“Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados... satisfazendo as vontades da nossa carne seguindo os seus desejos e pensamentos... éramos por natureza merecedores da ira. Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos... Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus, para mostrar, nas eras que hão de vir, a extraordinária riqueza da sua graça, em bondade para conosco em Cristo Jesus.” Efésios 2:1-7 Quando era jovem, ficava fascinado com a afirmação de Paulo segundo a qual Deus nos fez “assentar em lugares celestiais”. Não sabia exatamente o que isso significava, que lugares eram estes, onde ficavam, mas me parecia algo muito espiritual. Tinha a impressão de que se tratava de um “estado espiritual”, um tipo de arrebatamento que iria me subtrair da realidade terrena e me lançar num espaço abstrato de gozo celestial. Para se alcançar tal estado, era necessário não se importar muito com a vida terrena, mas cultivar uma mística espiritual, algo como fechar os olhos e se deixar levar para os “lugares celestiais”.
Uma grande dificuldade que os cristãos sempre tiveram foi estabelecer uma relação adequada entre a terra e o céu, o temporal e o eterno, o humano e o divino. Levei algum tempo para entender essa linguagem. Ainda encontro dificuldades. Porém, arrisco dizer que esses “lugares celestiais” são o lugar onde o céu e a terra se encontram. O lugar onde a ressurreição de Cristo realiza em nós o milagre divino da verdadeira humanidade.
Na Carta aos Colossenses, Paulo afirma que, uma vez que fomos ressuscitados com Cristo, devemos pensar e buscar as coisas lá do alto, e não aquelas que são aqui da terra (Cl 3.1-3). É um convite para elevar nossos desejos e anseios. Um convite para viver a partir de uma nova realidade. “Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus [...]. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos” (Ef 2.6 e 10). Um convite para não mais vivermos conformados com este mundo (Rm 12.2). A ressurreição de Cristo realizou isto.
Uma onda de frustração, futilidade e falta de sentido vem tomando conta da humanidade. Perdeu-se a noção do que significa ser humano. Os valores e tradições que davam algum sentido ou ordem à vida e à sociedade não existem mais. A família, que sempre foi reconhecida como a “célula mãe” da sociedade, hoje representa a matriz de muitas patologias sociais. A igreja, que simbolizou o eixo moral, encontra-se mergulhada em muitos escândalos. Sem saber o que fazer, somos levados a viver da forma como os outros vivem, empurrados por uma cultura decadente e consumista. A humanidade encolheu.
A mediocridade é uma marca da nossa cultura. Vivemos cercados de celebridades fúteis, políticos inescrupulosos e estúpidos, negociantes ambiciosos e desumanos, religiosos vulgares e narcisistas. Por todo lado que olhamos, não encontramos alguém que nos inspire, que valha a pena imitar, que nos desperte para algo maior, mais sublime, mais real. É claro que eles existem, mas parece que ninguém se importa com eles. O que move a nossa cultura é a vulgaridade.
É num contexto assim que Paulo fala sobre os “lugares celestiais”. É um convite para elevar nossas expectativas, linguagem, anseios e desejos. Elevar, enfim, nossa humanidade à semelhança da humanidade de Jesus Cristo. Os “lugares celestiais” não são esferas abstratas de uma espiritualidade subjetiva, mas a natureza gloriosa da vida que nasce da ressurreição, da vida liberta da presente ordem cultural e elevada a uma nova realidade da qual Jesus é o primogênito.
Somos a nova criação de Deus. Fomos libertos e redimidos da escravidão da futilidade imposta à humanidade pelos pensamentos e filosofias vazias da cultura que nos cerca. A nova criação de Deus, realizada em Cristo, abre as portas para uma realidade nobre e gloriosa, para uma humanidade moldada pela humanidade real de Cristo. Os “lugares celestiais” são a expressão que Paulo usa para descrever essa nova realidade. Fazemos parte dela. Fomos colocados neste lugar pela fé em Cristo e pela participação em sua ressurreição.
Somos tentados, ora por um escapismo subjetivo de uma espiritualidade abstrata que nos afasta da realidade, ora por uma forma de engajamento cultural que nos torna parte deste sistema. A espiritualidade cristã é a expressão da vida de quem foi assentado em lugares celestiais pela fé em Jesus Cristo.
Ricardo Barbosa de Sousa
Fonte: Revista Ultimato da Editora Ultimato
Uma grande dificuldade que os cristãos sempre tiveram foi estabelecer uma relação adequada entre a terra e o céu, o temporal e o eterno, o humano e o divino. Levei algum tempo para entender essa linguagem. Ainda encontro dificuldades. Porém, arrisco dizer que esses “lugares celestiais” são o lugar onde o céu e a terra se encontram. O lugar onde a ressurreição de Cristo realiza em nós o milagre divino da verdadeira humanidade.
Na Carta aos Colossenses, Paulo afirma que, uma vez que fomos ressuscitados com Cristo, devemos pensar e buscar as coisas lá do alto, e não aquelas que são aqui da terra (Cl 3.1-3). É um convite para elevar nossos desejos e anseios. Um convite para viver a partir de uma nova realidade. “Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus [...]. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos” (Ef 2.6 e 10). Um convite para não mais vivermos conformados com este mundo (Rm 12.2). A ressurreição de Cristo realizou isto.
Uma onda de frustração, futilidade e falta de sentido vem tomando conta da humanidade. Perdeu-se a noção do que significa ser humano. Os valores e tradições que davam algum sentido ou ordem à vida e à sociedade não existem mais. A família, que sempre foi reconhecida como a “célula mãe” da sociedade, hoje representa a matriz de muitas patologias sociais. A igreja, que simbolizou o eixo moral, encontra-se mergulhada em muitos escândalos. Sem saber o que fazer, somos levados a viver da forma como os outros vivem, empurrados por uma cultura decadente e consumista. A humanidade encolheu.
A mediocridade é uma marca da nossa cultura. Vivemos cercados de celebridades fúteis, políticos inescrupulosos e estúpidos, negociantes ambiciosos e desumanos, religiosos vulgares e narcisistas. Por todo lado que olhamos, não encontramos alguém que nos inspire, que valha a pena imitar, que nos desperte para algo maior, mais sublime, mais real. É claro que eles existem, mas parece que ninguém se importa com eles. O que move a nossa cultura é a vulgaridade.
É num contexto assim que Paulo fala sobre os “lugares celestiais”. É um convite para elevar nossas expectativas, linguagem, anseios e desejos. Elevar, enfim, nossa humanidade à semelhança da humanidade de Jesus Cristo. Os “lugares celestiais” não são esferas abstratas de uma espiritualidade subjetiva, mas a natureza gloriosa da vida que nasce da ressurreição, da vida liberta da presente ordem cultural e elevada a uma nova realidade da qual Jesus é o primogênito.
Somos a nova criação de Deus. Fomos libertos e redimidos da escravidão da futilidade imposta à humanidade pelos pensamentos e filosofias vazias da cultura que nos cerca. A nova criação de Deus, realizada em Cristo, abre as portas para uma realidade nobre e gloriosa, para uma humanidade moldada pela humanidade real de Cristo. Os “lugares celestiais” são a expressão que Paulo usa para descrever essa nova realidade. Fazemos parte dela. Fomos colocados neste lugar pela fé em Cristo e pela participação em sua ressurreição.
Somos tentados, ora por um escapismo subjetivo de uma espiritualidade abstrata que nos afasta da realidade, ora por uma forma de engajamento cultural que nos torna parte deste sistema. A espiritualidade cristã é a expressão da vida de quem foi assentado em lugares celestiais pela fé em Jesus Cristo.
Ricardo Barbosa de Sousa
Fonte: Revista Ultimato da Editora Ultimato
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