"Temos esta Esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus que nos precedeu, entrou em nosso lugar..." (Hebreus 6.19,20a)

segunda-feira, 21 de março de 2011

RENOVANDO TODAS AS COISAS por Henri Nouwen

EXTRATOS DE RENOVANDO TODAS AS COISAS

1. Trabalho árduo

A vida espiritual é um dom. É o dom do Espírito Santo que nos eleva para o Reino do amor de Deus, mas dizer que ser elevado para o Reino do amor é um dom divino não significa que vamos esperar passivamente até que o presente seja concedido a nós.

Jesus diz que nosso coração tem de estar no Reino. Pôr o coração em alguma coisa presume não só uma aspiração séria, mas também uma forte determinação. A vida espiritual requer esforço humano. As forças que nos desviam para uma vida cheia preocupações não são fáceis de superar.

Jesus exclamou: "como é difícil aos ricos entrar no reino de Deus!" (Mc 10.23). Para convecer-nos da necessidade do trabalho árduo, Ele diz: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me" (Mt 16.24).


2. A voz mansa e suave

Uma vida espiritual sem disciplina é impossível. Disciplina é o outro lado do discipulado. A prática da disciplina espiritual nos torna mais sensíveis à voz mansa e suave de Deus. O profeta Elias não encontrou Deus no vendaval, nem no terremoto, nem no fogo e sim no murmúrio de uma brisa (I Rs 19.9-13).

Através da prática da disciplina espiritual nos tornamos atentos para a essa voz suave e dispostos a responder quando a ouvimos.

3. De uma vida absurda para a vida obediente

De tudo o que já foi dito sobre a nossa vida cheia de preocupações, fica claro que sempre estamos rodeados por tanto barulho externo que é quase impossível ouvir o nosso Deus quando Ele está falando conosco. Muitas vezes tornamos-nos surdos, incapazes de saber quando Deus nos chama e de entender o que Ele fala. Assim, nossas vidas se tornaram absurdas.

Na palavra absurdo encontramos a palavra latina surdus que significa surdo. A vida espiritual requer disciplina porque precisamos aprender com Deus, que fala constantemente, mas a quem raramente ouvimos. Quando, porém, aprendemos a ouvir, nos tornamos obedientes.

A palavra obediência vem do latim audire, palavra que significa ouvir. A disciplina espiritual é necessária para a lenta jornada de uma vida absurda para uma vida obediente, de uma vida cheia de ruídos e preocupações para uma vida em que haja algum espaço livre interior, onde podemos ouvir o nosso Deus e seguir sua orientação.

A vida de Jesus foi uma vida de obediência. Ele estava sempre escutando o Pai, sempre atento à sua voz, sempre alerta à sua direção. Jesus era um "ouvinte pleno". Esta é a verdadeira oração: ouvir a Deus plenamente. O centro de toda oração é, de fato, ouvir, permanecer em atitude de obediência na presença de Deus.

4. O esforço concentrado

A disciplina espiritual, portanto, é o esforço concentrado para criar um espaço interior e exterior em nossa vida, onde esta obediência possa ser praticada. Por meio da disciplina espiritual impedimos o mundo de preencher nossas vida de tal forma que não há lugar para ouvir. A disciplina liberta-nos para orar, ou melhor dizendo, permite que o Espírito de Deus ore em nós.

5. Tempo e Lugar

Sem a solitude é praticamente impossível viver uma vida espiritual. A solitude começa com um tempo e um lugar para Deus, e só para Ele (Leia Mateus 6). Se crermos que Deus não apenas existe, mas também está ativamente presente em nossa vida - curando, ensinando e guiando -, precisamos separar um tempo e um lugar para Lhe dedicar nossa atenção total. Jesus diz: "Vá para seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que está em secreto" (Mt 6.6).

6. Caos interior

Buscar solitude em nossa vida é um dos aspectos mais necessários da disciplina e também a mais difícil das disciplinas. Embora desejamos a verdadeira solitude, também passamos por certa apreensão a medida que nos aproximamos do seu lugar e do seu momento. Assim que nós estamos sozinhos, sem pessoas para conversar, livros para ler, TV para assistir ou tefefone para falar, um caos interior começa.

O caos pode ser tão perturbador que não vemos a hora de voltar a atividade. Portanto entrar no quarto e fechar a porta não significa que eliminamos imediatamente do nosso interior todas as dúvidas, ansiedades, medos, más lembranças, conflitos não resolvidos, sentimentos de ira e desejos impulsivos. Pelo contrário, depois de nos afastar de todas as outras distrações, logo descobrimos que nossas próprias distrações se manifestam com força total.

Em geral utilizamos as distrações exteriores como proteção contra os ruídos interiores. Por isso não é de surpreender que tenhamos dificuldades em ficar sós. O confronto com nossos próprios conflitos pode ser muito doloroso de suportar.


Isto é o que faz com que a solitude seja muito importante. A Solitude não é uma resposta espontânea de uma vida ocupada e preocupada. Existem muitas razões para não estar sozinho. Portanto, devemos começar a planejar cuidadosamente nosso tempo de solitude.

7. Escreva claramente (Agende seu compromisso com Deus)

Cinco ou dez minutos por dia pode ser tudo o que podemos tolerar para começar nesta disciplina . A quantidade de tempo irá variar para cada pessoa de acordo com o temperamento, idade, profissão, estilo de vida e maturidade. Se não reservarmos algum tempo para estar a sós com Deus e escutá-Lo é porque não levamos a vida espiritual a sério. Talvez seja preciso anotar na agenda para que ninguém, nem nada, nos tire este tempo, assim poderemos dizer aos amigos, vizinhos, alunos, clientes ou pacientes: "Sinto muito já tenho um compromisso nesse horário".

8. Bombardeado por milhares de pensamentos

Uma vez que nós nos comprometemos a passar um tempo na solitude, desenvolvemos uma atenção à voz de Deus em nós. No início nos primeiros dias, semanas ou mesmo meses, possamos ter a sensação de que estamos apenas perdendo nosso tempo. O tempo em solitude no inicio pode parecer pouco maior que o tempo em que somos bombardeados por milhares de pensamentos e sentimentos que emergem das áreas ocultas da nossa mente.

Um antigo escritor cristão descreveu o primeiro estágio da oração em solitude com a experiência de alguém que, depois de anos vivendo com as portas abertas, resolveu fechá-las. Os visitantes acostumados de entrar na casa começaram a bater à porta, querendo saber porque não podiam entrar. Só de perceberem que não são ben-vindos pararam de vir.

Esta é a experiência de quem decide entrar na solitude depois de uma vida sem alguma disciplina espiritual. No começo surgem muitas distrações. Mais tarde, quando elas recebem menos atenção, elas lentamente se retiram.

9.Tentação de fugir

É claro que o que importa é a fidelidade à disciplina. No inicio a solitude parece tão contrária aos nossos desejos que ficamos constantemente tentados a fugir dela. O meio de escapar é através dos devaneios ou simplesmente cair no sono. Contudo, quando somos fiéis à nossa disciplina, na convicção de que Deus está conosco, mesmo quando não conseguimos ouvi-lo, aos poucos descobrimos que não queremos perder nosso tempo a sós com Deus. Embora não tenhamos grande satisfação com a solitude, descobrimos que um dia sem solitude é menos espiritual que quando a temos.

10. O primeiro sinal de Oração

Sabemos por intuição que é importante dedicar tempo a solitude. Até começamos a aguardar este momento de inutilidade. O desejo de estar em solitude geralmente é o primeiro sinal de oração, a primeira indicação de que a presença do Espírito de Deus não passa mais despercebida.

À medida que nos esvaziamos das nossas muitas preocupações, passamos a perceber não só com a nossa mente, mas também com o nosso coração, que nunca estivemos realmente sós, que o Espírito de Deus esteve conosco o tempo todo. Por isso começamos a entender as palavras de Paulo: "Sabemos que os sofrimentos produzem a paciência, a paciência traz a aprovação de Deus, e essa aprovação cria a esperança. Essa esperança não nos deixa decepcionados, pois Deus derramou o seu amor no nosso coração, por meio do Espírito Santo que Ele nos deu" (Rm 5.3-6).

11. O Caminho da Esperança

Por meio da solitude conhecemos o Espírito que já foi concedido a nós. Por isso, as dores e as lutas que encontramos em nossa solitude tornam-se o caminho da esperança, porque nossa esperança não se baseia em algo que vai acontecer depois de vencermos nossos sofrimentos, mas na presença real do Espírito restaurador de Deus em meio a esses sofrimentos e lutas.

A disciplina da solitude permite-nos entrar em contato com a presença esperançosa de Deus em nossa vida e nos permite também experimentar, mesmo agora, hoje, o início da alegria e da paz que pertencem (em plenitude) ao novo céu e a nova terra.

A disciplina da solitude, como a descrevo aqui, é uma disciplina eficaz para o desenvolvimento de uma vida de oração. É uma maneira simples, mas não fácil, de nos livrarmos da escravidão de nossas ocupações e preocupações e começar a ouvir a voz que renova todas as coisas.


Henri J. M. Nouwen - Extratos do Livro RENOVANDO TODAS AS COISAS, publicado em CLÁSSICOS DEVOCIONAIS de Richard Foster e James Bryan Smith Págs. 116-124, com algumas traduções próprias diretamente do inglês .

Um comentário:

  1. O livro não é encontrado para vender nas livrarias. É possível enviar em pdf? 75074b@gmail.com

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