"Temos esta Esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus que nos precedeu, entrou em nosso lugar..." (Hebreus 6.19,20a)
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domingo, 29 de dezembro de 2024

NÃO CRIE FILHOS; CRIE PAIS E MÂES


Pais não criem:

Pródigos
Herdeiros
Nem filhos

Criem:
Pais e mães

Criando pródigos você faz do seu filho um consumidor materialista, individualista e egoísta. A vida dele consiste em buscar prazer e desfrutar de tudo destruindo até a árvore que dá o fruto. Ele vai comer a galinha e a vaca, ficando sem o azeite, a uva, e o pão, sem o ovo, e sem o leite; ele nunca terá um bezerro cevado para se alegrar verdadeiramente - no futuro próximo ele ficará só  querendo comer as alfarrobas. Aqui, Há uma grande oportunidade de ele cair em si e voltar pra casa do Pai e querer ser como Ele é.

Criando herdeiros você trata seu filho como empregado, ou ele se vê dessa forma. Ele vive na expectativa de um dia herdar a sua fortuna e gozar a vida gastando até o último centavo aquilo que era seu de direito. Ele não adquirirá a capacidade, nem a motivação de criar algo novo, fará a manutenção do status quo, ate o momento de possuir tudo.  E por causa da amargura não poderá gozar nem das riquezas, nem da companhia dos seus irmãos. Filhos herdeiros tem pouca chances de mudar,  pessoas assim perpetuarão a mentalidade de empregados ou servos, não de filhos.

Criando filhos deveria ser a forma mais comum, antigamente era. Há um pai e uma mãe presentes, ou um deles de forma atuante. Há mesa, há cuidado, e há educação além da "educação escolar". Os pais vivem para família e para o trabalho, eles se dividem entre ganhar e gastar; com eles mesmos, e com os filhos. Eles não estão tão preocupados em guardar dinheiro para deixar um futuro garantido, mas nos vinte e poucos anos que eles têm de convívio querem deixar memórias alegres e passar adiante valores morais.

O sonho desses pais é gozarem mais a vida quando os netos chegarem. Estes pais colocam uma carga pesada e uma alta expectativa que seus filhos retribuirão todo o investimento de uma vida dedicada a eles. Há um risco grande de frustração para todos!

Criando filhos para serem pais e mães que criam pais e mães: primeiro não existe possibilidade nenhuma de algo assim ser sonhado, muito menos  colocado em prática se Deus não for amado como Jesus O revelou: o Pai nosso! Nosso Abba é o modelo. 

Jesus em Lucas 15 conta a história do filho que saiu e do filho que ficou, mas a ênfase desse enredo está no Pai que ama de verdade sem medidas, e sem esperar nada em troca (1 Coríntios 13). 

A criação de filhos precisa ser intencional; esses filhos que nós geramos precisam ser adotados por nós. Eles são de Deus, e para darem frutos que permanecem precisamos entender que os criamos para a eternidade, não para nós mesmos, nem para este mundo que vai passar. 

O Evangelho precisa ser pregado e vivido. Dia após dia. A graça de Deus nos livrará de nós mesmos, dos nossos maiores medos, nos dará confiança da Presença de Deus em tudo. Até as nossas falhas e pecados serão usados para mostrar a graça, a misericórdia e o perdão. Ninguém se verá como perfeito, mas como dependentes do amor do Pai e tendo a graça de Jesus Cristo como modelo e destino (Efésios 4). 

O resultado de uma família que ama a Deus verdadeiramente será de gerações de bem-aventurados. E se por acaso alguns deles não derem frutos próprios, o Senhor os fará pais e mães de muitos órfãos, aliás todos serão pais e mães de muitos órfãos.

BM

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

TESTEMUNHE DAS BOAS NOTÍCIAS SOBRE JESUS


E disse-lhes: “Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas."

Jesus em Marcos 16.15

Pouco antes de Jesus deixar a terra e subir aos céus, Ele ajuntou Seus discípulos que estiveram com Ele nos últimos três anos. Enquanto estavam sentados em volta de uma mesa partilhando o pão, Jesus os comissionou a continuar o trabalho que Ele havia começado (Lucas 24.35-53).

Jesus havia passado todo o Seu ministério proclamando e mostrando com grande poder a chegada do Reino de Deus. A resposta correta a este santo anúncio seria que as pessoas abandonassem seus velhos caminhos e cressem em Jesus como o Senhor das suas vidas, do mundo natural e também do espiritual. Jesus é Criador junto com o Pai, e Deus o fez Senhor absoluto de tudo que há - do que vemos e do que não vemos.

As primeiras palavras de Jesus no Evangelho de Marcos estão no capítulo 1:15, e elas anunciam a chegada do Reino de Deus: "ARREPENDAM-SE E CREIAM NO EVANGELHO!" E também suas últimas palavras para os Seus discípulos, começando em Marcos 16:15, reforçam Seu primeiro anúncio, mas agora nos dão a razão e o propósito da Igreja: Sua missão é fazer discípulos de Jesus que fazem discípulos de Jesus...

O chamado que Jesus nos deixou foi para continuar a contar aos outros as boas novas do Evangelho, vivendo sob o Seu senhorio, e mostrando com a nossa vida o que significa padecer pelo Evangelho para ganharmos a Vida abundante que Ele nos prometeu. Ele disse que rios de águas-vivas fluiriam dos que viessem a Ele com sede de Deus (João capítulos 7 e 8).

Estas boas novas são que embora o nosso pecado tenha nos separado de Deus, uns dos outros, de nós mesmos (do nosso verdadeiro eu, que sempre esteve em Cristo), e do mundo criado -
Jesus encarna (deixa a Sua habitação celestial e se torna homem), vive por 30 anos como gente do seu tempo (mas sem pecado algum), e logo após seu batismo nas águas do rio Jordão inaugura o Reino de Deus entre nós. E através da Sua morte e da Sua ressurreição prova definitivamente que é o Filho de Deus, o Ungido prometido!

Deus deu Seu único Filho para que tivéssemos diante de nós um novo e vivo caminho que só Ele abriu. Rasgando o véu de cima abaixo, Deus nos deu a oportunidade de uma nova vida nEle. 
Essa nova vida é obra do Espírito Santo de Deus!

Essa missão de evangelizar, ou falar de Jesus para os outros, é o que Ele ensinou aos Seus primeiros discípulos (mais tarde os chamou de 'amigos'- João 15.5). Pouco antes de Jesus voltar ao Pai, Ele ordenou que Seus seguidores continuassem o Seu trabalho de proclamar o Evangelho, testemunhando (martírios) com suas vidas o que viram e ouviram. As suas experiências reais com o Deus vivo - Cristo Jesus, e tudo que Ele fez, dando-lhes também AUTORIDADE pra continuar fazendo: destruir as obras de satanás, fazendo o bem por onde for! 

Viver com Jesus, fazendo a Vontade do Pai e cumprindo a Sua missão, me lembrou daquele hino/Oração antiga que a tradição atribui a Francisco de Assis (Giovanni seu nome de batismo, João em português):

"Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz."

Contar aos outros sobre o que Jesus fez para redimir e salvar a humanidade é uma das coisas mais importantes que podemos fazer com o nosso tempo. Para Gente como você e eu foi nos dada a maior dádiva de todas: uma vida eterna com Deus que começa aqui e agora - e será plena quando Jesus vier em Glória novamente.

Esse dom que recebemos gratuitamente está disponível graciosamente para o restante do mundo também - vide João 3.16 - para tantos quantos Deus quiser chamar. Porém Ele não usa anjos para proclamar as boas novas de Jesus, e sim pessoas que foram transformadas pelo Poder do Evangelho!

Então tire um tempo hoje para orar por aqueles em sua vida que não conhecem a esperança e salvação que Jesus provê. Agradeça por sua salvação, mas também ore por oportunidades para compartilhar sua fé com eles. O amor de Deus demonstrado em Jesus é tremendo, e tem um poder de transformar o mais vil dos pecadores em um filho amado de Deus. 

Falar de Jesus para os outros não significa só ter que ficar numa esquina gritando, ou chamá-los para um culto, mas significa que você deve buscar conversas intencionais e atenciosas com as pessoas, desenvolvendo verdadeiras amizades para sermos benção de Deus, o sal e a luz de Cristo na vida de todos. E quando contamos a elas sobre a nova vida e o novo Reino disponível, damos continuidade a obra que Jesus nos confiou a fazer.

Lembre-se o que Jesus disse e prometeu:

"Jesus lhes disse: "Vão ao mundo inteiro e anunciem as boas-novas a todos. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem se recusar a crer será condenado" (Marcos 16:15‭-‬16).

E em Mateus Jesus fala da Sua total autoridade, nossa missão, e Sua promessa de Companhia em cada passo nosso, enquanto estivermos no propósito de levar Seu doce Nome por onde formos:

"Jesus se aproximou deles e disse: “Toda a autoridade no céu e na terra me foi dada. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinem esses novos discípulos a obedecerem a todas as ordens que eu lhes dei. E lembrem-se disto: estou sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mateus 28.18‭-‬20).

Devocional YouVersion adaptado por BM
...

Sobre o mesmo tema, com outra perspectiva:

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

MAIS ALGUMA PERGUNTA? Por Ed René Kivitz

– Quem são vocês?
– Somos seguidores de Jesus Cristo.
– Então vocês são cristãos, como dizem por aí?
– Isso.
– Onde estão seus sacerdotes?
– Não temos sacerdotes.
– Mas todas as religiões têm seus homens sagrados.
– Isso nós temos.
– "Isso" o quê?
– Homens sagrados.
– Quantos são?
– Não fazemos a menor ideia.
– Como assim? Onde eles estão?
– Espalhados pelo mundo.
– Onde, por exemplo?
– Aqui.
– "Aqui" onde?
– Nós.
– "Nós" quem? Vocês?
– Isso.
– Ah, tá bom!
– …
– Quer dizer que vocês são os homens sagrados da religião de vocês.
– Não, não somos os homens sagrados da nossa religião. Somos apenas homens sagrados.
– Então vocês são sacerdotes?
– Mais ou menos.
– Mais ou menos como?
– Somos sacerdotes, mas não como você está pensando.
– E como eu estou pensando?
– Você está pensando que somos autoridades religiosas.
– E não são?
– Não.
– Por quê? Vocês são contra as autoridades?
– Não.
– Mas acabaram de dizer que não têm autoridades religiosas.
– Não, não foi isso o que dissemos. Você entendeu errado.
– Então o que é que vocês estão dizendo?
– Estamos dizendo que não somos autoridades religiosas.
– Mas são sacerdotes.
– Sim.
– Não estou entendendo.
– Não, não está.
– Então expliquem.
– Todos os seguidores de Jesus Cristo são sacerdotes.
– E quem é o maior entre vocês?
– Jesus Cristo.
– Mas ele está morto.
– Não, está vivo.
– "Vivo" como?
– Vivo, oras.
– Como "vivo, oras"?
– Vivo em nós, no meio de nós, sobre nós, exatamente aqui e agora.
– Aqui?
– Também.
– Em todo lugar?
– Isso.
– Somente Deus está em todo lugar.
– Então…
– Como assim? Vocês pensam que ele é Deus?
– Sim.
– Então vocês não são apenas seguidores de Jesus Cristo. Na verdade, são adoradores de Jesus Cristo.
– Isso.
– E onde fica o templo de vocês?
– Não temos templo.
– Como não têm templo?
– Não precisamos de templo.
– Por que não?
– Precisávamos de templo quando oferecíamos sacrifícios a Deus.
– E vocês não prestam mais culto ao seu deus?
– Daquele jeito, não.
– Que jeito?
– Sacrificando animais.
– E por que vocês não sacrificam mais ao seu deus?
– Nós sacrificamos.
– Mas acabaram de dizer que não oferecem mais sacrifícios de animais.
– Isso.
– "Isso" o quê?
– Não sacrificamos mais animais.
– E por que não?
– Porque não é mais necessário.
– E por que não é mais necessário?
– Porque Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
– Então vocês não precisam mais prestar culto ao seu deus?
– Você ainda não entendeu.
– Então expliquem!
– Não precisamos mais ir ao templo oferecer sacrifícios de animais. Mas isso não significa que não prestamos culto ao nosso Deus.
– E que tipo de sacrifício vocês oferecem ao deus de vocês?
– Nós mesmos.
– Como assim?
– A nossa vida toda é um sacrifício a Deus.
– Como assim?
– Tudo o que fazemos, fazemos para a glória do nosso Deus.
– "Tudo" o quê?
– Tudo. A vida toda é um culto a Deus.
– Tudo, tudo?
– Pelo menos é o que tentamos.
– Mas há uma coisa especial que vocês fazem como um ato de adoração ao seu deus?
– Sim e não.
– Como assim?
– Não, porque, como dissemos, tudo o que fazemos é ato de adoração. Porque na verdade não é o que fazemos ou deixamos de fazer que é o ato de adoração, mas nós mesmos, isto é, a nossa vida em si.
– Como assim?
– Você não ouviu a gente dizer que somos seguidores de Jesus Cristo?
– Sim. E daí?
– Daí que seguimos os passos dele. E se ele morreu, também morremos. E se ele ressuscitou pelo poder de Deus, nós também ressuscitamos. E agora não vivemos mais para nós mesmos, mas para o nosso Deus, que nos deu vida.
– Acho que estou entendendo.
– Mesmo?
– Sim. Vocês não têm sacerdotes, não têm templo, não oferecem sacrifícios de animais.
– Isso.
– Mas vocês têm uma coisa especial que fazem como ato de adoração ao seu deus?
– Sim e não.
– Já entendi a parte do "não". Vocês não têm uma coisa especial porque tudo o que fazem é adoração. Na verdade, vocês mesmos são o ato de adoração, porque agora vivem para o deus de vocês.
– Isso.
– Mas e a parte do "sim"?
– A parte do "sim" é que temos, sim, uma coisa especial que fazemos para o nosso Deus.
– O quê?
– Cuidamos das pessoas.
– Quais pessoas?
– Aquelas de quem somos próximos.
– Como assim? Quem são elas?
– Todas as que cruzam o nosso caminho.
– Eu, por exemplo?
– Sim, você.
– Mas, como assim, cuidam das pessoas como ato de adoração? Então vocês adoram as pessoas?
– Não, não é isso. É que vemos Jesus Cristo nas pessoas, especialmente naquelas que estão sofrendo, nas que têm fome, sede, estão presas, doentes, por exemplo.
– Acho que está ficando mais claro…
– Que bom que está entendendo.
– Deixa eu ver se entendi.
– Fala.
– Vocês não têm templo porque não precisam mais fazer sacrifícios, e por isso não precisam mais ir ao templo.
– Isso.
– Pelo mesmo motivo não têm sacerdotes, pois não precisam mais de pessoas que façam os sacrifícios por vocês, já que vocês, isto é, a vida de vocês é que é o sacrifício.
– Muito bem.
– De fato, tudo o que vocês fazem é para o deus de vocês, especialmente cuidar das pessoas que precisam.
– Isso.
– Tenho mais uma pergunta.
– Pois não.
– Qual é o dia sagrado de vocês?
– Também não temos.
– Vai dizer que vocês vivem desse jeito todos os dias?
– Nossos antepassados tinham um dia sagrado: o sábado. Mas isso era no tempo quando precisávamos ir ao templo levar os animais para que os nossos sacerdotes fizessem os sacrifícios. Agora que nos entregamos ao nosso Deus como sacrifício vivo, o verdadeiro ato de adoração é viver para ele.
– E como é que vocês vivem para Deus?
– Vivendo para o próximo.
– Então todos os dias são sagrados para vocês?
– Isso.
– Essas coisas que vocês disseram têm um nome?
– Explique melhor.
– Isso aí é o que chamam de Cristianismo?
– Não.
– Mas o Cristianismo não é a religião de Jesus Cristo?
– Não.
– Como não?
– Cristianismo é a religião de Constantino.
– O imperador romano?
– Isso.
– Por quê?
– Porque foi Constantino quem começou a montar de novo tudo o que Jesus Cristo havia desmontado.
– Como assim?
– Jesus ensinou que não precisamos mais de templos, sacerdotes, sacrifícios e dias sagrados. Ensinou que Deus é espírito e importa que os que o adoram, o adorem em espírito e em verdade.
– Isso é o que vocês dizem que é fazer da própria vida um ato de adoração?
– Isso mesmo.
– E o tal do Constantino?
– Então: foi ele quem começou a construir templos dedicados a Deus, oficializou um dia da semana para os cultos, inventou que prestar culto a Deus é uma coisa que se faz nos templos, nomeou sacerdotes, e começou essa confusão que você está vendo.
– Então isso que vocês explicaram não tem nome?
– Tem.
– E qual é?
– Evangelho.
– Ah, já ouvi falar, mas pensava que era a mesma coisa que Cristianismo.
– Mas não é.
– Sei.
– …
– Mas tem mais uma coisa que não estou entendendo.
– O que é?
– Só mais uma pergunta.
– Pode fazer.
– Por que é que inauguraram um Templo de Salomão em São Paulo?
– Não sabemos.
– Mas eles também não são seguidores de Jesus Cristo?
– Também não sabemos, pergunte para eles.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

ONDE ESTÁ O AMOR, DEUS TAMBÉM ESTÁ por Liev Tolstói

Havia numa cidadezinha um sapateiro chamado Mikail Avdeievitch. Morava num porão cuja única janela dava para a rua, na altura do chão. Embora visse apenas os pés de quem passava pela rua, Mikail conhecia todas as pessoas pelos sapatos que usavam. Como já era velho e competente em seu trabalho, era raro um par de botas que não houvesse passado por suas mãos, fosse para um remendo, uma meia-sola ou para colocar um novo cano. Assim, era comum ver passar pela janela uma obra sua.

Mikail estava sempre muito ocupado, pois trabalhava com perfeição, usava material de boa qualidade, não cobrava caro e entregava no prazo prometido. Por isso todos o estimavam e nunca lhe faltava serviço.


Sempre fora um homem bom mas, ao envelhecer, começou a se preocupar com sua alma e queria se aproximar de Deus. Sua mulher tinha morrido quando ele ainda era aprendiz, deixando um filho de três anos. Haviam tido outros filhos antes, mas todos tinham morrido. Ao se ver só com o menino pensou em mandá-lo para a casa de um tio, na aldeia, mas ponderou: “Será muito triste para o pequeno Karp viver longe de mim. É melhor ficar mesmo comigo”.

Pouco tempo depois, despediu-se do patrão e abriu sua própria oficina. Deus, porém, não velava muito por seus filhos. Quando o que lhe restara se tornou rapaz e começou a ajudá-lo, adoeceu e morreu em uma semana.

Mikail enterrou o filho. A perda feriu-lhe de tal modo o coração que chegou a murmurar contra a justiça divina. Sentia-se tão infeliz que implorava a Deus que lhe tirasse também a vida. Censurava o Senhor por não levar a ele, que já era velho, em lugar do filho único tão querido, e deixou de ir à igreja.

Um dia, na época da Páscoa, chegou à casa do sapateiro um conterrâneo seu que há oito anos percorria o mundo como peregrino. Conversaram muito tempo e Mikail se queixou amargamente da sua desgraça.

- Perdi o desejo de viver, agora só espero a morte. Peço a Deus que me leve, pois não tenho mais ilusões na vida.

- Não fale assim, Mikail. Os homens não devem julgar a vontade do Senhor, pois suas razões estão acima do nosso entendimento. Se Ele decidiu que seu filho morresse e você vivesse, tem que ser assim. Você se desespera porque só quer viver para sua própria felicidade.

- E para que viver, se não para isso? - perguntou o sapateiro.

- É preciso viver para Deus. É ele quem dá a vida e para ele devemos viver. Quando entender isso, seu sofrimento terminará e você suportará tudo com paciência e resignação.

Mikail ficou calado por um momento, e disse:

- E como se vive para Deus?

- Como Cristo ensinou. Você sabe ler? Pode aprender nos Evangelhos. Na Sagrada Escritura você encontrará resposta para todas as perguntas.

Essas palavras calaram fundo no coração de Mikail. No mesmo dia comprou um exemplar do Novo Testamento, impresso em letras bem grandes, e começou a ler.

Pretendia pegá-lo somente nos dias de folga, mas o texto lhe trazia tal consolo à alma que foi adquirindo o hábito de ler algumas páginas todos os dias. Às vezes se entretinha de tal modo que só deixava o livro quando o óleo da lâmpada terminava.

Lia todas as noites. À medida que progredia na leitura, ia compreendendo com maior clareza o que Deus exigia, como viver para Deus, e a alegria penetrava docemente em sua alma.

Acostumado a ir se deitar gemendo e suspirando com a lembrança dos filhos, agora dizia:

- Glória a Deus, glória ao Senhor, pois essa foi a sua vontade.

A vida do sapateiro transformou-se completamente. Antes, nos dias de festa, ia para a taberna tomar chá e, por vezes, um gole de vodca com os amigos. Nessas ocasiões saía da taberna não propriamente embriagado, mas um tanto eufórico, e dizia bobagens, chegava a insultar quem encontrava no caminho.

Agora tudo mudara. Sua vida transcorria em harmonia e paz. Punha-se a trabalhar ao amanhecer e, terminado o dia, colocava a lâmpada sobre a mesa, tirava o livro da prateleira e sentava-se para ler. Quanto mais lia, melhor compreendia e uma suave serenidade envolvia-lhe a alma.

Uma noite estendeu a leitura até bem tarde e, chegando ao capítulo VI do Evangelho de São Lucas, encontrou os seguintes versículos:

“Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. Ao que te tirar o manto, não o impeças de levar também a túnica. Dá a todo aquele que te pede; e ao que leva o que é teu, não lhe tornes a pedir. O que quereis que vos façam os homens, fazei-o também a eles”.

A seguir, leu que o Senhor disse:

“Por que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos digo? Todo aquele que vem a mim, que ouve minhas palavras e as põe em prática, eu vos mostrarei a quem ele é semelhante. É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou profundamente e pôs os alicerces sobre a rocha. Vindo uma inundação, investiu a torrente contra aquela casa e não pôde movê-la, porque estava bem edificada. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou a sua casa sobre a terra, sem fundamentos. Investiu a torrente contra ela e logo caiu, e foi grande a ruína daquela casa.”

Ao ler essas palavras, seu coração se inundou de alegria. Deixou os óculos sobre o livro e apoiou os cotovelos na mesa, imerso em reflexão. Comparou seus próprios atos a essas palavras, e disse:

- Minha casa está fundada sobre rocha ou sobre areia? Seria bom se estivesse apoiada na rocha. A felicidade nos domina quando estamos em paz com a consciência, procedendo como Deus quer. Quando nos esquecemos de Deus podemos cair outra vez em pecado. Continuarei como estou, pois sinto que é bom. Que Deus me proteja!

Mergulhado nesses pensamentos, resolveu ir se deitar. Mas relutava em largar o livro e começou o sétimo capítulo. Leu a história do centurião, a do filho da viúva e a resposta de Jesus aos discípulos de São João. Chegou ao trecho em que o rico fariseu convidou Jesus para ir à sua casa, onde a pecadora ungiu-lhe os pés e os lavou com suas lágrimas e Ele perdoou-lhe os pecados, e leu ainda:

“E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, não me deste água para os pés; ela, com as suas lágrimas me banhou os pés, e enxugou-os com os cabelos. Não me deste o ósculo da paz; porém ela, desde que entrou, não cessou de beijar os meus pés. Não ungiste minha cabeça com bálsamo, porém esta ungiu com bálsamo os meus pés.”

Ao ler esse versículo, Mikail pensou: “Não lhe deu água para os pés, não o beijou, não ungiu a cabeça dele com bálsamo...” Tornou a tirar os óculos, colocou-os sobre o livro e voltou às reflexões. “Aquele fariseu deve ter sido como eu. Ele também só pensava em si mesmo - tomar o seu chá, estar agasalhado, confortável, nem um pensamento para o hóspede. Cuidava de sua vida e nem pensava no conforto do convidado. E quem era esse convidado? O próprio Deus! Se Ele viesse me visitar, eu faria a mesma coisa?”

Mikail apoiou a cabeça nos braços cruzados sobre a mesa e, sem se dar conta, adormeceu.

- Mikail! - disse uma voz de repente, sussurrando em seu ouvido. Despertou assustado. - Quem é? - perguntou.

Olhou em volta, olhou para a porta, não viu ninguém. A voz tornou a chamar, desta vez com mais clareza.

- Mikail, Mikail! Olha para a rua amanhã, pois eu virei.

Mikail levantou-se da cadeira, esfregando os olhos, sem saber se ouvira as palavras num sonho ou acordado. Apagou a lâmpada e foi dormir.

No dia seguinte levantou-se antes do amanhecer, fez suas orações e acendeu o fogo para preparar a sopa de repolho e o mingau. Mantendo acesa a chama do samovar, vestiu o avental e sentou-se junto à janela para trabalhar.

Não conseguia afastar o pensamento do que acontecera na véspera, sem saber se fora uma alucinação ou se alguém falara realmente.

- São coisas que acontecem na vida - disse a si mesmo.

Continuava a trabalhar, espiando de vez em quando pela janela e, quando passavam botas desconhecidas, levantava-se para ver o rosto da pessoa.

Passou um carregador calçando botas novas de camurça, passou um velho soldado do tempo de Nicolau, com botas de cano alto tão velhas e remendadas quanto ele próprio. Esse soldado chamava-se Stepanovitch. Morava na casa de um comerciante da vizinhança, que o acolhia por caridade. Para dar-lhe uma ocupação condizente com a idade avançada, encarregara-o de ajudar o porteiro.

Stepanovitch parou em frente à janela e, com uma pá, começou a tirar a neve da rua. Mikail olhou para ele e continuou a trabalhar.

- Sou mesmo um tolo - disse ele, rindo de si mesmo. - Stepanovitch está limpando a neve e imagino que Cristo vem me visitar. Estou delirando. Estou louco.

Mal tinha dado dez pontos, porém, voltou a olhar pela janela e viu a pá encostada à parede e o velho soldado tentando se aquecer. “Esse infeliz está muito velho - pensou Mikail. - Já não tem forças para tirar a neve. Uma xícara de chá lhe faria bem. E o samovar está fervendo.”

Cravou a sovela no tamborete, levantou-se, pôs o samovar na mesa, colocou mais água e deu uma pancadinha na janela. Stepanovitch virou-se. Mikail fez-lhe um sinal e foi abrir a porta.

- Entre. Venha se aquecer, você deve estar com frio.

- Valha-me Deus! Muito frio! Os ossos chegam a doer - disse o velho.

Sacudiu a neve dos pés, para não sujar o chão e quase caiu ao entrar, tão trôpego estava.

- Não se preocupe com a neve nos pés. Vou ter mesmo que varrer o chão; não faz mal sujá-lo. Venha, vamos tomar um chá.

Mikail serviu duas xícaras de chá escaldante e deu uma ao hóspede. Derramou um pouco no pires e soprou para esfriá-lo.

Ao terminar, o soldado colocou a xícara emborcada no pires e, em cima dela, o resto do tablete de açúcar. Agradeceu ao sapateiro, mas estava claro que tomaria de bom grado mais uma xícara do chá quente.

- Tome mais - disse Mikail, enchendo de novo as duas xícaras. A cada gole, olhava pela janela.

- Está esperando alguém? - perguntou o convidado.

- Se estou esperando alguém? Tenho vergonha de dizer a quem espero. Nem sei se tenho razão para esperar ou não, mas ontem à noite ouvi uma coisa que não me sai da cabeça. Se foi verdade ou fantasia, não sei. Sabe, meu amigo, ontem à noite eu estava lendo o Evangelho... Jesus sofreu muito entre os homens! Já ouviu falar nisso, não?

- Sem dúvida, já ouvi falar, mas sou ignorante, não sei ler...

- Pois eu estava lendo a história de Jesus na Terra e cheguei à parte em que ele foi à casa de um fariseu que não o recebeu bem... Depois fiquei pensando como seria possível não receber bem Jesus Cristo. Se acontecesse a mim, nem sei o que faria em sua honra! Mas o fariseu não o tratou bem. Enquanto pensava nessas coisas, adormeci. De repente, ouvi alguém dizer meu nome. Acordei, e parecia que alguém sussurrava: “Espere, que eu virei amanhã.” Disse duas vezes seguidas. E por incrível que pareça, apesar de ter vergonha de acreditar nisso, estou esperando a visita do Senhor!

O soldado balançou a cabeça sem nada dizer, terminou de beber o chá e emborcou a xícara, mas Mikail tornou a enchê-la.

- Tome mais, o chá faz bem. Acho que o Senhor nunca rejeitou ninguém, quando andava pelo mundo. Andava com os humildes, visitava os pobres. Os discípulos eram gente simples como nós, pescadores, artesãos. “O que se exalta será humilhado e o que se humilha será exaltado... Chamais-me Senhor e eu vos lavo os pés; aquele que quiser ser o primeiro deve ser o servidor dos demais. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.”

Stepanovitch tinha esquecido sua xícara de chá. Era um velho sensível. Ouvindo as palavras de Mikail, as lágrimas corriam pelo seu rosto.

- Vamos, tome mais - disse o sapateiro.

O soldado fez o sinal da cruz, agradeceu e, afastando a xícara, se pôs de pé.

- Agradeço muito, Mikail por me receber tão bem, satisfazendo ao mesmo tempo meu corpo e minha alma.

- Estou sempre ao seu dispor. Venha sempre que quiser, tenho prazer em recebê-lo.

- Quando Stepanovitch saiu, Mikail terminou seu chá e voltou a se sentar junto à janela para trabalhar.

Enquanto costurava, espiava pela janela pensando em tudo o que tinha lido, em tudo o que Jesus dissera.

Passaram dois soldados; um calçava botas do Governo e o outro botas dele mesmo. Depois passou um nobre de galochas e, em seguida, um padeiro carregando um cesto.

Apareceu uma mulher em meias de lã e sapatos de camponesa. Passou em frente à janela e encostou-se à parede. Através da vidraça, Mikail olhou para aquela desconhecida com uma criança nos braços, de costas para o vento. Em vão procurava abrigar a criança, pois não tinha com que envolvê-la. Apesar do frio, a mulher usava roupas de verão, velhas e gastas.

Junto à janela, Mikail ouvia o choro do bebê e via os inúteis esforços da mãe para consolá-la. Levantou-se, abriu a porta e, indo até a rua, gritou:

- Ei, ei, você! Está ouvindo?

A mulher voltou-se para ele.

- Não fique aí nesse frio com a criança. Entre aqui. Pode aquecê-lo melhor aqui dentro. Entre...

A mulher olhou, surpresa, aquele velho de avental e óculos na ponta do nariz que lhe fazia sinais para entrar, mas aceitou.

Desceram os degraus até o pequeno cômodo.

- Venha, sente-se aqui, junto ao fogão. Venha se aquecer para dar de mamar ao menino.

- Não tenho mais leite. Não como nada desde a manhã - disse a mulher, dando mesmo assim o peito à criança.

O sapateiro olhou para o outro lado. Pegou na mesa um pedaço de pão e uma tigela, foi ao fogão e encheu a tigela de sopa. Vendo que o mingau ainda não estava bem cozido, cobriu a mesa com uma toalha, pôs os talheres e serviu só a sopa e o pão.

- Sente-se, venha comer. Eu cuido do menino. Também já tive filhos, sei lidar com crianças.

A mulher fez o sinal-da-cruz, sentou-se à mesa e começou a comer. Mikail deitou o menino na cama e sentou-se ao lado. O menino chorava e Mikail fingiu ameaçá-lo, levando o dedo ao rostinho, mas sem tocá-lo, porque sua mão estava suja de alcatrão. Atento ao movimento do dedo, o bebê parou de chorar e começou a rir.

Enquanto comia, a mulher contou de onde vinha.

- Meu marido é soldado, mas faz oito meses que o levaram e não tenho notícias dele. Trabalhei como cozinheira, mas depois que o bebê nasceu não me quiseram mais. Não trabalho há três meses; já gastei tudo o que tinha. Tentei ser ama-de-leite, mas dizem que estou muito magra e não me aceitam. Fui à casa de uma mulher, onde minha filha trabalha, e me prometeram trabalho, mas só daqui a uma semana... Ela mora muito longe. Fiquei muito cansada e o bebê também. Minha patroa teve pena de mim e nos deixa dormir na casa dela, graças a Deus. Senão, não sei o que seria de nós.

- Não tem uma roupa mais quente? - perguntou o sapateiro.

- Não. Empenhei meu último xale de lã ontem, por vinte copeques.

A mulher foi até a cama pegar a criança. Mikail procurou entre as roupas penduradas na parede e encontrou um velho manto de lã.

- Tome. Está bem usado, mas serve para aquecer.

A mulher olhou para o agasalho, olhou para o sapateiro e, pegando o presente, desatou a chorar. Comovido, Mikail abaixou-se e pegou um bauzinho que estava sob a cama. Remexeu no baú e sentou-se diante da mulher.

- Deus lhe pague - ela disse. - Foi Ele quem me trouxe à sua janela. Não estava tão frio quando saí, mas agora meu filho estava quase congelando. Foi Deus que fez você olhar pela janela e ter compaixão de nós.

Mikail sorriu.

- Sim, foi Deus. Não olhei por acaso - e Mikail contou à mulher que ouvira a voz dizer que Jesus viria à sua casa.

- Tudo pode acontecer - disse ela, levantando-se.

Pegou o manto, enrolou o menino e agradeceu, inclinando-se diante do sapateiro.

- Tome isso, em nome de Deus - ele disse, passando à mão dela uma moeda de vinte copeques. - É para resgatar seu xale.

A mulher fez o sinal-da-cruz. Mikail imitou o gesto e acompanhou-a até a porta.

Depois da sopa, Mikail voltou ao trabalho. Enquanto manejava a sovela, espiava a rua. A cada vulto que se aproximava, levantava os olhos para ver quem era. Alguns eram conhecidos, outros não.

A certa altura, uma velha vendedora de maçãs parou em frente à janela. Restavam poucas maçãs na cesta; certamente já vendera a maior parte. Ela carregava nas costas um saco de gravetos que devia ter apanhado perto de alguma carvoaria e agora levava para casa. Parecia que o ombro lhe doía ao peso do saco e queria trocá-lo de lado. Deixou a cesta no vão da janela e pôs o saco no chão. Enquanto se ocupava em ajeitar os gravetos dentro do saco, apareceu um garoto e roubou uma das maçãs. Antes que conseguisse fugir, a velha agarrou-o pela manga. Ele se debatia, tentando escapar, mas a velha arrancou-lhe o gorro e puxou seus cabelos. O garoto gritava e a velha estava furiosa.

Sem perder tempo em fincar a sovela, Mikail largou-a no chão e correu para a porta. Subiu os degraus aos tropeções, seus óculos caíram na correria e ele chegou à rua. A mulher batia no menino e puxava seus cabelos, ameaçando entregá-lo à polícia. O garoto continuava a se debater, negando o furto da maçã.

- Não tirei nada! Por que está me batendo? Me solte!

- Mikail separou os dois, segurou a mão do menino e disse:

- Solte-o. Perdoe o menino.

- Perdoar? Ele nunca vai se esquecer de mim. Vou levá-lo à polícia agora mesmo! Ladrão!

- Por favor, solte o menino. Ele não vai mais fazer isso. Deixe-o, em nome de Cristo.

A velha soltou o garoto. Antes que ele saísse correndo, Mikail segurou-o.

- Peça perdão e nunca mais faça isso. Eu vi você pegando a maçã.

O menino começou a chorar e pediu perdão, soluçando.

- Não chore. Tome, eu dou essa maçã para você - disse Mikail, tirando uma maçã da cesta e entregando-a ao menino.

- Está mimando demais esse ladrãozinho - disse a velha. - Seria melhor dar-lhe uma surra para ele se lembrar a semana inteira.

- Nós pensamos assim, mas Deus não nos julga assim. Se é certo surrar esse menino por causa de uma maçã, o que Deus terá que fazer conosco por causa de nossos pecados?

A velha ficou calada. Então Mikail contou-lhe a parábola do Senhor que perdoou a dívida do servo e o mesmo servo quis esganar um devedor. A velha e o menino ouviam, quietos.

- Deus nos ensina a perdoar - disse Mikail - para sermos perdoados. Perdoar a todos, e mais ainda a um garoto sem juízo.

A velha concordou com um aceno de cabeça e suspirou.

- É verdade - ela disse - mas eles estão muito mal-educados.

- Então nós, mais velhos, devemos educá-los melhor.

- Eu sempre achei - ela concordou. - Eu tive sete filhos, e só resta uma filha - e a velha contou que morava com a filha e os netos. - Já estou velha e fraca, mas trabalho muito para cuidar dos meus netos. São crianças lindas! Tão carinhosos comigo! Aksiutka, então, só quer ficar comigo. É só “vovozinha, vovozinhaquerida” - enquanto falava ia ficando comovida.

- Claro que foi só criancice - ela disse, referindo-se ao garoto. - Vai com Deus, meu filho.

Estava prestes a pôr o saco no ombro quando o menino disse:

- Deixe-me levar o saco para a senhora. Também vou para esse lado.

A velha aceitou e se foram. Ela nem se lembrou de cobrar a maçã a Mikail. O sapateiro ficou olhando os dois se afastarem, conversando. Entrou em casa, encontrou os óculos caídos na escada, inteiros, pegou a sovela e voltou a trabalhar. Logo não havia mais luz suficiente para costurar e Mikail viu passar na rua o acendedor de lampiões. “Preciso acender a lâmpada”, pensou. Encheu de óleo o candeeiro, pendurou-0 e continuou o serviço. Terminou uma bota, examinou-a e aprovou o trabalho. Guardou as ferramentas, arrumou os cordões e sovelas, varreu os retalhos e colocou a lâmpada na mesa. Pegou o Evangelho na prateleira. Pretendia continuar onde tinha parado na véspera, mas o livro se abriu em outra página. O sonho voltou-lhe à mente e julgou ouvir passos no canto mais escuro, mas não distinguia bem quem eram. Uma voz sussurrou em seu ouvido:

- Mikail, Mikail, não me conhece?

- Quem é você? - ele murmurou.

- Sou eu - disse a voz. - Sou eu mesmo.
E Stepanovitch saiu sorrindo do canto escuro e desapareceu, desfazendo-se numa nuvem.

- Sou eu - disse a voz.
E da penumbra saiu sorrindo a mulher carregando a criança, que também sorria, e desapareceram.

- Sou eu - disse a voz.
E Surgiram a velha e o garoto com uma maçã na mão e desapareceram sorrindo.

O sapateiro sentiu uma intensa alegria no coração. Fez o sinal-da-cruz, pôs os óculos e começou a ler o Evangelho na página aberta.

“Tive fome e deste-me de comer; tive sede e deste-me de beber; eu era estrangeiro e me acolheste.” Mt 25.25

No final da página, estava escrito:

“O que tiverdes feito pelo menor dos meus irmãos, é a mim que fizestes.” Mt 25.40


Mikail compreendeu então que seu sonho fora verdadeiro. O Salvador viera à sua casa naquele dia e ele o havia acolhido. 


Liev Tolstói

quinta-feira, 2 de maio de 2013

ENCONTRAR DEUS por Ariovaldo Ramos

Deus existe, criou o universo, sua vontade é o padrão da criação, ou seja, tudo o que não anda conforme sua ordenação está em estado disfuncional. Ele está fora e dentro do universo, se revelou através do povo de Israel e, perfeitamente, em Jesus de Nazaré, por meio de cujo sacrifício salvou o universo salvando o homem de sua queda, e deixou um livro, a Bíblia, para explicar isso tudo.

Então, qual é o segredo? Por que relacionar-se com Deus se tornou algo tão cheio de burocracias? Por que a gente parece que tem de entrar num concurso vestibular para realmente alcançar o conhecimento de Deus? Não seria muito mais lógico explicar para as pessoas o que significou todo o movimento de Deus para salvar a humanidade, e toda a criação, e colocá-las em contato com Ele e pronto?

Qual é a dificuldade para falar com Deus, se Ele é a maior realidade do universo? Para que tantos intermediários? Por que tanto templo e tanto ritual? Se basta dois ou três reunidos em nome de Jesus, e, pronto: eis a Igreja instalada? Uma vez que Deus é mais real do que o ar que respiramos, por que tanta celeuma, tanto sacerdote? Se estes dois ou três são suficientes para que haja eucaristia e batismo? Já pensou se fosse assim para respirar o ar? Certamente estaríamos todos mortos por asfixia! E se Deus está perto de todos os que o invocam, por que não simplesmente invocá-lo, sabendo que Ele está em todo o lugar, e que Cristo abriu o caminho de contato com ele?

Tem mais, há alguém que, porventura, fica a repetir o tempo todo, oh ar, que bom que você está aqui para que eu possa respirá-lo? Ora, a gente simplesmente respira. Por que com Deus não é assim? Por que a gente não o vive simplesmente, sabendo que nele estamos todos, que podemos invocá-lo a toda hora?

Sabe, há muita embromação religiosa em torno do relacionamento com Deus, muita coisa acrescentada por gente que quer ganhar alguma coisa com o relacionamento necessário entre o ser humano e Deus. Acho que esse é outro tipo de abuso para o qual temos de estar atentos. Como pode haver casas especiais para encontrar Deus, se ele está em todo o lugar, e, principalmente, perto de todos os que o invocam? E como pode existir tanta gente de especial relacionamento com Deus, que tem de ser acionada para que Deus possa ouvir o que espera ouvir, se o único mediador entre o Pai Eterno e o ser humano é Jesus Cristo? Sei não, mas acho que tem alguma coisa errada nesse “imbróglio” todo.

Ariovaldo Ramos 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O EVANGELHO COMO SUPERAÇÃO DA RELIGIÃO | Ultimato Jan/Fev 2013

O evangelho é a superação da religião. O cristianismo é uma religião. O evangelho é, portanto, a superação do cristianismo. O silogismo proposto carece de esclarecimentos. Não pode ser compreendido sem uma adequada noção dos conceitos de evangelho e religião.

O sociólogo venezuelano Otto Maduro, em seu livro “Religião” e “Luta de Classes”, define religião como “conjunto de discursos e práticas, referente a seres anteriores ou superiores ao ambiente natural e social, em relação aos quais os fiéis desenvolvem uma relação de dependência e obrigação”.

A definição de Otto Maduro permite identificar dois importantes aspectos do fenômeno religioso: seus fundamentos e sua lógica. Quanto aos fundamentos, a expressão “conjunto de discursos e práticas” aponta para as bases da religião: discursos, ou dogmas – corpo doutrinário; rito, ou práticas litúrgicas; e tabu, ou códigos morais. Considerados esses fundamentos, o evangelho não pode ser classificado como religião.

Embora tenha suas doutrinas e afirmações dogmáticas, a essência do evangelho é o relacionamento com uma pessoa – Jesus Cristo –, e não com um “conjunto de crenças” racional e cartesianamente organizado: “Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Em relação aos ritos e práticas litúrgicas, sabemos que o evangelho extrapola absolutamente o cerimonialismo religioso e torna obsoleto o debate a respeito de onde e como adorar a Deus, pois “Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24). A adoração legítima e autêntica é a consagração da vida como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12.1), em detrimento do que se faz nos templos, até porque “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas” (At 7.48), tendo como morada (Ef 2.20-22) uma casa espiritual construída com pedras vivas (1Pe 2.5).

Finalmente, o evangelho, cujo novo mandamento é amar com o amor do Cristo (Jo 13.34), jamais poderá se classificar como tabu, ou régua reguladora de comportamento moral, pois “no amor não há Lei” (Gl 5.22-23), o que estabelece a proposta cristã como uma nova consciência, baseada na mente (1Co 2.16) e na atitude do Cristo (Fp 2.5-11), que extrapolam qualquer enquadramento moral ou legal.

Considerando as categorias das ciências da religião que encaixam o fenômeno religioso na moldura dos dogmas, ritos e tabus, é surpreendente que o evangelho seja considerado religião. O evangelho é a superação da religião. Não é adesão a dogmas, mas relação mística com o Deus revelado em Jesus de Nazaré; não é celebrado em ritos, mas na dinâmica do Espírito que faz da vida toda uma festa para a glória de Deus; não se restringe à observação de regras comportamentais, mas se estabelece a partir de uma profunda transformação do ser humano, que é arrancado de si mesmo na direção de seu próximo em amor.

A definição de Otto Maduro permite também perceber a lógica inerente ao fenômeno religioso: a “relação de obrigações e benefícios” com os “seres superiores”. A religião se sustenta na lógica da justiça retributiva: o fiel cumpre suas obrigações e recebe a bênção; falha no cumprimento do que lhe compete no contrato com a divindade e em troca recebe o castigo e a maldição. A impossibilidade humana de atingir quaisquer que sejam os padrões definidos pelos deuses, ou mesmo Deus, faz surgir necessariamente o sistema sacrificial. Por definição, o divino está na categoria da perfeição, enquanto o humano, da finitude e da imperfectibilidade moral. Para escapar dos castigos e maldições, a religião oferece os sacrifícios compensatórios, necessários para afastar a ira dos deuses e conquistar seus favores.

O evangelho é a superação das relações de mérito (justiça retributiva) e dos sistemas sacrificiais. Jesus é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29), e inaugura uma nova dimensão de relação entre Deus e os homens, não mais baseada no mérito, mas na graça, a elegante opção autodeterminada de Deus de abençoar “bons e maus, justos e injustos”, pois “Deus é amor” (1Jo 4.8). Aquele que se apropria do evangelho sabe que “Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós”, também “nos dará juntamente com ele, pela graça, todas as coisas” (Rm 8.32), e desfruta a liberdade e a paz com Deus e a paz de Deus (Rm 5.1; 8.1), pois “o amor lança fora todo o medo” (1Jo 4.18).

À sombra da cruz do Calvário, onde o escandaloso amor de Deus é revelado (Jo 3.16; 1Co 1.23), é surpreendente que o evangelho seja encaixotado nas categorias da religião, que tem como fundamento as “relações de obrigações e benefícios”, e sobrevive de enclausurar corações e consciências nos limites estreitos do medo e da culpa.

É urgente a melhor compreensão dos termos que estabelecem a distinção entre o evangelho de Jesus Cristo e o cristianismo compreendido nos termos das ciências da religião. O cristianismo, como sistema religioso organizado e institucionalizado, é culpado do pecado de quebra do terceiro mandamento. O cristianismo, em qualquer período da história e contexto sociocultural, se assemelha muito mais a todos os demais fenômenos religiosos que ao evangelho que pretendeu superar. É uma pena que os cristãos estejam, ainda hoje, exageradamente apegados às discussões e aos debates dogmáticos, aprisionados a cerimoniais ritualísticos templocêntricos e clericais, quixotesca e desnecessariamente ocupados na tentativa de subjugar e controlar moralmente o comportamento social, e tristemente, escravizados pelos sistemas sacrificiais e meritórios, que não fazem mais do que multiplicar as fileiras dos “decepcionados com Deus”.

Chegou o tempo quando homens e mulheres que serão tomados por loucos devem, em plena manhã, acender uma lanterna, correr aos templos cristãos e gritar incessantemente: “Onde estão aqueles que não se envergonham do evangelho?”.

• Ed René Kivitz é pastor da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo.
www.edrenekivitz.com

domingo, 30 de dezembro de 2012

A SIMPLICIDADE DO EVANGELHO E A SOFISTICAÇÃO DA IGREJA por Ricardo Barbosa

O evangelho de Jesus Cristo é simples. Simples na forma e simples no conteúdo. A vida e o ministério de Jesus acontecem num cenário simples. Ele anunciou as boas novas do reino de Deus, demonstrou a presença do reino através de palavras, exemplos, e ações. Convidou pessoas para estarem e aprenderem com ele. Sofreu as incompreensões do sistema religioso e político do seu tempo. Morreu e ressuscitou. Após a ressurreição, encontrou-se com seus discípulos e comunicou-lhes que recebera toda autoridade no céu e na terra, e que, como Rei e Senhor, enviou seus discípulos para anunciarem as boas novas, levando homens e mulheres a guardarem tudo o que ele ensinou, integrando-os numa comunidade trinitária por meio do batismo, e prometeu estar com eles todos os dias, até o fim.

Alguns dias depois, no meio da festa de Pentecostes, 120 discípulos estavam reunidos em Jerusalém, e a promessa de Jesus se cumpriu. Todos foram cheios do Espírito Santo, começaram a viver a nova realidade anunciada por Jesus, saíram alegremente, por todo canto, pregando a boa notícia de que Deus visitou seu povo e trouxe salvação, justiça e liberdade.

A história seguiu e os cristãos foram se multiplicando, organizando igrejas, criando instituições, formas e ritos. Porém, as instituições cresceram e as estruturas se tornaram mais complexas e sofisticadas. Transformaram-se num fim em si mesmas. A simplicidade do evangelho foi substituída pela complexidade institucional.

C. S. Lewis, na carta 17 do livro Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, aborda o tema da glutonaria e afirma que uma das grandes realizações do maligno no último século foi retirar da consciência dos homens qualquer preocupação sobre o assunto, e isso aconteceu quando ele transformou a “gula do excesso na gula da delicadeza”. Para C. S. Lewis, o problema da gula, muitas vezes, não está no excesso de comida, mas na sofisticação, na exigência de detalhes em relação ao vinho, ao ponto do filé ou ao cozimento da massa. Fica impossível atender a um paladar tão sofisticado. A simplicidade do ato de comer dá lugar à sofisticação gastronômica. Pessoas assim, segundo o autor inglês, demitem cozinheiras, destratam garçons, abandonam restaurantes, cultivam relacionamentos falsos e terminam a vida numa solidão amarga.

Como igreja, corremos o mesmo risco. A simplicidade e a pureza do evangelho já não provocam prazer na maioria dos cristãos ocidentais. A sofisticação da igreja, sim. É o vaso tornando-se mais valioso que o tesouro contido nele. Se a música não estiver no volume perfeito, o ar condicionado no ponto exato, a pregação no tempo apropriado, com conteúdo que agrade a todos os paladares e com o bom uso dos aparatos tecnológicos, talvez eu não me agrade desta igreja.

Justificamos a sofisticação com expressões como “busca por excelência”, “relevância”, “qualidade”. Parece justo. O problema é que a excelência ou a relevância do evangelho está justamente na sua simplicidade. É cada vez mais fácil encontrar cristãos que acharam a “igreja certa” do que os que simplesmente encontraram o evangelho. A sofisticação da igreja mantém o cristão num estado de espiritualidade falsa e superficial. A maior deficiência do cristianismo não está na forma, mas no conteúdo.

A verdadeira experiência espiritual requer um coração aquecido e não sentidos aguçados. Precisamos elevar nossos afetos por Cristo, seu reino, sua Palavra e seu povo, e não os níveis de sofisticação e exigências institucionais. O vaso deve ser de barro, sempre. O tesouro que ele guarda, o evangelho simples de Jesus Cristo, é que tem grande valor. A sofisticação produz queixas, impaciência, falta de caridade e egoísmo. A simplicidade sempre nos conduz a compaixão, sinceridade, devoção e autodoação.

Ricardo Barbosa - O Caminho do Coração - Revista Ultimato Jan/Fev 2013
www.ultimato.com.br
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No mesmo tom:

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

DE PAI PRA FILHO | BM

‎"Instrua, ensina, educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele".
Provérbios 22.6

Sabemos este texto de cor, mas o interpretamos muito mal (assim como fazemos com toda a Escritura). A criança aprende não o que dizemos (palavras), mas a olha as nossas atitudes e o que está por trás delas.


Neste documentário uma mãe diz que a filha é mais do que consumista, é super consumista. Onde ela aprendeu isto? Quem é o caixa dela?


Limites, culpa, educação, dinheiro, valores humanos e eternos, sexualidade sadia, amizade, pessoa/gente, trabalho - e Deus com TUDO isso. Precisamos urgentemente dizer as nossas crianças o que essas palavras significam e mostrar com a nossa existência o lugar de cada uma delas.


Não espere um caminho de benção para o seu filho se você não seguir nEle!


"Há caminhos que para o homem parece direito, mas seu fim é de morte".  Provérbios de Salomão - o Homem que sabia disso, falou isso, e terminou trilhando um caminho de destruição. 
Como disse o poeta: "Saber não é o bastante, VIVER é muito mais." 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O QUE SIGNIFICA "ACEITAR A JESUS"? | Ray Ortlund

"Voltaram para Deus, deixando os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro.” (1 Tessalonicenses 1.9)

Você e eu não somos pessoas integradas, unificadas, inteiras. Nossos corações são multidivididos. Existe uma sala de reunião em cada coração. Uma grande mesa, cadeiras de couro, café, água mineral, quadro branco. Um comitê senta-se ao redor da mesa. Há o eu social, o eu privado, o eu trabalhador, o eu sexual, o eu recreacional, o eu religioso, e outros.  O comitê está argumentando, debatendo e votando. Constantemente agitado e irritado. Raramente, eles conseguem chegar a uma decisão unânime, incontroversa. Dizemos a nós mesmos que somos assim porque estamos muito ocupados com nossas tantas responsabilidades. A verdade, porém é: somos simplesmente divididos, hesitantes, cativos e sem foco.

Esse tipo de pessoa pode “aceitar Jesus” de uma de duas maneiras. Um jeito é convidá-lo para o comitê. Dar também a ele o poder de voto. Porém, ele se torna apenas mais uma complicação. O outro jeito de “aceitar Jesus” é dizer a ele: “minha vida não está funcionando. Por favor, entre e demita meu comitê, cada um deles. Eu me deixo todo em suas mãos. Por favor, dirija minha vida inteira para mim”. Isso não é complicação; isso é salvação.

“Aceitar Jesus” não é apenas adicionar Jesus. É também subtrair os ídolos.

Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | http://iprodigo.com/textos/o-que-significa-%E2%80%9Caceitar-a-jesus%E2%80%9D.html
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Mais sobre o Tema:

A SIMPLICIDADE INTERIOR E A VIDA INTEGRADA | Richard J. Foster

domingo, 8 de abril de 2012

A MENSAGEM DA RESSURREIÇÃO por Marcelo Maia

A ressurreição foi a mensagem da igreja primitiva (veja Atos 2.24; 3.15; 3.24; 4.10; 4.33; 5.30 e 32; 10.40; 13.30-33; 17.31). Mas como foi entendida e pregada a ressurreição? O que eles viram e sobre o que estavam falando?

Lembremo-nos que os fariseus, principal grupo religioso da época de Jesus, criam na ressurreição. Inclusive, já haviam testemunhado casos de volta à vida (o filho da viúva, Lázaro).

No que a ressurreição de Jesus difere dos casos anteriores? A ressurreição do Senhor não foi simplesmente a volta à vida de um corpo morto. O que ocorreu foi o surgimento de uma nova ordem de vida, a vida eterna foi incorporada no tempo e no espaço. Aquilo que era apenas uma esperança escatológica havia acontecido debaixo dos narizes de todos.

A proclamação da ressurreição de Jesus pelos discípulos deu à doutrina novas proporções: o corpo glorificado de Cristo e o aparecimento da vida eterna no meio da mortalidade. Daí a causa de tanta oposição relatada em Atos.

O que Deus fez foi trazer para o presente algo reservado para o futuro. Algo que pertencia à esfera da eternidade, havia ocorrido na história.

Maravilhoso isso, não?

Mesmo assim, a ressurreição foi um acontecimento discreto. Jesus não apareceu a Pilatos, nem aos guardas, nem aos judeus. Não anunciou aos poderosos deste mundo sua vitória sobre a morte, não foi pedir contas a Roma nem ao Sinédrio. Apareceu, primeiramente, para mulheres, segundo o relato de Lucas, as testemunhas com menos credibilidade na época, em um dia de trabalho normal. Depois acompanhou dois discípulos, compartilhando o pão com eles ao fim da jornada; também fez uma refeição na praia junto com seus amigos.

Isso nos mostra, segundo a preciosa lição de Eugene Peterson, que nossa formação espiritual, que tem como fundamento a ressurreição de Cristo, dá-se nas situações corriqueiras do cotidiano: comendo, trabalhando, encontrando amigos. Nessas situações Cristo é formado em nós. É a fé vivida no dia-a-dia.

Que Cristo viva em nós, segundo a Sua Palavra!


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Mais do mesmo tema (RESSURREIÇÃO):

Ed René Kivitz em:

MORRER ANTES, VIVER DEPOIS (TEXTO)


MORRER ANTES, VIVER DEPOIS (PREGAÇÃO em MP3 para ouvir)
(Click no link salve, e ouça) 

sábado, 10 de março de 2012

QUE HORRÍVEL É ESSE ESFORÇO? Caio

Jesus disse que o Reino de Deus seria tomado por esforço.

Que esforço há maior do que não fazer esforço?

Que esforço há maior para um homem que se tornar como uma criança?

Que esforço há maior do que aborrecer pai e mãe?

Que esforço há maior do que não pensar em maior ou menor?

Que esforço há maior que encontrar e se contentar com uma só coisa?

Que esforço há maior que a simplicidade?

Que esforço há maior do que não ter justiça?

Que esforço há maior que confiar no nada?

Que esforço há maior do que apenas crer?

Que esforço há maior que morrer para viver?

Que esforço há maior que para ter alma ter que deixar de ganhar o mundo?

Que esforço há maior que aceitar que o grande esforço é descansar, e que a grande ação é não agir sob pressão, e que a melhor ação é ser agido ao invés de agir?

Que esforço há maior que apenas e tão somente se gloriar na Cruz de Cristo?

Que esforço há maior que ser pomba e serpente a um só tempo?

Que esforço há maior que apenas ser?

Que esforço há maior do que aceitar que quando a alma diz que ganhou, o espírito perdeu?

Que esforço a maior do que viver contente sabendo que quando o espírito ganhou é sempre porque a alma sofreu?

O Reino é tomado por esforço apenas porque estamos tomados pela inquietação do fazer para nós, para os outros e para Deus.

Assim, grande é o esforço para se entrar nos ambientes elevadamente interiores do Reino.

Grande é o esforço para deixar a ansiedade e a inquietude, e buscar o Reino em primeiro lugar.

Sim, buscar o Reino não em lugar nenhum, nem como conquista alguma fora de nós, mas apenas e tão somente no mais profundo de nós mesmos.

Pois como é difícil crer que nada há mais acima de mim do que aquilo que há no mais profundo de mim. E como é difícil aceitar o que não se compreende.

Aquele porém que se converter, e se tornar como uma criança, esse entra desde já nos ambientes do Reino, que quanto mais altos são, é porque mais íntimos se tornaram.

O esforço é entregar a presunção!

O ESFORÇO É SE ENTREGAR À GRAÇA, E NÃO RETROCEDER!

Caio Fabio - http://www.caiofabio.net/

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

RECADO AOS MEUS JOVENS FILHOS | Guilherme Kerr

Às vezes me pergunto se consigo mesmo entendê-los. E se eles me entendem. Refiro-me aos meus filhos. De vez em quando ainda os tenho ao redor da mesa do almoço, do jantar. Mais raramente até no café da manhã, num sábado mais preguiçoso... Nesses momentos, quando a gente se descontrai e ri e pára por uns sagrados minutos de cobrar e aferir um ao outro, tenho a sensação gostosa de que a gente se entende e que a comunhão é uma das utopias possíveis no seio da família. Mas só por alguns minutos... Logo a culpa das expectativas não cumpridas deles sobre mim como pai, minha sobre eles como filhos, profana a santidade daquele momento que nos escapa. 

Meus filhos estão saindo da adolescência e entrando na idade adulta. O mais velho caminha para 21 anos de idade, a caçula já beira os 17 e ainda tem duas outras entre estes extremos tão próximos. Gosto de conversar com eles, gosto de tentar entendê-los. Gosto também de me sentir respeitado e amado por eles, o que acontece uma boa parte das vezes! Sinto-me gratificado quando percebo que eles aceitaram um conselho meu, ou quando levam a sério as coisas que considero sérias e importantes. 

Mesmo quando não consigo o tempo ou o espaço ou o melhor espírito para uma boa conversa, penso bastante neles. Sobre cada um: como está lidando com a vida, como está "toreando" suas emoções, como está controlando os seus hormônios, como está equacionando suas questões importantes em um mundo que se torna cada dia mais complexo e em muitos sentidos cruel... Preocupo-me por eles! Como, provavelmente, a maioria dos pais. 

Por conta disso, desse amor entranhado, dessa paixão tecida nos lugares mais inacessíveis da alma, tenho pensado em coisas boas para lhes dizer. Coisas que a gente vem colecionando nessas quase duas décadas de relacionamento a seis; segredos de pais para filhos. Coisas que agora reparto neste improvisado recado: 

O que a gente é vale mais do que o que a gente tem. Às vezes, vocês sabem bem, eu me arrependo de ter escolhido o ministério — este de seguir a Deus como pastor ou no serviço da poesia e da adoração através da música. Às vezes me pego reclamando, dizendo que gostaria de poder ter mais, poder dar mais a vocês, supri-los mais adequadamente, proporcionar uma viagem extra, uma roupa mais bonita, um sapato mais "chique". Às vezes reclamo em voz alta e não tem como não perceber (que bom que vocês me conhecem — é um alívio poder ser eu mesmo). Mas estes meus reclamos não conseguem matar a lucidez que vem do Espírito de Deus — na sua luz nós vemos a luz! E, nos meus momentos de lucidez, me curvo diante do Pai e lhe digo que Ele fez bem em aceitar os meus votos de ministério ("não me dê a riqueza, nem a pobreza, dá-me o pão que me for necessário...", votos que eu "roubei" do sábio Salomão). Digo a Ele que Ele tem feito bem à minha alma e que nos meus melhores momentos eu chego a cantar de tanta alegria. Digo a Ele que apesar do "modismo" da teologia da prosperidade e do "servo" de Deus que é sempre bem sucedido, inclusive financeiramente, eu estou satisfeito e aprendi a viver contente na abundância bem como na escassez. Digo a Ele que Ele mesmo é a minha porção, que Ele é o meu bem maior, o Amado de minha alma e o Senhor da minha vida. Digo a Ele que vocês — minha mulher e meus filhos, minha família — são o meu tesouro mais precioso nesta vida e que, graças ao cuidado dele, — inclusive em não nos dar tudo o que pedimos — temos aprendido a respeitar os outros, a amar e ver com bons olhos os menos privilegiados e a aprender os pirimeiros passos da dependência e da fé genuína — não esta que está na moda, que exige de Deus aquilo que se quer, mas a da Bíblia, que ferece a Deus aquilo que se tem! Acho que vocês já aprenderam a lição número 1 — valemos pelo que somos. Vocês são maravilhosos e preciosos! 

Amar de verdade 'tá cada dia mais difícil. 
Jesus já havia alertado aos discípulos, quase 2.000 anos atrás, mas vale relembrar: "... e por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará!" Vivemos dias maus. As pessoas amam mais a si nesmas do que a Deus. As pessoas amam mais aos prazeres do que a Deus. Muitos amam a Deus da boca pra fora, mas o coração está longe dele. Vivemos dias de muita apostasia. Apostasia é a negação da fé. Às vezes ela é aberta e descarada e fica fácil de perceber. Outras vezes, e sei que vocês já têm percebido isso, ela é encoberta e dissimulada — tem aparência de piedade, fala coisas bonitas, freqüenta a igreja e faz oração, mas é apostasia mesmo assim. Só que é difícil de perceber. Iniqüidade e amor não conseguem formar um bom par. A Iniqüidade entra por uma porta, o amor sai pela outra. Mas quando isso acontece no meio da família da fé, a tendência é a gente ficar magoado, ressentido. Aos pouquinhos a gente vai se tornando cínico — não acredita mais nas pessoas, tem dificuldade de perdoar, de dar uma segunda chance. O amor esfria. Vigiem e orem, façam jejum e lutem com Deus, mas não deixem isso acontecer com vocês: "De tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, pois dele procedem as fontes da vida!" Como Satanás vem sempre para roubar, matar e destruir, sua mira predileta á o nosso coração. Cuidem do seu coração. Peçam sempre a Deus discernimento para perceber o mal e afastar-se dele. "Sejam inocentes para o mal, excelentes na prática do bem e o Deus da paz em breve esmagará Satanás debaixo dos pés de vocês." 

Corpo e alma são duas faces da mesma moeda. 
Sei que isso parece "chover no molhado" ou preocupação excessiva de pai (e mãe, porque neste ponto sou o porta-voz dela...). Vivemos hoje um novo surto de neoplatonismo. (Sei que vocês ainda não conhecem nem têm muito interesse por Platão, mas um dia terão. É tudo uma questão de tempo!) Para os neoplatonistas, o espírito (ou alma) era bom e tudo que a ele se referisse. O corpo (ou matéria) era mau. Isso gerava uma de duas atitudes: o "ascetismo", que submetia o corpo a toda disciplina para que seus impulsos maus não atrapalhassem a jornada da alma a caminho de Deus; ou o "hedonismo", que liberava o corpo para fazer o que bem quisesse e deleitar-se nos prazeres da "carne" — afinal o corpo não prestava mesmo para nada. Hoje, acreditem se quiserem, ainda vivemos este mesmo conflito. Até no meio das igrejas. O ascetismo toma a forma de um farisaísmo exagerado, cheio de regras — faça isso, não faça aquilo, não toque nisso, não, não, não — é a religião das regras e dos nãos. Raramente alguém lhe diz uma coisa positiva e boa que você deve fazer! O hedonismo certamente, hoje em dia, especialmente nos ambientes que vocês frequentam é mais comum — está cheio de meninos nas nossas melhores igrejas que vivem um relacionamento sexual de total intimidade com a namorada da vez (e vice-versa), e que dirigem o louvor; estão "numa 'nice'” com Deus. 

O evangelho não faz esta separação acentudada entre corpo e alma. Seguindo a tradição hebraica, o homem é percebido como "alma vivente" ou "corpo habitado por uma alma". O que faço com o meu corpo afeta a minha alma e o meu psiquismo (alma em grego é "psique"). A relação de minha alma com Deus não se dá apenas em nível espiritual — ela ganha concretude, ela se manifesta no meu culto racional, no qual ofereço o meu corpo ao serviço de Deus, um sacrifício que Ele considera aceitável, que Ele recebe com alegria. Por conta disso, evitem os dois extremos — não adianta tentar matar o corpo, sonegar seus clamores, ou se esforçar para "fugir das paixões" por meio de regras ou rigorosa disciplina ascética. Primeiro porque é inútil. Segundo porque é presunçoso. Terceiro porque é tarefa impossível sem a graça de Deus. Não adianta também entregar o corpo ao diabo (na esperança de que a alma acabe ficando com Deus, por exclusão) — neste caso fica "pior a emenda do que o soneto". Sigam a tradição hebraico-cristã-evangélica: corpo e alma ao serviço de Deus; corpo e alma ao serviço do próximo; corpo e alma no culto e na comunhão da igreja; corpo e alma na relação conjugal. Cama e alma, em algum lugar devem ter a mesma raiz. Assim, sendo o mais claro possível: deixem para ir para a cama com aquele que for o seu companheiro de alma, no caso das meninas, e companheira de alma, no caso dos meninos, um relacionamento aceito publicamamente diante dos homens, confirmado humildemente diante do altar de Deus. Sei que vocês já tem ouvido bastante esta lição 3. Mas... "quem tem ouvidos para ouvir, ouça!" E que Deus os abençoe. 

Beijão do pai. 


• Guilherme Kerr Neto é músico e pastor da Comunidade Cristã Koinonia, em Campinas, SP.

http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/252/recado-aos-meus-jovens-filhos