"Temos esta Esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus que nos precedeu, entrou em nosso lugar..." (Hebreus 6.19,20a)
Mostrando postagens com marcador fracasso. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador fracasso. Mostrar todas as postagens

domingo, 20 de janeiro de 2013

DO FRACASSO À REALIZAÇÃO - Osmar Ludovico


"Bem-aventurados (muito mais que felizes) os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus".
(Mateus 5.3)
Para meus amigos do coração...
CRISES E PERDAS fazem parte da existência humana. Podem acontecer na família, no trabalho ou na igreja. De repente, por razões que estão fora de nosso controle, fracassamos e nos vemos diante da dor e do sofrimento. Pode ser uma separação, uma enfermidade grave, essas crises surgem sem razão plausível; outras, por nossa culpa e responsabilidade.

No universo evangélico existe a idéia errônea de que o cristão não sofre. Basta seguir os princípios bíblicos para tudo dar certo. Quando alguém fracassa, tendemos a achar que essa pessoa não está andando nos caminhos do Senhor. Quando acontece conosco chegamos a pensar que Deus nos abandonou.

O fracasso é o fim irreparável de um determinado projeto no qual colocamos muita expectativa e energia, mas que afunda, quebra e não tem mais cura ou conserto.

Quando fracassamos, o mundo desaba sobre nós e nos vemos diante de duas possibilidades: admitir e aceitar nossa limitação, nos humilhando diante do Senhor e buscando sua ajuda; ou negar, esconder e fugir na tristeza, nos vícios, no ativismo, e no ressentimento, em vez de enfrentar.

Ao aceitarmos o conceito do fracasso, inicia-se um processo de retomada da vida e de condução à realização autêntica. O aprendizado principal é o fim da ilusão de onipotência e de autonomia. Essas duas palavras descrevem aquilo que a Bíblia chama de pecado. A onipotência (ou desejo de ser igual a Deus) é se achar forte o suficiente para enfrentar qualquer situação na vida; é a autoconfiança e a prepotências exagerados. A autonomia é pretensão de não precisar de ninguém, achando-se adequado e capacitado para resolver tudo sozinho.

O pecado nos leva a usar Deus e as pessoas para a realização de projetos pessoais sem reconhecermos a colaboração e a ajuda decisivas que recebemos para alcançá-los. O arrependimento é a dolorosa desconstrução dessa ilusão de onipotência e autonomia que herdamos com o pecado original. A pedagogia de Deus, por intermédio do fracasso, da dor e do sofrimento, coloca-nos diante de nossa finitude e nossa fragilidade para, então, nos quebrantarmos e dependermos dEle.

Nesse processo, emerge de nossas fraquezas uma força ainda desconhecida, e assim nos tornamos feridos capazes de curar – em outras palavras, consoladores que oferecem o que receberam de Deus no dia da angustia e do sofrimento. Toda realização e todo sucesso na vida deixam de ser conquistas pessoais para serem compartilhados, tornando-se motivo de glória ao Senhor da vida e gratidão às pessoas que nos ajudaram.

Na Bíblia, são muitos os exemplos de homens que fracassaram, foram restaurados e usados por Deus:

+ Jacó queria ser primogênito. Para isso, manipulou o irmão Esaú. Fugiu da parentela, vagou durante anos como exilado e fugitivo até que se tornou Israel, pai das doze tribos do povo eleito;
+ Moisés matou um egípcio e, perseguido por Faraó, escondeu-se no deserto por quarenta anos antes de se tornar o grande libertador de Israel;
+ Paulo, após sua conversão, fracassou na primeira empreitada ministerial em Damasco e fugiu na calada da noite. Passou dez anos no deserto, anônimo, antes que Barnabé o procurasse e Deus o usasse como missionário e teólogo;
+ Pedro, que se acovardou negou Cristo três vezes no dia da crucificação, humilhou-se e chorou quando seu olhar cruzou com o do Salvador; a partir daí, tornou-se líder principal da igreja nascente.

Na historia recente, conhecemos a saga de Nelson Mandela, que amargou 27 anos no cárcere antes de se tornar presidente da África do Sul e por fim à odiosa política do apartheid.

Aqueles que experimentam o fracasso podem conhecer melhor o Deus que restaura e cura.

Entre o fracasso, a plena realização e a vocação há um caminho que passa por luto, lamento, reconhecimento da finitude e da fragilidade humanas, confissão dos pecados da autonomia e da onipotência e consagração ao Senhor. Só então se pode experimentar uma profunda mudança espiritual, emocional, relacional e existencial.

Vivemos uma nova vida baseada em humildade, dependência de Deus e serviço ao próximo, estabelecendo vínculos profundos e duradouros no núcleo familiar, no contexto da igreja e da sociedade. As situações de fracasso, intensa inadequação, dor e humilhação são, portanto, transformadas nas mãos de Deus, e a vida ao lado dele se torna mais intensa, frutífera e abundante.
Extraído do livro “MEDITATIO”, de Osmar Ludovico
São Paulo, Mundo Cristão – 2007 , Páginas 87-89.
"Cada instante contigo Senhor
Que passo aos teus pés
Eu sou mais feliz..."
http://www.youtube.com/watch?v=TM0k2wDNTU0