"Temos esta Esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus que nos precedeu, entrou em nosso lugar..." (Hebreus 6.19,20a)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

FÓRUM CRISTÃO DE PROFISSIONAIS | Afinal, trabalhar para quê?

Em vídeo, o último Fórum Cristão de Profissionais.

O próximo será no dia 13 de setembro e retransmitiremos no Colégio Equipe a partir das 20.00hrs. Mais informações | www.novojeito.com | VENHA ASSISTIR CONOSCO!


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

FORMAÇÃO ESPIRITUAL, O QUE É ISSO? BM

Já faz algum tempo que ando com uma persistente inquietação sobre a qualidade da vida cristã que tenho vivenciado e visto, isso tem haver com a dificuldade de enxergar em mim mesmo e no meu irmão, pelo menos da forma que eu gostaria, o Cristo que nos salvou. Em Romanos 8.29 (um texto muito usado na polêmica da predestinação versus livre-arbítrio, salvação versus condenação eterna) a Palavra de Deus está falando sobre que tipo de caráter que será formado naqueles que creram: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Ser conforme a imagem de Jesus é o destino de todo salvo.

Diante do que entendo ser cristão e da distância em que nos encontramos do ideal, surgem do profundo do meu ser perguntas que não querem se calar, tais como: Porque depois de receber pela fé a salvação e o perdão dos pecados aquela vida abundante (vida eterna) que Cristo nos prometeu parece mais uma utopia do que realidade? Porque se recebemos o Espírito Santo de Deus, que é o selo de nossa redenção e filiação, ainda nos lambuzamos no lamaçal do pecado e caminhamos nas pisadas da desobediência de Saul e não nas de obediência do nosso Senhor?

Lembro-me dos meus primeiros escritos como seminarista, precisamente no primeiro sermão para a disciplina de homilética em que questionava: “O evangelho Segundo Mateus 1:21 diz o seguinte: ‘ela dará a luz a um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles’. Se Jesus veio nos salvar dos nossos pecados, Qual a razão de vermos tantos cristãos doentes e afligidos pelo pecado, vivendo constantemente em derrota? Por que é que tantas pessoas que se dizem convertidas, não produzem frutos, nem mostram com sua vida o exemplo de JESUS CRISTO? Será que estamos formando discípulos do Cristo ressurreto ou estamos formando meros seguidores de uma religião vazia e sem vida?”

Vejo então que persisto numa inquietação bem antiga e assim como Paulo quase que me desespero: Desventurado homem que sou! - e pergunto: Quem me livrará do corpo desta morte? Mas sei, assim como Paulo, que a morte e o pecado já foram derrotados na cruz e os escritos de dívida que eram contra nós foram ali quitados, contudo creio também que existe uma vida melhor do que essa sobre-vivida por milhões de cristãos no mundo inteiro. Sei que existe porque Jesus prometeu. Ele nos disse que nos daria vida abundante, uma vida em que o pecado não é mais vitorioso, mas sim a graça de Deus, e a imagem de Cristo em nós e o seu bom perfume se tornam manifestos.

FORMAÇÃO ESPIRITUAL, O QUE É?

“Pouca fé é necessária para nos levar ao céu, mas muita fé é necessária para trazer o céu a terra”. Esta frase atribuída a Lutero se parece com a oração do Senhor “...Venha a nós o teu Reino” e mostra esta busca de experimentar, agora, a Vida Eterna que Jesus nos outorgou com o advento do Reino de Deus “...A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus” (Rm 8.19). Mas como obter essa vida hoje? Será somente por falta de fé que ela não se manifesta? Alguém já a viveu? Será que existe um método e este serve para hoje? O que faço e como faço? Existe algum segredo, qual é? Alguém já disse que o problema na vida não está em obter as respostas corretas, mas fazer as perguntas certas.

A primeira grande questão é que para fazermos as perguntas certas temos que pensar corretamente, mas como assim? Pensar corretamente neste caso é buscar conhecer dentro das escrituras e da tradição cristã como esse tema é tratado. Após esse conhecimento prévio temos então a missão de contextualizá-lo. Daí poderia surgir uma primeira pergunta: Qual é a minha a formação espiritual? Eu poderia começar dizendo que sou um cristão 'evangélico' que conheceu a Cristo ainda na adolescência, participante
de tais e tais comunidades e que em momentos pontuais foi marcado por experiências espirituais bem significativas. Tudo bem isso é real para mim e você, mas existe por trás destas experiências uma teologia que nos levou a crer, pensar, e ser como somos, será que já paramos para repensá-la à luz deste conhecimento?

Formação espiritual é o processo que nos leva a crer, pensar, ser e agir como agimos. Nos dizeres de A W Tozer: “A mais importante afirmação sobre quem somos é aquilo que acreditamos sobre Deus”. Desta forma TODO mundo tem uma formação espiritual independentemente da religião confessada, inclusive o ateu, pois aqui o mais importante é o conceito que construímos de Deus e como isto nos leva a nos relacionarmos com Ele, consigo mesmo, com o próximo e com a natureza (mundo).
Assim queremos pensar este mesmo conceito de Formação Espiritual dentro da espiritualidade cristã, que passa a ser chamada Formação Espiritual em Cristo ou Cristã. A base são dois teólogos da atualidade que estão conjuntamente desenvolvendo este conceito, são os americanos Richard Foster e Dallas Willard fundadores de uma organização chamada RENOVARE ( www.renovare.org ), que recentemente recebeu uma versão brasileira chamada Renovare Brasil ( www.renovare.org.br ) com o objetivo de contextualizar esta visão com a nossa realidade tupiniquim.

A NECESSIDADE DA FORMAÇÃO ESPIRITUAL EM CRISTO
“No caminho cristão o que importa não é a velocidade com que estamos indo, nem a distância percorrida, mas sim a direção que tomamos”. A W Tozer

Como já vimos todos temos uma formação espiritual que não depende do credo abraçado, mas é por ele influenciado e de certa forma este determinará o tipo de visão que teremos de Deus e por conseqüência de nós mesmos e de mundo. Falando dentro de um contexto essencialmente cristão protestante evangélico como podemos avaliar o que temos feito e vivenciado a luz deste conceito Formação Espiritual em Cristo. Será que essa minha teologia formadora difere em alguma coisa daquilo que a Bíblia e a tradição nos sugere? A grande Comissão (Mateus 28) é o texto básico da teologia da Formação Espiritual em Cristo e o Dallas Willard diz que este tem sido nossa maior contradição por causa de nossa omissão. Um dos seus livros tem o título de A GRANDE (C)OMISSÃO.

O texto de Mateus que narra as últimas palavras de Jesus antes de ser assunto aos céus é a base da missão da Igreja: “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide (indo), portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”. (Mt 28.18-20). A Igreja de Cristo, agência do Reino de Deus entre os homens, tem como principal função fazer discípulos dEle, ensinando-os a guardar TUDO o que Ele ensinou. Prestemos bem atenção não é ensinar o que Ele disse, não somos professores somente, mas assim como Ele fez, precisamos através do viver mostrar como o amor a Deus e ao próximo se manifesta.

sábado, 20 de agosto de 2011

O POSTO DE SALVAMENTO (A parábola da igreja que se tornou irrelevante) - Theodore Wedel

"Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos mas não são, e descobriu que eles eram impostores... Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor. Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio..." Ap 2.2-5





Numa perigosa costa, onde os naufrágios são freqüentes, havia, certa vez, um tosco, pequeno posto de salvamento. O prédio não passava de uma cabana e havia um só barco salva-vidas. Mesmo assim, os membros, poucos e dedicados, mantinham uma vigilância constante sobre o mar e, sem pensar em si mesmos, saiam dia e noite, procurando incansavelmente pelos perdidos. Muitas vidas foram salvas por esse maravilhoso pequeno posto, de modo que acabou ficando famoso.

Algumas das pessoas que haviam sido salvas, alem de várias outras residentes nos arredores, queriam associar-se ao posto e contribuir com seu tempo, dinheiro e esforço para manter o trabalho de salvamento. Novos barcos foram comprados e novas tripulações treinadas. O pequeno posto de salvamento cresceu.

Alguns membros do posto de salvamento estavam descontentes com o fato de o prédio ser tão tosco e tão parcamente equipado. Achavam que um lugar mais confortável deveria servir de primeiro refúgio aos náufragos salvos. Assim, substituíram as macas de emergência por camas e puseram uma mobília melhor no prédio que foi aumentado.

Agora, o posto de salvamento tornou-se um popular lugar de reunião para os seus membros. Deram-lhe uma bela decoração e o mobiliaram com requinte, pois o usavam como uma espécie de clube. Agora, era menor o numero de membros ainda interessados em sair ao mar em missões de salvamento. Assim, tripulações de barcos salva-vidas foram contratadas para fazer este trabalho. O motivo predominante na decoração do clube ainda era o salvamento de vidas e havia um barco salva-vidas litúrgico na sala em que eram celebradas as cerimônias de admissão ao clube.

Por essa época, um grande navio naufragou ao largo da costa e as tripulações contratadas trouxeram barcadas de pessoas com frio, molhadas e semi-afogadas. Elas estavam sujas e doentes e alguma delas eram de pele preta ou amarela. O belo e o novo clube estava em caos. Por isso, o comitê responsável pela propriedade imediatamente mandou construir um banheiro do lado de fora do clube, onde as vitimas de naufrágios pudessem se limpar antes de entrar.

Na reunião seguinte, houve uma cisão entre os membros do clube. A maioria dos membros queria suspender as atividades de salvamento por serem desagradáveis e atrapalharem a vida social normal do clube. Alguns membros insistiram que o salvamento de vidas era seu propósito primário e chamaram a atenção para o fato de serem de que eles ainda eram chamados posto salvamento. Mas por fim estes membros foram derrotados na votação. Foi-lhes dito que se queriam salvar as vidas de todos os vários tipos de pessoas que naufragassem naquelas águas, eles poderiam iniciar seu próprio posto de salvamento mais abaixo naquela mesma costa. E foi o que fizeram.

Com o passar dos anos, o novo posto de salvamento passou pelas mesmas transformações ocorridas no antigo. Acabou tornando-se um clube, e mais um posto de salvamento foi fundado. A história continuou a repetir-se, de modo que, quando se visita aquela costa hoje em dia, encontra-se vários clubes exclusivos ao longo da praia.
Naufrágios são freqüentes naquelas águas, mas a maioria das pessoas morre afogada.

Theodore Wedel - O POSTO DE SALVAMENTO.

domingo, 14 de agosto de 2011

COMBUSTÍVEL ADULTERADO por C S Lewis

DEUS nos criou, inventou-nos com um homem inventa uma máquina. Um carro que tenha sido feito para ser movido a gasolina não funciona direito com outro tipo de combustível. E Deus projetou a máquina humana para funcionar a base dEle mesmo. Ele é o combustível do qual os nossos espíritos devem se alimentar. Não há nenhum outro. Eis por que não é bom pedir a Deus que nos faça felizes do nosso próprio jeito, sem nos preocuparmos com a religião (espiritualidade). Deus não pode nos dar felicidade e paz fora de si mesmo simplesmente porque não existem desse modo. Não há nada parecido com isso.

Eis aqui a chave de toda história. Gasta-se uma energia enorme, civilizações inteiras são construídas, instituições excelentes são arquitetadas; mas toda vez acontece algo errado. Algum defeito fatal sempre leva pessoas egoístas e cruéis ao topo e tudo cai na miséria e ruína. De fato, a maquina está trabalhando sob solavancos. Ela parecia até dado a partida com tudo certo e andado alguns quilômetros, mas depois quebrou. Estavam tentando fazê-la funcionar com o combustível errado. Foi precisamente isso que Satanás provocou em nós, seres humanos.




C. S. Lewis (Um ano com C. S. Lewis, leituras diárias de suas obras clássicas, dia 61)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

MAIS SEMELHANTES A CRISTO por John Stott

Celebrando a vida desse discípulo de Jesus que não está mais entre nós, hoje ele está bem semelhante a Cristo. Obrigado Senhor pela Tua Vida na vida deste teu servo e filho!

...
“Não adianta me darem uma peça como Hamlet ou O Rei Lear e me mandarem escrever algo semelhante. Shakespeare era capaz, eu não. Também não adianta me mostrarem uma vida como a de Jesus e me mandarem viver de igual modo. Jesus era capaz, eu não. Porém, se o gênio de Shakespeare pudesse entrar e viver em mim, então eu seria capaz de escrever peças como as dele. E se o Espírito Santo puder entrar e habitar em mim, então eu serei capaz de viver uma vida como a de Jesus”.

William Temple
Lembro-me muito claramente de que há vários anos, sendo um cristão ainda jovem, a questão que me causava perplexidade (e a alguns amigos meus também) era esta: Qual é o propósito de Deus para o seu povo? Uma vez que tenhamos nos convertido, uma vez que tenhamos sido salvos e recebido vida nova em Jesus Cristo, o que vem depois? É claro que conhecíamos a famosa declaração do Breve Catecismo de Westminster: “O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre”. Sabíamos disso e críamos nisso. Também refletíamos sobre algumas declarações mais breves, como uma de apenas sete palavras: “Ama a Deus e ao teu próximo”. Mas de algum modo, nenhuma delas, nem outra que pudéssemos citar, parecia plenamente satisfatória. Portanto, quero compartilhar com vocês o entendimento que pacificou minha mente à medida que me aproximo do final de minha peregrinação neste mundo. Esse entendimento é: Deus quer que seu povo se torne semelhante a Cristo. A vontade de Deus para o seu povo é que sejamos conformes à imagem de Cristo.

Sendo isso verdade, quero propor o seguinte: em primeiro lugar, demonstrarmos a base bíblica do chamado para sermos conformes à imagem de Cristo; em segundo, extrairmos do Novo Testamento alguns exemplos; em terceiro, tirarmos algumas conclusões práticas a respeito. Tudo isso relacionado a nos assemelharmos a Cristo.

Então, vejamos primeiro a base bíblica do chamado para sermos semelhantes a Cristo. Essa base não se limita a uma passagem só. Seu conteúdo é substancial demais para ser encapsulado em um único texto. De fato, essa base consiste de três textos, os quais, aliás, faríamos muito bem em incorporar conjuntamente à nossa vida e visão cristã: Romanos 8:29, 2 Coríntios 3:18 e 1 João 3:2. Vamos fazer uma breve análise deles.

Romanos 8:29 diz que Deus predestinou seu povo para ser conforme à imagem do Filho, ou seja, tornar-se semelhante a Jesus. Todos sabemos que Adão, ao cair, perdeu muito — mas não tudo — da imagem divina conforme a qual fora criado. Deus, todavia, a restaurou em Cristo. Conformar-se à imagem de Deus significa tornar-se semelhante a Jesus: O propósito eterno de predestinação divina para nós é tornar-nos conformes à imagem de Cristo.

O segundo texto é 2 Coríntios 3:18: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Portanto é pelo próprio Espírito que habita em nós que somos transformados de glória em glória — que visão magnífica! Nesta segunda etapa do processo de conformação à imagem de Cristo, percebemos que a perspectiva muda do passado para o presente, da predestinação eterna de Deus para a transformação que ele opera em nós agora pelo Espírito Santo. O propósito eterno da predestinação divina de nos tornar como Cristo avança, tornando-se a obra histórica de Deus em nós para nos transformar, por intermédio do Espírito Santo, segundo a imagem de Jesus.

Isso nos leva ao terceiro texto: 1 João 3:2: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”. Não sabemos em detalhes como seremos no último dia, mas o que de fato sabemos é que seremos semelhantes a Cristo. Não precisamos saber de mais nada além disso. Contentamo-nos em conhecer a verdade maravilhosa de que estaremos com Cristo e seremos semelhantes a ele, eternamente.

Aqui há três perspectivas: passado, presente e futuro. Todas apontam na mesma direção: há o propósito eterno de Deus, pelo qual fomos predestinados; há o propósito histórico de Deus, pelo qual estamos sendo transformados pelo Espírito Santo; e há o propósito final ou escatológico de Deus, pelo qual seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. Estes três propósitos — o eterno, o histórico e o escatológico — se unem e apontam para um mesmo objetivo: a conformação do homem à imagem de Cristo. Este, afirmo, é o propósito de Deus para o seu povo. E a base bíblica para nos tornarmos semelhantes a Cristo é o fato de que este é o propósito de Deus para o seu povo.

Prosseguindo, quero ilustrar essa verdade com alguns exemplos do Novo Testamento. Em primeiro lugar, creio ser importante que nós façamos uma afirmação abrangente como a do apóstolo João em 1 João 2:6: “Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou”. Em outras palavras, se nos dizemos cristãos, temos de ser semelhantes a Cristo. Este é o primeiro exemplo do Novo Testamento: temos de ser como o Cristo Encarnado.

Alguns de vocês podem ficar horrorizados com essa idéia e rechaçá-la de imediato. “Ora”, me dirão, “não é óbvio que a Encarnação foi um evento absolutamente único, não sendo possível reproduzi-lo de modo algum?” Minha resposta é sim e não. Sim, foi único no sentido de que o Filho de Deus revestiu-se da nossa humanidade em Jesus de Nazaré, uma só vez e para sempre, o que jamais se repetirá. Isso é verdade. Contudo, há outro sentido no qual a Encarnação não foi um evento único: a maravilhosa graça de Deus manifestada na Encarnação de Cristo deve ser imitada por todos nós. Nesse sentido, a Encarnação não foi única, exclusiva, mas universal. Somos todos chamados a seguir o supremo exemplo de humildade que ele nos deu ao descer dos céus para a terra. Por isso Paulo diz em Filipenses 2:5-8: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz”. Precisamos ser semelhantes a Cristo em sua Encarnação no que diz respeito à sua admirável humildade, uma humilhação auto-imposta que está por trás da Encarnação.

Em segundo lugar, precisamos ser semelhantes a Cristo em sua prontidão em servir. Agora, passemos de sua Encarnação à sua vida de serviço; de seu nascimento à sua vida; do início ao fim. Quero convidá-los a subir comigo ao cenáculo onde Jesus passou sua última noite com os discípulos, conforme vemos no evangelho de João, capítulo 13: “Tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido”. Ao terminar, retomou seu lugar e disse-lhes: “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo” — note-se a palavra —
“para que, como eu vos fiz, façais vós também”.

Há cristãos que interpretam literalmente esse mandamento de Jesus e fazem a cerimônia do lava-pés em dia de Ceia do Senhor ou na Quinta-feira Santa — e podem até estar certos em fazê-lo. Porém, vejo que a maioria de nós fez apenas uma transposição cultural do mandamento de Jesus: aquilo que Jesus fez, que em sua cultura era função de um escravo, nós reproduzimos em nossa cultura sem levarmos em conta que nada há de humilhante ou degradante em o fazermos uns pelos outros.

Em terceiro lugar, temos de ser semelhantes a Cristo em seu amor. Isso me lembra especificamente Efésios 5:2: “Andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”. Observe que o texto se divide em duas partes. A primeira fala de andarmos em amor, um mandamento no sentido de que toda a nossa conduta seja caracterizada pelo amor, mas a segunda parte do versículo diz que ele se entregou a si mesmo por nós, descrevendo não uma ação contínua, mas um aoristo, um tempo verbal passado, fazendo uma clara alusão à cruz. Paulo está nos conclamando a sermos semelhantes a Cristo em sua morte, a amarmos com o mesmo amor que, no Calvário, altruistamente se doa.

Observe a idéia que aqui se desenvolve: Paulo está nos instando a sermos semelhantes a Cristo na Encarnação, ao Cristo que lava os pés dos irmãos e ao Cristo crucificado. Esses três acontecimentos na vida de Cristo nos mostram claramente o que significa, na prática, sermos conformes à imagem de Cristo.

Em quarto lugar, temos de ser semelhantes a Cristo em sua abnegação paciente. No exemplo a seguir, consideraremos não o ensino de Paulo, mas o de Pedro. Cada capítulo da primeira carta de Pedro diz algo sobre sofrermos como Cristo, pois a carta tem como pano de fundo histórico o início da perseguição. Especialmente no capítulo 2 de 1 Pedro, os escravos cristãos são instados a, se castigados injustamente, suportarem e não retribuírem o mal com o mal. E Pedro prossegue dizendo que para isto mesmo fomos chamados, pois Cristo também sofreu, deixando-nos o exemplo — outra vez a mesma palavra — para seguirmos os seus passos. Este chamado para sermos semelhantes a Cristo em meio ao sofrimento injusto pode perfeitamente se tornar cada vez mais significativo à medida que as perseguições se avolumam em muitas culturas do mundo atual.

No quinto e último exemplo que quero extrair do Novo Testamento, precisamos ser semelhantes a Cristo em sua missão. Tendo examinado os ensinos de Paulo e de Pedro, veremos agora os ensinos de Jesus registrados por João. Em João 17:18, Jesus, orando, diz: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo”, referindo-se a nós. E na Comissão, em João 20:21, Jesus diz: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio”. Estas palavras carregam um significado imensamente importante. Não se trata apenas da versão joanina da Grande Comissão; é também uma instrução no sentido de que a missão dos discípulos no mundo deveria ser semelhante à do próprio Cristo. Em que aspecto? Nestes textos, as palavras-chave são “envio ao mundo”. Do mesmo modo como Cristo entrou em nosso mundo, nós também devemos entrar no “mundo” das outras pessoas. É como explicou, com muita propriedade, o Arcebispo Michael Ramsey há alguns anos: “
Somente à medida que sairmos e nos colocarmos, com compaixão amorosa, do lado de dentro das dúvidas do duvidoso, das indagações do indagador e da solidão do que se perdeu no caminho é que poderemos afirmar e recomendar a fé que professamos”.

Quando falamos em “evangelização encarnacional” é exatamente disto que falamos: entrar no mundo do outro. Toda missão genuína é uma missão encarnacional. Temos de ser semelhantes a Cristo em sua missão. Estas são as cinco principais formas de sermos conformes à imagem de Cristo: em sua Encarnação, em seu serviço, em seu amor, em sua abnegação paciente e em sua missão.

Quero, de modo bem sucinto, falar de três conseqüências práticas da assemelhação a Cristo.

Primeira: A assemelhação a Cristo e o sofrimento. Por si só, o tema do sofrimento é bem complexo, e os cristãos tentam compreendê-lo de variados pontos de vista. Um deles se sobressai: aquele segundo o qual o sofrimento faz parte do processo da transformação que Deus faz em nós para nos assemelharmos a Cristo. Seja qual for a natureza do nosso sofrimento — uma decepção, uma frustração ou qualquer outra tragédia dolorosa —, precisamos tentar enxergá-lo à luz de Romanos 8:28-29. Romanos 8:28 diz que Deus está continuamente operando para o bem do seu povo, e Romanos 8:29 revela que o seu bom propósito é nos tornar semelhantes a Cristo.

Segunda: A assemelhação a Cristo e o desafio da evangelização. Provavelmente você já se perguntou: “Por que será que, até onde percebo, em muitas situações os nossos esforços evangelísticos freqüentemente terminam em fracasso?” As razões podem ser várias e não quero ser simplista, mas uma das razões principais é que nós não somos parecidos com o Cristo que anunciamos. John Poulton, que abordou o tema num livreto muito pertinente, intitulado A Today Sort of Evangelism, escreveu:

“A pregação mais eficaz provém daqueles que vivem conforme aquilo que dizem. Eles próprios são a mensagem. Os cristãos têm de ser semelhantes àquilo que falam. A comunicação acontece fundamentalmente a partir da pessoa, não de palavras ou idéias. É no mais íntimo das pessoas que a autenticidade se faz entender; o que agora se transmite com eficácia é, basicamente, a autenticidade pessoal”.

Isto é assemelhar-se à imagem de Cristo. Permitam-me dar outro exemplo. Havia um professor universitário hindu na Índia que, certa vez, identificando que um de seus alunos era cristão, disse-lhe: “Se vocês, cristãos, vivessem como Jesus Cristo viveu, a Índia estaria aos seus pés amanhã mesmo”. Eu penso que a Índia já estaria aos seus pés hoje mesmo se os cristãos vivessem como Jesus viveu. Oriundo do mundo islâmico, o Reverendo Iskandar Jadeed, árabe e ex-muçulmano, disse: “Se todos os cristãos fossem cristãos — isto é, semelhantes a Cristo —, hoje o islã não existiria mais”.

Isto me leva ao terceiro ponto: Assemelhação a Cristo e presença do Espírito Santo em nós. Nesta noite falei muito sobre assemelhação a Cristo, mas será que ela é alcançável? Por nossas próprias forças é evidente que não, mas Deus nos deu seu Santo Espírito para habitar em nós e nos transformar de dentro para fora. William Temple, que foi arcebispo na década de 40, costumava ilustrar este ponto falando sobre Shakespeare:

“Não adianta me darem uma peça como Hamlet ou O Rei Lear e me mandarem escrever algo semelhante. Shakespeare era capaz, eu não. Também não adianta me mostrarem uma vida como a de Jesus e me mandarem viver de igual modo. Jesus era capaz, eu não. Porém, se o gênio de Shakespeare pudesse entrar e viver em mim, então eu seria capaz de escrever peças como as dele. E se o Espírito Santo puder entrar e habitar em mim, então eu serei capaz de viver uma vida como a de Jesus”.

Para concluir, um breve resumo do que tentamos pensar juntos aqui hoje: O propósito de Deus é nos tornar semelhantes a Cristo. O modo como Deus nos torna conformes à imagem de Cristo é enchendo-nos do seu Espírito. Em outras palavras, a conclusão é de natureza trinitária, pois envolve o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Jonh Stott, "O Paradigma: Tornando-nos Mais Semelhantes a Cristo”. Sermão pregado na Convenção de Keswick em 17 de julho de 2007
http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=03627




Fonte do original em inglês:






Tradução: F. R. Castelo Branco Outubro 2007