"Temos esta Esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus que nos precedeu, entrou em nosso lugar..." (Hebreus 6.19,20a)
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sexta-feira, 14 de março de 2014

O RIVOTRIL E A ORAÇÃO por Ricardo Barbosa


Recentemente a revista “Época” publicou uma matéria sobre o uso do Rivotril, uma droga contra a ansiedade, de baixo custo, que tornou-se o segundo remédio mais vendido no Brasil, atrás apenas do anticoncepcional Microvlar. Segundo a revista, apesar de a droga ser antiga e estar há mais de 35 anos no mercado, nos últimos cinco anos teve uma escalada impressionante de vendas, batendo inclusive analgésicos tradicionais, como Novalgina e Tylenol.

Este dado revela um cenário social preocupante sob vários aspectos. Além dos problemas mencionados na reportagem -- que vão desde o aumento dos transtornos de ansiedade e depressão na sociedade, até os milhões de dólares gastos em publicidade pela indústria farmacêutica, passando pelos atalhos usados por profissionais de saúde que não se preocupam em analisar as causas da ansiedade --, temos um quadro que desafia a fé e o chamado de Cristo.

Vivemos um tempo de muita violência, pressa, competição e medo. As inúmeras expectativas sociais, afetivas e profissionais geram inquietações e frustrações. As mudanças em diversos aspectos da vida acontecem numa velocidade enorme e tornam cada vez mais difícil para a pessoa discernir o que realmente importa e o que é possível. Os anseios internos e externos nos consomem. Amigos que requerem nosso tempo e atenção, projetos não concluídos e outros na fila à espera de tempo para serem considerados. O lar deixou de ser um lugar tranquilo. As várias televisões ligadas, a internet e os celulares transformaram o ambiente doméstico numa extensão da agitação que vivemos todo dia. Cada nova experiência nos traz exigências cada vez maiores.

Nos anos dedicados ao seu ministério público, Jesus trabalhou intensamente, enfrentou situações difíceis, violência e um complexo quadro social, político e econômico. E declarou em sua oração ao final do ministério: “Eu te glorifiquei na terra consumando a obra que me confiaste” (Jo 17.4). Compreender o significado desta declaração nos ajudará a lidar melhor com a ansiedade.

O reverendo Peter T. Forsyth disse em certa ocasião: “O pior dos pecados é a falta de oração”. Por meio da oração nós permanecemos com os olhos e a mente em Deus. Sua ausência intensifica nosso orgulho, e achamos que é possível viver sem Deus. A prática da oração nos preserva numa vida centrada na glória, no reino e na vontade de Deus. Foi assim que Jesus nos ensinou a orar.

Para muitos as tensões e ansiedades do trabalho vêm de chefes e diretores neuróticos. As incertezas do futuro, o ritmo acelerado das mudanças, a superficialidade dos relacionamentos, as exigências públicas e privadas cada vez maiores, são geradores de muita ansiedade. Porém, a oração nos ajuda a manter a vida focada em Deus, e nele aprendemos a descansar e reconhecer o que realmente importa. 

O mundo de Jesus não era diferente; ainda assim, o vemos orando, reconhecendo que havia completado a obra que lhe fora confiada. É claro que, mesmo tendo curado muitos enfermos, outros tantos permaneceram doentes. Devolveu a dignidade a algumas prostitutas, coletores de impostos e endemoninhados, mas muitos continuaram na vil escravidão. Porém, a certeza de ter cumprido a tarefa que o Pai lhe confiara veio do lugar que a oração ocupou em sua vida.

Não podemos mudar a paisagem externa (agitação, competição, violência, consumo), mas podemos mudar a paisagem interna (confiança, entrega, descanso, paz). Uma vez que a paisagem interna é transformada, podemos entrar no mundo agitado da paisagem externa e contribuir para sua transformação. 

Um momento de silêncio, meditação nas Escrituras e oração no início de cada dia muda radicalmente a paisagem interna e nos ajuda a olhar com mais serenidade a paisagem externa. Além desses minutos diários, precisamos nos recolher, pelo menos uma vez por semana, para um inventário pessoal, para ver se temos nos ocupado mais com Deus e sua vontade ou com a tirania das demandas sociais. A oração é o antídoto divino para a ansiedade.


• Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de “Janelas para a Vida” e “O Caminho do Coração”.

http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/319/o-rivotril-e-a-oracao

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

DEPRESSÃO: UMA MORTE VIVA por Esther Carrenho

Depressão é uma palavra no singular, mas que designa uma série de quadros. Há a depressão leve, a moderada e a chamada grave, ou severa. Há também as depressões que estão relacionadas ao jeito de ser da pessoa. Elas existem, mas não são acontecimentos externos que as desencadeiam – são processos que surgem de dentro para fora. E ainda há as depressões que nem deveriam merecer o nome, já que são reações de tristeza e desencanto por perdas naturais na vida; o desemprego, a saída de um filho de casa, as mudanças de qualquer tipo, a chegada da velhice ou uma doença. Melhor dizendo, tais tipos de quadros merecem mais o nome de "sintomas depressivos", necessários para a elaboração do que se foi e a adaptação à nova realidade. 

Depressão é um assunto praticamente inesgotável. Muito já foi dito escrito e descrito sobre ela, e ainda há muito para ser descoberto. Mas dois aspectos existentes em quase todos os tipos de depressão podem ser considerados positivos. O primeiro é a possibilidade de uma reviravolta na vida. Isto é, a depressão é um alerta de que a forma como a vida acontece já não é mais possível. É como uma luz no painel da existência, indicando que, se providências não forem tomadas, a vida do indivíduo entrará em pane total. Vários fatores podem interferir e provocar um estado de depressão grave, no qual a pessoa perde totalmente o ânimo. O mundo vira todo colorido de cinza; os projetos futuros desaparecem; o sono e o apetite se alteram, a realidade fica distorcida. A disposição e a vontade para atividades sociais somem por completo. Se é que ainda existe algum alivio nesse quadro, este se dá no isolamento e na solidão – e o desejo de morrer é uma realidade constante. É por essa razão que chamo a depressão de "morte viva": há na depressão um gosto de morte, sim, ou porque alguma morte já ocorreu ou porque algum tipo de ruptura precisa ocorrer, para que a pessoa possa viver melhor trilhando novos caminhos. 

O segundo sinal positivo na depressão é que, junto com o inferno que, muitas vezes, é experimentado, há também aspectos positivos a serem adquiridos enquanto se mergulha na noite escura da vida, como se refere São João da Cruz. Lembro-me de uma mulher de 35 anos que acompanhei num período de depressão profunda, durante quase seis meses. Ela podia contar com um marido e com amigos que lhe deram todo o suporte durante o período em que não via razões para continuar viva; e também com um médico, que tratou dela de forma que tivesse condições para rever sua própria vida enquanto enfrentava as trevas da depressão. Quando, finalmente, superou aquela crise, ela concluiu que a agonia profunda que experimentou fez dela um ser humano mais acolhedor e compreensivo para com as pessoas, principalmente diante daquelas que apresentam tristeza, desânimo e vontade de desistir. "Hoje, sou mais amorosa e paciente. É como se o meu espaço interior tivesse se alargado para acolher as pessoas que sofrem", constatou ela. 

As depressões requerem cuidados e atenção; e, na maioria das vezes, medicação adequada pode ajudar em muito. Mas não se pode esquecer que tais situações também cooperam com o amadurecimento e o crescimento, tanto emocional como espiritual. Elias, o profeta, é um bom exemplo disso. Ele experimentou na própria pele um estado com todos os sintomas de uma depressão grave. Deus não o condenou; pelo contrário, quando ele fugia com medo de ser assassinado pela rainha Jezabel, milagres aconteceram na sua vida. Enquanto ele só dormia, a Bíblia diz que um anjo lhe trouxe comida, para que tivesse forças para caminhar até o Horebe. Naquele monte, Deus se manifestou a ele através de uma brisa suave. Elias, então, se apresenta e Deus lhe fala de forma acolhedora e amorosa, esclarecendo que ele tinha tarefas importantes para executar e que não estava sozinho: havia 7 sete mil pessoas que criam como ele e com as quais poderia conviver. 

Até Cristo Jesus experimentou uma tristeza profunda no Jardim do Getsêmani, sentimento tão intenso que o próprio Filho de Deus o definiu como "tristeza de morte". Mas foi assumindo aquela tristeza que ele tomou a decisão final de derramar vida a todos nós, através de sua morte na cruz. Pois que tanto Elias como Cristo sejam nossos estímulos para que, caso a depressão chegue a nós, não caiamos na desesperança!