja Católica Romana, ele não o fez animado por um espírito de inovação ou rebeldia, mas movido por convicções enraizadas na Palavra de Deus. Na doutrina da justificação pela fé ele encontrou a base para a solidariedade inalterável dos cristãos entre si, que tornava impossível a divisão tradicional entre “eclesiásticos” (o clero) e “seculares” (os leigos). Parafraseando Gálatas 3.28: “Não existe nem sacerdote nem leigo, pároco nem vigário, ricos nem pobres, beneditinos, espiritanos, freis menores nem agostinianos, porque não está em questão ter este ou aquele estado, grau ou ordem.” Em seus memoráveis tratados de 1520, o famoso reformador elabora esse conceito com uma orientação predominantemente cristológica. Ele alega que Cristo é nosso irmão maior, e que todos os cristãos participam da glória e da dignidade que correspondem a essa relação como reis e sacerdotes com Cristo. Todo cristão é sacerdote pelo simples fato de ser cristão. Ele escreve:

Um sapateiro, um ferreiro ou um lavrador têm cada um a função e a obra de seu ofício. Não obstante, todos são igualmente sacerdotes e bispos ordenados, cada um com sua função ou obra útil para o serviço do outro, de modo que as várias obras estão voltadas para a comunidade, para favorecer o corpo e a alma, assim como os membros do corpo físico servem todos uns aos outros.

A conclusão é que todo cristão tem um “serviço sacrificial”, que não é a missa (já que a missa não inclui o oferecimento de um sacrifício), mas um ofício por meio do qual ele expressa seu louvor e obediência a Deus. O cristão tem, além disso, um ministério de intercessão e o “poder de apontar e julgar o que é correto e incorreto na fé”. Lutero não nega o papel que desempenha o ministério de administração e ensino dentro da igreja. Contudo, ele afirma que a única autoridade que os pastores e mestres têm é a que deriva da Palavra de Deus e que, em consequência, todo cristão tem a capacidade de julgar segundo as Escrituras e de rejeitar todo ensino que contradiz o que as Escrituras ensinam. Ele argumenta:

Se Deus falou contra um profeta por meio de um burro, por que não pode falar contra o papa por meio de um homem bom? Paulo repreendeu Pedro por estar equivocado. Disso se conclui que cabe a todo cristão preocupar-se com a fé, entendê-la e defendê-la, e condenar todos os erros.

A mesma doutrina do sacerdócio de todos os crentes tem lugar na obra monumental de João Calvino, as Institutas da religião cristã, e em outras obras dos reformadores. A Reforma não foi apenas a redescoberta de que “o justo viverá pela fé”, que resume um aspecto central do ensino evangélico sobre a salvação, relacionado com as cinco ênfases da Reforma mencionadas acima. Ela foi também um retorno ao início de uma eclesiologia enraizada na obra de Jesus Cristo, que, por amor, “fez de nós um reino de sacerdotes a fim de servirmos ao sei Deus e Pai” (Ap 1.6).

Desse ponto de vista, não se faz justiça aos reformadores quando se entende que sua motivação foi colocar “por cima da igreja e sua tradição, sua interpretação pessoal e subjetiva das Escrituras”, como afirma Hans Küng. A intenção que motivou os reformadores foi, antes, colocar a igreja sob o juízo da Palavra de Deus, chamá-la de volta das tradições humanas para a liberdade do evangelho.

Cabe acrescentar, no entanto, que a Reforma clássica ficou aquém das expectativas no que tange às consequências práticas do sacerdócio de todos os crentes para a vida e missão da igreja. Como John Yoder assinalou, “a maior parte da reflexão protestante sobre o sacerdócio de todos os crentes não resultou em estruturas para implementar a visão apostólica de que cada membro da igreja tem seu dom ministerial”. Em termos concretos, nas igrejas protestantes em geral prevaleceu a dicotomia entre os clérigos que exercem seu dom ministerial e os leigos que nem conhecem seus dons ministeriais nem se preocupam em descobri-los e exercê-los para o bem comum, em conformidade com o ensino bíblico (ver especialmente 1Co 12.1-31 e Rm 12.3-8). É a expressão eclesiástica da dicotomia entre o sagrado e o secular que leva a uma distorção lamentável do cristianismo, especialmente no que diz respeito à ética.

No contexto latino-americano, o movimento das comunidades eclesiais de base foi uma tentativa valiosa de recuperar uma eclesiologia enraizada no Novo Testamento, uma eclesiologia que superou a dicotomia entre clero e leigos e recuperou a dimensão essencialmente comunitária da igreja. Leonardo Boff entendeu essa mudança como uma eclesiogênese, um novo nascimento da igreja. Sem voltas nem rodeios, ele afirmou que “as comunidades de base reinventam a igreja”. Elas a reinventam, segundo o famoso teólogo, não como “expansão do sistema eclesiástico vigente, assentado sobre o eixo sacramental e clerical”, mas como “uma forma diferente de ser igreja, baseada sobre o eixo da Palavra e do leigo”, ou seja, sobre o mesmo eixo que os reformadores propuseram como base para o sacerdócio de todos os crentes. Não é de surpreender, portanto, que várias das características da igreja, segundo a “nova eclesiologia” que Boff descreve, coincidam em termos gerais com as da igreja com que sonhavam os reformadores:

- Igreja – povo de Deus;

- Igreja em que os leigos são “verdadeiros criadores da realidade eclesial, do testemunho comunitário, da organização e da responsabilidade missionária”;

- Igreja como “koinonia de poder”, “contrária ao princípio de monopolização do poder nas mãos de um corpo de especialistas, por cima e por fora da comunidade”;

- Igreja em que “toda a comunidade é ministerial, não só alguns dos seus membros; dessa forma supera-se a rigidez do trabalho religioso: hierarquia/direção, laicato/execução”;

- Igreja de diáspora que se faz presente na sociedade civil, “disseminada dentro do tecido social”, gerando “uma mística de ajuda mútua”;

- Igreja libertadora, “porta de entrada (do ponto de vista do povo) para a política como compromisso e prática em busca do bem comum e da justiça social”;

- Igreja que “prolonga a grande tradição”, de Jesus, dos apóstolos e das primeiras comunidades cristãs, que tem como eixo articulador “a Palavra de Deus ouvida e lida no contexto dos seus problemas, a execução das tarefas comunitárias, a ajuda mútua e as celebrações”;

- Igreja que “constitui a unidade a partir da missão libertadora”, não a partir de um governo hierárquico, um “poder centralizador [...] que chega a expropriar o povo cristão de todas as formas de participação decisória”;

- Igreja com uma nova compreensão da sua universalidade, universalidade esta que leva a sério as causas universais, como “a libertação econômica, social e política que abre a perspectiva para uma libertação plena no reino de Deus”;

- Igreja “toda ela apostólica”, já que “todo enviado (e todo batizado recebe a tarefa de anunciar e testemunhar a novidade de Deus em Jesus Cristo) é um apóstolo e continua o envio dos primeiros doze apóstolos”.

Lamentavelmente, o próprio Vaticano se encarregou de criar obstáculos e, finalmente, de impedir o crescimento de um movimento que tinha o potencial de injetar vida nova na Igreja Católica Romana.

Cabe acrescentar, no entanto, que é igualmente lamentável o crescimento atual do clericalismo em círculos evangélicos na América Latina e em outras regiões do mundo, com o surgimento de pastores e apóstolos que monopolizam o poder e desconhecem a liderança de serviço. Quanta falta faz uma nova Reforma, que torne possível uma eclesiogênese evangélica que tenha como eixo a Palavra de Deus e o laicato, e reconheça em termos práticos a importância do sacerdócio de todos os crentes para a vida e missão da igreja!

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Credo pós-moderno e pré-apocalíptico

A mais importante afirmação sobre quem somos é aquilo que acreditamos sobre Deus.
A W Tozer

'CREDO' (Creed) - Um poema sobre a mentalidade moderna
Cremos em Marxfreudedarwin.

Cremos que tudo está bem,

desde que você não prejudique ninguém,

quanto você possa definir prejudicar,

e quanto você possa saber.

Cremos no sexo antes, durante

e depois do casamento.

Cremos na terapia do pecado.

Cremos que o adultério é uma brincadeira.

Cremos que a sodomia é correta.

Cremos que os tabus são tabus.

Cremos que tudo está ficando melhor,

apesar da evidência contrária.

A evidência precisa ser investigada,

e não se pode provar nada com evidência.

Cremos que há algo nos horóscopos,

nos ÓVNIS e nas colheres entortadas;

Jesus era um bom homem, como Buda,

Maomé e nós mesmos.

Ele foi um bom Mestre de moral, embora achemos

que o seu bom ensino moral era nocivo.

Cremos que todas as religiões são basicamente a mesma coisa

- pelo menos aquela sobre a qual lemos.

Todas elas crêem no amor e na bondade.

Só divergem nas questões da criação,

do pecado, do céu, do inferno, de Deus e da salvação.

Cremos que após a morte vem o nada,

porque, quando você pergunta aos mortos o que acontece,

Eles não dizem nada.

Se a morte não é o fim, se os mortos mentiram,

Então o céu é compulsório para todos,

exceto, talvez,

Hitler, Stalin e Genghis Khan.

Cremos em Masters e Johnson.

O que se seleciona é a média.

O que é a média é normal.

O que é normal é bom.

Cremos no desarmamento total.

Cremos que há elos diretos entre a guerra e o derramamento de sangue.

Os americanos deveriam fundir as suas armas e transformá-las em tratores,

E certamente os russos os imitariam.

Cremos que o homem é essencialmente bom.

É somente o seu comportamento que o faz cair.

É culpa da sociedade.

A sociedade é o defeito das condições.

As condições são o defeito da sociedade.

Cremos que cada homem deve descobrir a verdade

que é certa para ele.

Conseqüentemente, a realidade se adaptará.

O universo se reajustará.

A história mudará.

Cremos que não há verdade absoluta,

exceto esta:

Não há verdade absoluta.

Cremos na rejeição dos credos,

E no florescer do pensamento individual.

E então o poeta acrescenta este pós-escrito chamado “Acaso”:

Se o acaso

é o Pai de toda a carne,

a desgraça é o seu arco-íris no céu,

e quando você ouvir:

Estado de Emergência!

Atirador Mata Dez!

Tropas Avançam com Violência!

Brancos Vão à Pilhagem!

Bomba Explode Escola!

É apenas o ruído do homem

adorando o seu criador.
(Steve Turner)

...
Metrô - Música do Rebanhão


NO CENTRO DA CIDADE NA PORTA DO METRÔ
OUVI UM SAXOFONE TOCAR UMA MÚSICA DE AMOR
OLHEI PARA AS PESSOAS ALI, NUM SEGUNDO EU VI TANTA DOR
DISFARÇADA NO OLHAR DE QUEM JÁ SE ACOSTUMOU
A ESQUECER OS PROBLEMAS NO FUNDO DO COPO DE UM BAR
PROCURANDO EMOÇÕES, FUGINDO DAS SITUAÇÕES
SEM SABER QUE A RESPOSTA CERTA,
PRÁS QUESTÕES DESSA VIDA INCERTA,
É JESUS,É JESUS, É (SÓ) JESUS!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A parábola dos pescadores sem peixes | Ultimato Online

Era uma Associação de Pescadores, que viviam no meio de rios e lagos, cheios de peixes famintos. Eles se reuniam regularmente para discutir sobre o chamado para pescar, a abundância de peixe e a emoção de pegar peixes. Ficavam muito animados com o assunto da pescaria.

Alguém sugeriu que o grupo precisava de uma filosofia de pesca. Assim, cuidadosamente, definiram e redefiniram a pesca e o propósito da pescaria. Desenvolveram estratégias e táticas. De repente perceberam que haviam começado de trás para frente – haviam se interessado pela pescaria do ponto de vista do pescador, e não do ponto de vista do peixe. Como o peixe vê o mundo? Como vê o pescador? O que e quando o peixe come? Era importante entender essas coisas. Por isso, iniciaram estudos e pesquisas. Participaram de conferências sobre a pescaria. Muitos viajaram a lugares longínquos para estudar diferentes tipos de peixes, com diferentes hábitos. Alguns obtiveram Ph.D. em piscicultura.

Contudo, ninguém havia ido pescar. Formou-se, então, um comitê para enviar pescadores. Havia muito mais lugares propícios para pescar do que pescadores. Por isso, o comitê precisava determinar prioridades. A lista de prioridades foi colocada em quadros de avisos em todos os salões da Associação.

Mas, como antes, ninguém estava pescando ainda. Foi feita uma pesquisa para saber por quê. A maioria não respondeu ao questionário, mas, entre os que responderam, descobriu-se que alguns se sentiam chamados para estudar a pesca, outros para fornecer equipamentos de pesca e outros, ainda, para encorajar os pescadores. E, com tantas reuniões, conferências e seminários, simplesmente não tiveram tempo para pescar. 

Jacó era novato na Associação de Pescadores. Depois de uma reunião muito animada, ele foi pescar. Fez algumas tentativas, pegou o jeito e conseguiu pegar um lindo peixe! Na reunião seguinte, ele contou sua história e foi elogiado pelo sucesso. Acabou sendo convidado para falar em todos os núcleos da Associação e contar como havia sido a sua pescaria. Assim, com tantos compromissos e por ter sido eleito para a diretoria da Associação, Jacó nunca mais teve tempo para pescar.

No entanto, não demorou muito e ele começou a se sentir intranqüilo e vazio. Teve saudades da pesca propriamente dita, de sentir o puxão no anzol. Assim, decidiu deixar a diretoria da Associação, bem como os demais compromissos com os núcleos, e convidou um amigo para ir pescar com ele. Os dois foram – sozinhos – e pegaram peixes.

Os membros da Associação de Pescadores eram muitos e os peixes eram abundantes. Mas os pescadores continuavam sendo muito poucos.

Autor desconhecido - Tradução do inglês de Antônia Leonora van der Meer.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O QUE SIGNIFICA "ACEITAR A JESUS"? | Ray Ortlund

"Voltaram para Deus, deixando os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro.” (1 Tessalonicenses 1.9)

Você e eu não somos pessoas integradas, unificadas, inteiras. Nossos corações são multidivididos. Existe uma sala de reunião em cada coração. Uma grande mesa, cadeiras de couro, café, água mineral, quadro branco. Um comitê senta-se ao redor da mesa. Há o eu social, o eu privado, o eu trabalhador, o eu sexual, o eu recreacional, o eu religioso, e outros.  O comitê está argumentando, debatendo e votando. Constantemente agitado e irritado. Raramente, eles conseguem chegar a uma decisão unânime, incontroversa. Dizemos a nós mesmos que somos assim porque estamos muito ocupados com nossas tantas responsabilidades. A verdade, porém é: somos simplesmente divididos, hesitantes, cativos e sem foco.

Esse tipo de pessoa pode “aceitar Jesus” de uma de duas maneiras. Um jeito é convidá-lo para o comitê. Dar também a ele o poder de voto. Porém, ele se torna apenas mais uma complicação. O outro jeito de “aceitar Jesus” é dizer a ele: “minha vida não está funcionando. Por favor, entre e demita meu comitê, cada um deles. Eu me deixo todo em suas mãos. Por favor, dirija minha vida inteira para mim”. Isso não é complicação; isso é salvação.

“Aceitar Jesus” não é apenas adicionar Jesus. É também subtrair os ídolos.

Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | http://iprodigo.com/textos/o-que-significa-%E2%80%9Caceitar-a-jesus%E2%80%9D.html
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A SIMPLICIDADE INTERIOR E A VIDA INTEGRADA | Richard J. Foster