"Temos esta Esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus que nos precedeu, entrou em nosso lugar..." (Hebreus 6.19,20a)

quarta-feira, 28 de maio de 2014

O DESERTO E A LIBERDADE por Ricardo Barbosa de Sousa

Não é sem motivo que Deus, logo após libertar o povo da escravidão no Egito, os conduziu para o deserto. A passagem pelo deserto era necessária para ajudá-los a deixar para trás a mentalidade da escravidão e a compreender a nova liberdade que Deus lhes estava oferecendo. Quando damos o nosso sim a Deus, ele sempre nos conduz ao deserto.

O nosso deserto não é igual ao das areias do Neguev ou do Saara. Nosso deserto é o lugar onde somos levados a refletir sobre nossas ilusões, as expectativas infantis que nos mantêm alienados, inclusive de pessoas que amamos; os medos que mascaramos ou sublimamos em nossa busca frenética por realização e entretenimento. No deserto, não temos um caminho claro e seguro, nenhuma distração, nada que nos excite. Nele, o futuro é incerto, nos vemos vulneráveis e fragilizados, e experimentamos a força das trevas interiores do medo.

Por outro lado, o deserto é o lugar do encontro com Deus, da rendição do orgulho e da ilusão de sermos senhores do nosso destino. É o lugar da companhia divina, do silêncio diante de Deus, onde a quietude nos ajuda a reconhecer a presença dele. O silêncio que nos torna mais atenciosos à voz de Deus. Para sermos livres, precisamos nos afastar, por um tempo, do mundo dos homens para entrarmos, a sós, no mundo de Deus. Um tempo no qual as paixões, tensões, pressa, vão, lentamente, cedendo espaço para percebermos a realidade à luz da eternidade e restabelecermos o valor correto das coisas. No deserto, reduzimos nossas necessidades àquilo que é essencial.

A enfermeira americana Bronnie Ware escreveu um livro sobre os “cinco maiores arrependimentos ou lamentos de pacientes terminais”. Depois de acompanhar por vários anos estes pacientes, ela listou aquilo que eles gostariam de ter feito e não fizeram, como: ter mais tempo para os amigos e não ter trabalhado tanto. O deserto deles trouxe uma outra dimensão de suas reais necessidades.

Na solidão do deserto, descobrimos a suficiência da graça de Deus. Teresa de Ávila (1515--1582) descreveu num poema sua experiência no deserto:

Nada te perturbe,
Nada te espante.
Tudo passa.
Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
Quem tem a Deus,
Nada lhe falta.
Só Deus basta.

Nossa necessidade primeira é Deus. De tudo o que aprendemos no deserto, a lição mais importante é que aquilo de que mais necessitamos encontramos na comunhão com Deus. A experiência do deserto nos conduz ao autoesvaziamento, ao desapego dos ídolos que nos oferecem a falsa segurança, e à completa submissão a Deus e aos seus caminhos. Aprendemos a ver a vida desde a perspectiva da eternidade, o que nos ajuda a colocar em ordem nossos valores.

A verdadeira liberdade nasce do deserto. Foi no deserto que Jesus reafirmou a identidade dele e seguiu livre para realizar a missão dele em obediência ao Pai. Não precisou usar nenhum artifício para se autopromover. Foi livre para fazer o que tinha de fazer, assumir a cruz e, no fim, morrer. O deserto nos liberta dos falsos deuses, das mentiras e ilusões que nos fazem pessoas controladoras e manipuladoras. Rompe com a falsa sensação de que temos controle sobre o nosso destino. O deserto nos torna pessoas mais verdadeiras, livres, e mais conscientes de nossa total dependência de Deus.

• Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de, entre outros, A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja.
 
http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/348/o-deserto-e-a-liberdade

sábado, 26 de abril de 2014

EU SOU CRISTÃO! por Carol Wimmer

Quando eu digo “eu sou cristão”,
Não estou gazeteando “eu tenho uma vida exemplar”. 
Eu estou cochichando “eu estava perdido, 
fui achado e fui perdoado”.

Quando eu digo “eu sou cristão”
Não falo disso com orgulho pessoal
Eu estou confessando que sou falho
E, por isso, preciso de Cristo para ser meu guia

Quando eu digo “eu sou cristão”
Eu não estou dizendo que sou forte
Estou confessando que sou fraco e preciso 
da força dEle para seguir

Quando eu digo “eu sou cristão”
Eu não estou falando de sucesso
Estou admitindo que tenho fracassado 
e preciso de Deus para limpar minha sujeira

Quando eu digo “eu sou cristão”
Eu não estou dizendo que sou perfeito 
minhas falhas são demasiadamente visíveis 
mas que no seu amor Deus crê que eu valho a pena

Quando eu digo “eu sou cristão”
Eu ainda tenho problemas.
Eu tenho minhas dores de cabeça
Por isso invoco o seu Nome de poder. 

Quando eu digo “eu sou cristão”
Eu não sou mais santo que você.
Sou apenas um pecador que foi salvo
Que de alguma maneira recebeu a graça divina.

"Tu és o Deus das alvoradas, o Deus das vigílias noturnas, o Deus dos picos das montanhas e o Deus das profundezas dos mares; mas, Deus meu, minha alma tem horizontes mais vastos do que as alvoradas, as trevas mais densas do que as noites da terra, picos mais altos que qualquer montanha, profundezas maiores que qualquer mar. Tu, que és o Deus de tudo isso, sê o meu Deus. Não posso atingir as alturas nem as profundidades; há motivações que não consigo desvendar, sonhos que não posso alcançar — meu Deus, sonda-me".(Oswald Chambers -Salmo 139)

sexta-feira, 14 de março de 2014

O RIVOTRIL E A ORAÇÃO por Ricardo Barbosa


Recentemente a revista “Época” publicou uma matéria sobre o uso do Rivotril, uma droga contra a ansiedade, de baixo custo, que tornou-se o segundo remédio mais vendido no Brasil, atrás apenas do anticoncepcional Microvlar. Segundo a revista, apesar de a droga ser antiga e estar há mais de 35 anos no mercado, nos últimos cinco anos teve uma escalada impressionante de vendas, batendo inclusive analgésicos tradicionais, como Novalgina e Tylenol.

Este dado revela um cenário social preocupante sob vários aspectos. Além dos problemas mencionados na reportagem -- que vão desde o aumento dos transtornos de ansiedade e depressão na sociedade, até os milhões de dólares gastos em publicidade pela indústria farmacêutica, passando pelos atalhos usados por profissionais de saúde que não se preocupam em analisar as causas da ansiedade --, temos um quadro que desafia a fé e o chamado de Cristo.

Vivemos um tempo de muita violência, pressa, competição e medo. As inúmeras expectativas sociais, afetivas e profissionais geram inquietações e frustrações. As mudanças em diversos aspectos da vida acontecem numa velocidade enorme e tornam cada vez mais difícil para a pessoa discernir o que realmente importa e o que é possível. Os anseios internos e externos nos consomem. Amigos que requerem nosso tempo e atenção, projetos não concluídos e outros na fila à espera de tempo para serem considerados. O lar deixou de ser um lugar tranquilo. As várias televisões ligadas, a internet e os celulares transformaram o ambiente doméstico numa extensão da agitação que vivemos todo dia. Cada nova experiência nos traz exigências cada vez maiores.

Nos anos dedicados ao seu ministério público, Jesus trabalhou intensamente, enfrentou situações difíceis, violência e um complexo quadro social, político e econômico. E declarou em sua oração ao final do ministério: “Eu te glorifiquei na terra consumando a obra que me confiaste” (Jo 17.4). Compreender o significado desta declaração nos ajudará a lidar melhor com a ansiedade.

O reverendo Peter T. Forsyth disse em certa ocasião: “O pior dos pecados é a falta de oração”. Por meio da oração nós permanecemos com os olhos e a mente em Deus. Sua ausência intensifica nosso orgulho, e achamos que é possível viver sem Deus. A prática da oração nos preserva numa vida centrada na glória, no reino e na vontade de Deus. Foi assim que Jesus nos ensinou a orar.

Para muitos as tensões e ansiedades do trabalho vêm de chefes e diretores neuróticos. As incertezas do futuro, o ritmo acelerado das mudanças, a superficialidade dos relacionamentos, as exigências públicas e privadas cada vez maiores, são geradores de muita ansiedade. Porém, a oração nos ajuda a manter a vida focada em Deus, e nele aprendemos a descansar e reconhecer o que realmente importa. 

O mundo de Jesus não era diferente; ainda assim, o vemos orando, reconhecendo que havia completado a obra que lhe fora confiada. É claro que, mesmo tendo curado muitos enfermos, outros tantos permaneceram doentes. Devolveu a dignidade a algumas prostitutas, coletores de impostos e endemoninhados, mas muitos continuaram na vil escravidão. Porém, a certeza de ter cumprido a tarefa que o Pai lhe confiara veio do lugar que a oração ocupou em sua vida.

Não podemos mudar a paisagem externa (agitação, competição, violência, consumo), mas podemos mudar a paisagem interna (confiança, entrega, descanso, paz). Uma vez que a paisagem interna é transformada, podemos entrar no mundo agitado da paisagem externa e contribuir para sua transformação. 

Um momento de silêncio, meditação nas Escrituras e oração no início de cada dia muda radicalmente a paisagem interna e nos ajuda a olhar com mais serenidade a paisagem externa. Além desses minutos diários, precisamos nos recolher, pelo menos uma vez por semana, para um inventário pessoal, para ver se temos nos ocupado mais com Deus e sua vontade ou com a tirania das demandas sociais. A oração é o antídoto divino para a ansiedade.


• Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de “Janelas para a Vida” e “O Caminho do Coração”.

http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/319/o-rivotril-e-a-oracao

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Bem e Mal

Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo! 
(Isaías 5.20)

sábado, 8 de fevereiro de 2014

INCITAÇÃO DA MENTE À CONTEMPLAÇÃO DE DEUS por Anselmo de Cantuária (1078)

Eia, vamos, pobre homem! Foge um pouco às tuas ocupações, esconde-te dos teus pensamentos tumultuados, afasta as tuas graves preocupações e deixa de lado as tuas trabalhosas inquietudes. Busca, por um momento, a Deus e descansa um pouco nele. Entra no esconderijo da tua mente, aparta-te de tudo, exceto de Deus e daquilo que pode levar-te a ele, e, fechada a porta, procura-o. Abre a ele todo o teu coração e dize-lhe: “Quero teu rosto; busco com ardor o teu rosto, ó Senhor” (Salmo 27.8).

Eis-me, ó Senhor meu Deus, ensina, agora, ao meu coração onde e como procurar-te, onde e como encontrar-te. Senhor, se não estás aqui, na minha mente, se estás ausente, onde poderei encontrar-te? Senhor, se estás por toda parte, por que não te vejo aqui? Certamente habitas uma luz inacessível. Mas onde está essa luz inacessível? E como chegar a ela? Quem me levará até lá e me introduzirá nessa morada cheia de luz para que ali possa enxergar-te?

Nunca te vi, ó Senhor meu Deus. Senhor, eu não conheço o teu rosto. Que fará, ó Senhor, que fará este teu servo tão afastado de ti? Que fará este teu servo tão ansioso pelo teu amor e, no entanto, lançado tão longe de ti? Anela ver-te, mas teu rosto está demasiado longe dele. Deseja aproximar-te de ti, mas a tua habitação é inacessível. Arde pelo desejo de encontrar-te, e não sabe onde moras. Suspira só por ti, e não conhece o teu rosto. Ó Senhor, tu és o meu Deus e o meu Senhor, e nunca te vi. Tu me fizeste e resgataste, e tudo o que tenho de bom devo-o a ti; no entanto, não te conheço ainda. Fui criado para ver-te, e até agora não consegui aquilo para que fui criado.

(…) E tu, Senhor, até quando, até quando, ó Senhor, ficarás esquecido de nós? Até quando conservarás o teu rosto afastado de nós? Quando iluminarás os nossos olhos e nos mostrarás teu rosto? Quando voltarás a nós? Olha para nós, ó Senhor. Escuta-nos, ilumina os nossos olhos, mostra-te a nós. Volta para junto de nós, a fim de termos, novamente, a felicidade, pois, sem ti, só há dores para nós. Tem piedade de nossos sofrimentos e esforços para chegar a ti, pois, sem ti, nada podemos. Convida-nos, ajuda-nos, Senhor. Rogo-te que o meu desespero não destrua este meu suspirar por ti, mas respire dilatado meu coração na esperança. Rogo-te, ó Senhor, consoles o meu coração amargurado pela desolação. Suplico-te, ó Senhor, não me deixes insatisfeito após começar a tua procura com tanta fome de ti. Famélico, dirigi-me a ti: não permitas que volte em jejum. Pobre e miserável que sou, fui em busca do rico e misericordioso: não permitas que retorne sem nada, e decepcionado. E se suspiro antes de comer, faze com que eu tenha a comida após os suspiros.

Ó Senhor, encurvado como sou, nem posso ver senão a terra: ergue-me, pois, para que possa fixar com os olhos o alto. As minhas iniquidades elevaram-se por cima da minha cabeça, rodeiam-me por toda parte e me oprimem como um fardo pesado. Livra-me delas, alivia-me desse peso, para que eu não fique encerrado como num poço. Seja-me permitido enxergar a tua luz, embora de tão longe e desta profundidade. Ensina-me como procurar-te e mostra-te a mim que te procuro. Pois, sequer posso procurar-te se não me ensinares a maneira, nem encontrar-te se não te mostrares. Que eu possa procurar-te desejando-te, e desejar-te ao procurar-te, e encontrar-te amando-te, e amar-te ao te encontrar.

Ó Senhor, reconheço e te rendo graças por teres criado em mim esta tua imagem, a fim de que, ao recordar-me de ti, eu pense em ti e te ame. Mas ela está tão apagada em minha mente por causa dos vícios, tão embaciada pela névoa dos pecados, que não consegue alcançar o fim para o qual a fizeste, a menos que tu a renoves e a reformes. Não tento, ó Senhor, penetrar a tua profundidade. De maneira alguma a minha inteligência amolda-se a ela, mas desejo, ao menos, compreender a tua verdade, que o meu coração crê e ama. Com efeito, não busco compreender para crer, mas creio para compreender. Efetivamente creio, se não cresse, não conseguiria compreender.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

MELHOR QUE O PLANEJADO

Leitura: Efésios 5:15-21 
…dando sempre graças por tudo… —Efésios 5:20

As interrupções não são novidade. Raramente um dia corre como o planejado.

A vida é cheia de inconveniências. Os nossos planos são constantemente contrariados por circunstâncias além do nosso controle. A lista é longa e sempre mutante. Doenças, conflitos, engarrafamentos, esquecimentos, mau funcionamento de equipamentos, grosserias, preguiça, falta de paciência, incompetência.

O que não podemos ver, no entanto, é o outro lado da inconveniência. Acreditamos não ter outro propósito além de nos desencorajar, dificultar a vida e frustrar os nossos planos. Entretanto, a inconveniência poderia ser o jeito de Deus nos proteger do perigo despercebido, ou poderia ser uma oportunidade de demonstrar a graça e o perdão de Deus. Pode ser o começo de algo muito melhor do que havíamos planejado. Ou poderia ser um teste para verificar como reagimos à adversidade. Seja o que for, mesmo que não conheçamos os motivos de Deus, podemos estar certos do que Ele quer: tornar-nos mais parecidos com Jesus e expandir o Seu reino na terra.

Dizer que através da história os seguidores de Deus encontraram “inconveniências” é eufemismo. Mas Deus tem um propósito. Sabendo disso, podemos agradecê-lo, confiantes de que Ele nos dá uma oportunidade de remir o tempo (Efésios 5:16,20).

—JAL
O que acontece conosco não é tão importante quanto o que Deus faz em nós e por nosso intermédio.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

DEPRESSÃO: UMA MORTE VIVA por Esther Carrenho

Depressão é uma palavra no singular, mas que designa uma série de quadros. Há a depressão leve, a moderada e a chamada grave, ou severa. Há também as depressões que estão relacionadas ao jeito de ser da pessoa. Elas existem, mas não são acontecimentos externos que as desencadeiam – são processos que surgem de dentro para fora. E ainda há as depressões que nem deveriam merecer o nome, já que são reações de tristeza e desencanto por perdas naturais na vida; o desemprego, a saída de um filho de casa, as mudanças de qualquer tipo, a chegada da velhice ou uma doença. Melhor dizendo, tais tipos de quadros merecem mais o nome de "sintomas depressivos", necessários para a elaboração do que se foi e a adaptação à nova realidade. 

Depressão é um assunto praticamente inesgotável. Muito já foi dito escrito e descrito sobre ela, e ainda há muito para ser descoberto. Mas dois aspectos existentes em quase todos os tipos de depressão podem ser considerados positivos. O primeiro é a possibilidade de uma reviravolta na vida. Isto é, a depressão é um alerta de que a forma como a vida acontece já não é mais possível. É como uma luz no painel da existência, indicando que, se providências não forem tomadas, a vida do indivíduo entrará em pane total. Vários fatores podem interferir e provocar um estado de depressão grave, no qual a pessoa perde totalmente o ânimo. O mundo vira todo colorido de cinza; os projetos futuros desaparecem; o sono e o apetite se alteram, a realidade fica distorcida. A disposição e a vontade para atividades sociais somem por completo. Se é que ainda existe algum alivio nesse quadro, este se dá no isolamento e na solidão – e o desejo de morrer é uma realidade constante. É por essa razão que chamo a depressão de "morte viva": há na depressão um gosto de morte, sim, ou porque alguma morte já ocorreu ou porque algum tipo de ruptura precisa ocorrer, para que a pessoa possa viver melhor trilhando novos caminhos. 

O segundo sinal positivo na depressão é que, junto com o inferno que, muitas vezes, é experimentado, há também aspectos positivos a serem adquiridos enquanto se mergulha na noite escura da vida, como se refere São João da Cruz. Lembro-me de uma mulher de 35 anos que acompanhei num período de depressão profunda, durante quase seis meses. Ela podia contar com um marido e com amigos que lhe deram todo o suporte durante o período em que não via razões para continuar viva; e também com um médico, que tratou dela de forma que tivesse condições para rever sua própria vida enquanto enfrentava as trevas da depressão. Quando, finalmente, superou aquela crise, ela concluiu que a agonia profunda que experimentou fez dela um ser humano mais acolhedor e compreensivo para com as pessoas, principalmente diante daquelas que apresentam tristeza, desânimo e vontade de desistir. "Hoje, sou mais amorosa e paciente. É como se o meu espaço interior tivesse se alargado para acolher as pessoas que sofrem", constatou ela. 

As depressões requerem cuidados e atenção; e, na maioria das vezes, medicação adequada pode ajudar em muito. Mas não se pode esquecer que tais situações também cooperam com o amadurecimento e o crescimento, tanto emocional como espiritual. Elias, o profeta, é um bom exemplo disso. Ele experimentou na própria pele um estado com todos os sintomas de uma depressão grave. Deus não o condenou; pelo contrário, quando ele fugia com medo de ser assassinado pela rainha Jezabel, milagres aconteceram na sua vida. Enquanto ele só dormia, a Bíblia diz que um anjo lhe trouxe comida, para que tivesse forças para caminhar até o Horebe. Naquele monte, Deus se manifestou a ele através de uma brisa suave. Elias, então, se apresenta e Deus lhe fala de forma acolhedora e amorosa, esclarecendo que ele tinha tarefas importantes para executar e que não estava sozinho: havia 7 sete mil pessoas que criam como ele e com as quais poderia conviver. 

Até Cristo Jesus experimentou uma tristeza profunda no Jardim do Getsêmani, sentimento tão intenso que o próprio Filho de Deus o definiu como "tristeza de morte". Mas foi assumindo aquela tristeza que ele tomou a decisão final de derramar vida a todos nós, através de sua morte na cruz. Pois que tanto Elias como Cristo sejam nossos estímulos para que, caso a depressão chegue a nós, não caiamos na desesperança!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

ORTODOXIA HUMILDE por Joshua Harris

VASOS DE MISERICÓRDIA

“A mensagem da ortodoxia cristã não é que eu sou certo e que a outra pessoa está errada. A mensagem é que sou errado, mas, apesar disso, Deus encheu-me de Sua graça. Sou errado, mas Deus preparou um meio pelo qual eu posso ser perdoado, aceito e amado por toda a eternidade. Sou errado, mas, apesar disso, Deus mandou Seu Filho, Jesus, para morrer em meu lugar e receber minha punição. Sou errado, mas por meio da fé em Jesus posso ser tornado justo diante de um Deus santo.
Isto é o Evangelho. Isto é a verdade que toda a doutrina cristã celebra. É a verdade que todo seguidor de Jesus é chamado a amar e preservar. E até morrer por ela. É a única verdade sobre a qual podemos edificar nossa vida e fundamentar nossa esperança eterna".
Joshua Harris no Livro Ortodoxia Humilde p.39