"Temos esta Esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus que nos precedeu, entrou em nosso lugar..." (Hebreus 6.19,20a)
Um cristão verdadeiro é uma pessoa estranha em todos os sentidos. Ele sente um amor supremo por alguém que ele nunca viu; conversa familiarmente todos os dias com alguém que não pode ver; espera ir para o céu pelos méritos de outro; esvazia-se para que possa estar cheio; admite estar errado para que possa ser declarado certo; desce para que possa ir para o alto; é mais forte quando ele é mais fraco; é mais rico quando é mais pobre; mais feliz quando se sente o pior. Ele morre para que possa viver; renuncia para que possa ter; doa para que possa manter; vê o invisível, ouve o inaudível e conhece o que excede todo o entendimento"...
Jesus disse que deseja que a nossa alegria, a alegria dos discípulos do Evangelho, dos seguidores da Palavra da Vida, seja alegria completa; não em parte, mas plena; assim como plena, diz Ele, deve ser a nossa vida; visto que Ele, de Si mesmo, dizia a nós: “Sem mim nada podeis fazer” — deixando-nos desse modo claro que a certeza de que nossa alegria só pode vir de nossa relação de implante Nele.
No lugar no qual Ele disse que deseja que nossa alegria seja completa [João 17], Sua referencia a completude de nossa alegria se vincula à nossa confiança em Deus, pela qual temos com Ele a intimidade de pedir em oração, sobretudo se a disposição do coração é permanecer na Sua Palavra; assim como um ramo sadio e frutuoso de uma videira só continua sadio e frutuoso se permanecer ligado ao tronco da videira.
A oração [...] pode ser nossa grande fonte de alegria!
Todavia, não existe nenhum poder na oração em-si...
Oração não é mandinga e nem macumba...
Digo: oração a Jesus [...] não o é!...
Sim, pois oração a Jesus, mesmo que use o nome de Jesus, só é oração em Jesus e para Jesus... — se for em conformação à Palavra de Jesus, ao Evangelho; posto que orações feitas a Jesus, em nome de Jesus, mas fora do espírito do Evangelho, fora do ensino de Jesus, longe do mandamento do amor e do perdão, afastadas do sentido do que Jesus chama vida e valor diante de Deus, não são orações a Deus, mas àquele que ama o ódio, o capricho, a magia, a manipulação, o culto à própria vontade, à necessidade psicológica carrega de morte e perversão, a mentira, a vingança e a hipocrisia..., que é o diabo.
Jesus, no entanto, mandou que orássemos mais do que nos mandou fazer qualquer outra coisa!...
Além disso, Ele disse que a oração que acontece em paz e submissão à vontade de Deus e segundo o espírito do Evangelho, sempre será ouvida; e sempre trará até nós a certeza e a demonstração de nossa amizade com Deus pela obediência em fé ao Evangelho; posto que os verdadeiros amigos de Deus, os que pedem e recebem, são amigos de Deus apenas porque demonstram seu amor e fé pela permanência no mandamento do amor, que é o sentido do Evangelho.
Desse modo Jesus ensina que a oração é o fator mais simples e prático de experiência de alegria espiritual, quando se ora com amor e submissão, quando se pede com confiança, quando se intercede com amizade e ardente amor fraterno, quando mesmo desejando algo, e pedindo algo com clareza especifica, ainda assim não se faz a esperança escrava do desejo pessoal, pois apesar de se pedir, pede-se Àquele que sabe o que nos será melhor...; coisa que o mais esclarecido de nós está longe de saber.
Você tem medo de orar?...
Pergunto por que a maioria dos crentes que eu conheço só ora em vigília ou reunião de oração, pois, na solitude [...] não crêem que serão ouvidos; posto que fiam-se no “ajuntamento dos que oram” como se fosse um poder-em-si... — e isto porque não têm amizade com Deus, posto que pessoalmente saibam que não mantêm nenhuma amizade com Jesus pela obediência ao Evangelho e ao mandamento do amor, do perdão e da misericórdia.
Sim, não crêem em sua amizade com Deus, e, por isto, não oram; posto que temam não receber; visto que somente pensem em resposta às suas orações como atendimento aos seus caprichos, os quais, são egoísmos oferecidos como petição ao Pai.
Daí temerem orar sozinhos...
Daí precisarem da oração grupal como elemento de força aos seus pedidos pessoais...
Pense nisso! Nele,
Caio 22 de setembro de 2009 Lago Norte - Brasília - DF
Estava , hoje cedo, lendo devocionalmente o Salmo do Dia, 84 , na versão A Mensagem, de Eugene Peterson :
“Que bela casa, Senhor dos Exércitos de Anjos! Eu sempre quis morar num lugar assim. Sempre sonhei com um quarto em sua casa, Onde eu pudesse cantar de alegria ao Deus vivo! (…) Um dia passado em tua casa, neste lindo lugar de adoração, é melhor que várias temporadas nas ilhas mais belas. Prefiro esfregar o chão da casa do meu Deus a ser honrado no palácio do pecado …”
Nesse tempo cada vez mais secularizado, pós-cristão, sem-Deus , e, por isso mesmo, cada vez mais individualista, oco, ensimesmado e , de tanta auto-fixação, neurótico , quando a igreja se parece um senhor anacronismo patético, uma debilidade piegas de gente fraca, atrasada , eis que eu levanto minha voz cansada, mas insistente - a voz dos profetas - e insisto : um dia no santuário- reunião de gente santa, em torno de um Deus santo, por meio da Palavra santa e do Espírito Santo - vale mais do que mil dia na alienação das redes sociais, da contemplação de vitrines de shoppings, da inútil fuga nos viciantes seriados-novelinhas americanas ( famílias ridículas, médicos sádicos, detetives cínicos, psicopatas romantizados, vampiros , zumbis … ).
Encontrar os amigos e falar de Jesus e com Jesus. Ouvir e responder a sua voz, nas Escrituras, sempre sagradas, sempre atuais, sempre alimento e luz, vida e significado. É isso. É isso que faço uma, duas, três noites por semana.
E não me canso - por Deus, não me canso mesmo !
Não pode ser um peso abraçar as pessoas, experimentar a Presença Santa do Eterno, ouvir das pessoas : seus sonhos, suas buscas, suas histórias. Não se trata de “estar enfurnado na igreja, feito beato”, mas de não abrir mão da vida-em-comunidade. Há dois mil anos que esse milagre se repete, se repete, se repete - mudança de vida. Gente que via pra si de repente “passa a seguir o ensino dos apóstolos, a vida em comunidade, a refeição comunitária e a prática da oracão”( Atos 2.42 ).
Reunião é uma re-união: unir de novo. Reinterar o vínculo. Reforçar os laços, o compromisso mutuo, a amizade sólida. Saía dessa. Saia dessa armadilha do individualismo tecnológico: nenhum post se compara a um abraço olho-no-olho, nada que se compartilha no mural virtual se aproxima da experiência de ouvir a voz do irmão chorando suas dores ou rindo suas alegrias. A glória de Deus é compartilhar.
Não venha/vá para o santuário ( reveja a definição acima : reunião ) por peso ou culpa. Venha se tiver saudade. De Deus, dos amigos e do seu próprio coração.
Tenho percebido que essas são palavras difíceis para algumas pessoas, e fáceis para outras. E o que está por trás dessas atitudes me intriga.
Parece que algumas pessoas têm uma grande capacidade de “deixar pra lá”, de relevar uma ofensa, de esquecer um agravo. É como se não se apegassem às coisas. Na hora da perda, não sofrem muito. Porém, não lutam tanto pelo que acham importante. Sem luta, não há vitória.
Outras parecem incapazes de abrir mão. Então, tudo o que a vida lhes tira, produz a dor de um assalto, de uma violência.
Entre estas últimas, as que mais me chamam atenção são aquelas que não “abrem mão” de suas razões. Seja em uma simples conversa, que acaba em discussão, seja em uma questão de direito, apegam-se às suas razões até às lágrimas. E se, após muitas lutas, essas coisas lhes são “tomadas”, entram em desespero de morte.
As pessoas do primeiro grupo sofrem menos, por não se apegarem demasiadamente. Não lutam tanto, não retêm tanto. Não perdem muito, mesmo quando são abusadas.
Entretanto, conheço gente que é capaz de se lembrar de todas as violências sofridas ao longo da vida. Coisas que lhes foram tiradas, batalhas perdidas, conversas encerradas, desconsiderações, injustiças, votos vencidos, estão todos lá, no depósito de passivos, de haveres, aguardando ressarcimento.
Sim, a vida (que acaba assumindo nomes de pessoas) lhes deve. Se algo nunca foi entregue, então lhes foi tomado. Se nunca foi perdoado, ainda é “dívida ativa”. Se nunca foi esquecido, está registrado para oportuna cobrança.
Talvez uma pessoa assim considere aquele que “deixa pra lá” um leviano. E talvez o que releva e esquece considere aquele que não “abre mão” um infeliz briguento.
Lembro-me de ter “deixado pra lá” direitos de consumidor, só para não arranjar briga. Porém, lembro-me de ter “pendurado” ofensas, aguardando o pedido de desculpas. Recordo-me de ter dado razão a quem não a tinha, para preservar a amizade, e de ter “aberto mão” da amizade por não achar justo “deixar barato”.
Certa vez, deparei-me com uma frase usada em um curso para noivos: “O que você prefere: ter razão ou ser feliz?” -- como que a dizer que, se eu quisesse ter sempre razão, seria infeliz! Será que essa pergunta não nos ajudaria a definir melhor a qual grupo pertencemos?
Eu confesso: naquele exato momento me descobri preferindo ter razão. E argumentei para mim mesmo que a felicidade, à custa do que é certo, não vale a pena. Senti-me como a formiga invejosa, criticando a alegria “irresponsável” da cigarra.
Nesse momento, ouvi a palavra de Paulo aos coríntios conflagrados: “[...] por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?” (1Co 6.7).
Ocorre-me então que talvez a atitude correta não seja o “deixar pra lá”, mas a entrega. Em vez de esquecer, entrego meus direitos, bens e razões ao reto Juiz. Assim, as coisas não ficarão sem consequência, sem julgamento, sem resposta. Contudo, estarei “deixando pra lá”, em um ato de fé, para ser feliz.
Imagino que, por esse caminho, Deus me acrescentará o orar pelos meus inimigos e me alegrará ao vê-los abençoados.
• Rubem Amorese é presbítero na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília, e foi professor na Faculdade Teológica Batista de Brasília por vinte anos. Antes de se aposentar, foi consultor legislativo no Senado Federal e diretor de informática no Centro de Informática e Processamento de Dados do Senado Federal. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia e Fábrica de Missionários -- nem leigos, nem santos. ruben@amorese.com.br