Certa ocasião, jantei na casa de uma família amish (um grupo cristão conservador da América do Norte), e fiquei sabendo de seu processo incomum de escolher um pastor. Naquela parte do país poucos amihs estudam depois da oitava série, e quase ninguém tem formação teológica. A congregação toda vota em qualquer um de seus integrantes masculinos que mostre algum potencial pastoral, e os que recebe pelo menos três votos se sentam ao redor de uma mesa. Cada um deles tem diante de si um hinário e dentro deste hinário escolhido aleatoriamente um dos candidatos encontra um cartão que o designa como o novo pastor. Durante o próximo ano cabe a ele fazer dois sermões por semana, com a duração média de 90 minutos.
“O que acontece se quem receber a indicação não se sentir capacitado?”, perguntei para meu amigo amish. Ele me olhou intrigado e respondeu: “Se ele se sentisse qualificado, nós não o indicaríamos. Queremos um homem humilde, alguém que conta com Deus”.
Não recomendo o método amish de chamado pastoral (embora ele de fato guarde um intrigante paralelismo com o sistema de sorteios do Antigo Testamento), mas o último comentário de meu amigo me fez pensar. Thomas Merton disse certa vez que quase tudo o que esperamos de pastores e sacerdotes - ensinar e aconselhar as pessoas, consolá-las, orar por elas - deveria na verdade ser responsabilidade do resto da congregação. Nos parece que o distintivo da vocação pastoral é ser o homem de Deus, aquele que “é chamado para ser outro Cristo em um sentido mais particular e íntimo que o cristão comum”. O pastor fica como uma espécie de intermediário da misericórdia de Deus, composto pela sua função de pregador e admoestação dos pecadores.
Em nossa fixação por perfis profissionais e competência na carreira, será que não esquecemos da qualificação mais importante de um pastor - a necessidade de conhecer a Deus? Mahatma Gandhi, líder de meio bilhão de pessoas, mesmo no calor de negociações envolvendo a independência da Índia, se recusava a comprometer seu princípio de guardar toda segunda-feira como um dia de silêncio. Ele acreditava que se deixasse de guardar esse dia de nutrição espiritual ficaria menos eficiente durante os outros seis.
Eu me pergunto em que medida nossos líderes espirituais seriam mais eficientes se nós lhe concedêssemos um dia por semana como um tempo de silêncio para a reflexão, meditação e estudo pessoal. Eu me pergunto como nossas igrejas seriam se nós fizéssemos da saúde espiritual do pastor - e não sua eficiência - nossa prioridade número um.
Coluna Back Page (Publicado originalmente em 21 de maio de 2001, na revista Christianity Today)
Do Livro devocioanal SINAIS DA GRAÇA - Mundo Cristão.